Trump não gosta delas, mas Goldman Sachs diz que máscaras podem salvar a economia

Ao reduzir a taxa de infeção, as máscaras podem reduzir a hipótese de um novo confinamento e poupar um corte de 5% no PIB dos EUA, alegam. Presidente norte-americano considera as máscaras "uma faca de dois gumes" e recusa usá-las em público, mas a pressão, até dos republicanos. está a aumentar.

Se o argumento de que salva vidas não é suficiente, talvez o de que pode também salvar a economia possa ser. O banco de investimento Goldman Sachs concluiu que decretar a obrigatoriedade de uso de máscaras em plena pandemia de coronavírus nos EUA poderá evitar um rombo de 5% no Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente norte-americano, Donald Trump, considera as máscaras "uma faca de dois gumes" e recusa usar uma em público apesar de as autoridades de saúde o recomendarem desde abril. Mas a pressão à sua volta aumenta para que mude o comportamento, incluindo da parte de dirigentes republicanos.

"Descobrimos que as máscaras faciais estão associadas a um resultado significativamente melhor em relação ao coronavírus", indicou o principal economista da Goldman Sachs, Jan Hatzius, num estudo publicado na segunda-feira.

Com base na análise das tendências em 125 países, o estudo estima que os casos de coronavírus aumentaram 17,3% por semana onde não existe obrigatoriedade de uso de máscara, mas apenas 7,3% onde esta existe.

Nos EUA, os estados onde as máscaras não são obrigatórias representam dois terços dos novos casos confirmados -- mais de 40 mil esta terça-feira, para os quase 2,7 milhões em todo o país, com 129 mil mortes desde o início da pandemia.

Uma exigência a nível nacional iria levar mais pessoas a usar máscara e reduzir o aumento diário de casos para cerca de 1%, em vez dos 2,9% agora registados.

Indicando que o uso de máscaras se tornou "num tema político e cultural" nos EUA, a Goldman Sachs diz não saber se a obrigatoriedade do uso de máscaras vai ser possível nos EUA. Contudo, diz que gestos nesse sentido das autoridades estaduais e locais, se suficientemente alargados, podem na prática vir a imitar o impacto de uma obrigatoriedade a nível nacional.

"Seja como for, os nossos analistas sugerem que a economia podia beneficiar significativamente de tais gestos, especialmente quando comparada com a alternativa, que é o regresso dos confinamentos alargados", indicaram.

Trump recusa usar

O facto de o presidente recusar usar uma máscara em público é visto como contraproducente pelos especialistas, que consideram que tal gesto prejudica os esforços de saúde pública.

"As máscaras são uma faca de dois gumes. As pessoas tocam nelas. E agarram-nas e vejo-o a toda a hora. Elas entram, tiram a máscara. Agora estão a agarrá-la entre os dedos. E depois põem-na na secretária e depois tocam nos olhos e no nariz", disse o presidente em meados de junho numa entrevista ao The Wall Street Journal.

A porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, defendeu na última segunda-feira que usar ou não é "uma escolha pessoal" do presidente e que Trump encoraja as outras pessoas a tomarem a decisão que considerem melhor para a sua segurança.

McEnany foi questionada sobre o tema depois de Jacksonville, na Florida, que será o novo palco da convenção republicana de agosto, ter tornado obrigatório o uso de máscara. O Partido Republicano tinha alterado o local do evento, previsto inicialmente para Charlotte, na Carolina do Norte, por causa das restrições que tinham sido colocadas aos ajuntamentos públicos.

Vários republicanos começam entretanto a defender também o uso de máscara, à medida que a pandemia alastra nos estados onde o partido está no poder.

"Infelizmente, esta simples prática que pode salvar vidas tornou-se parte do debate político que diz que: se és a favor de Trump, não usas máscara; se és contra Trump, usas", disse o senador republicano, Lamar Alexander, o Tennessee (que não é candidato à reeleição), numa audiência com o principal especialista em doenças infecciosas do país, Anthony Fauci.

O próprio líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, defende agora o uso de máscara, assim como vários jornalistas da Fox News, que Trump tem por hábito ouvir. Estes já sugeriram que seriam um "bom exemplo" se o presidente usasse máscara.

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