Ex-diretor da Elite Models investigado por violações, incluindo de menores

Gerard Marie já tinha sido denunciado há anos mas agora foi aberta uma investigação judicial em França. Há queixas de várias modelos mas ex-marido de Linda Evangelista pode beneficiar da prescrição dos crimes.
Publicado a
Atualizado a

Um ex-diretor de uma das maiores agências de modelos do mundo está a ser investigado por violação e abuso de uma menor, assim como de outras mulheres, anunciaram procuradores franceses esta segunda-feira.

Gerald Marie, ex-diretor europeu da Elite Models, é alvo de uma denúncia de uma ex-jornalista da BBC e de acusações de violação por três ex-modelos, disse a procuradoria de Paris à AFP.

Uma unidade especializada de proteção infantil conduzirá a investigação sobre as alegações de "violação e agressão sexual, bem como da violação e agressão sexual de menor", acrescentou.

A investigação é baseada em queixas apresentadas por mulheres que sofreram alegadas agressões entre 1980 e 1998.

Na época das alegadas ofensas, a Elite Models tinha lançado a carreira de nomes conhecidos como Naomi Campbell, Claudia Schiffer, Cindy Crawford e a ex-mulher de Gerard Marie, a supermodelo Linda Evangelista.

A ex-jornalista da BBC Lisa Brinkworth afirmou que, em outubro de 1998, quando estava encoberta a passar-se por modelo enquanto fazia uma investigação, foi agredida sexualmente por Marie numa discoteca, com o ex-diretor a encostar e empurrar os órgãos genitais contra o abdómen da inglesa.

Brinkworth trabalhava disfarçada num documentário sobre alegações de comportamento sexual impróprio com modelos - muitas delas menores de idade - em certas agências.

A reclamação de Brinkworth é acompanhada por alegações de três ex-modelos de suposta violação por Marie em Paris quando eram adolescentes ou mulheres jovens.

A modelo americana Carre Otis - agora conhecida pelo nome de casada Carre Sutton - acusa Marie de "incontáveis" violações em 1986, quando ela tinha 17 anos, a também americana Jill Dodd de uma violação em 1980, quando tinha 19, enquanto a sueca Ebba Karlsson afirma que foi violada em 1990, quando tinha 20 ou 21 anos.

Pode haver problemas relacionados com prescrição neste processo. De acordo com a lei que limita o número de anos que podem decorrer entre um alegado crime e o início de um processo judicial, a ação penal pode já não ser possível.

Esta é uma das questões a serem determinadas pela investigação, que em França não resulta necessariamente em julgamento.

Brinkworth disse que ficou traumatizada com o suposto ataque, mas foi impedida de se manifestar por um acordo entre a BBC e a Elite em 2001, após um processo por difamação.

A sua equipa jurídica espera que essa restrição à sua manifestação possa ser uma base para contornar o estatuto de limitações.

A advogada de Brinkworth, Anne-Claire Lejeune, saudou o anúncio de segunda-feira pelos procuradores de Paris.

"Esta investigação irá, espero, dar a outros a coragem de falar. Este é um primeiro passo encorajador e um alívio para as vítimas", disse.

Gerard Marie deixou a Elite Models, a maior agência de modelos do mundo, em 2012 e hoje é chefe da agência Oui Management, com sede em Paris.

O documentário de Brinkworth causou agitação quando foi exibido na Grã-Bretanha em 1999. Levou à suspensão de Marie e do colega executivo Xavier Moreau. Mas foram reintegrados mais tarde e a agência avançou com processos sobre a BBC e outras emissoras do programa por difamação.

O documentário, que filmou as atividades de Elite com uma câmara escondida, alegou que modelos menores de idade foram pressionadas a fazer sexo e usar drogas.

A etapa para investigar Marie veio meses depois de uma investigação de assédio sexual ser aberta contra o agente de modelos francês Jean-Luc Brunel, ex-associado do acusado de tráfico sexual infantil Jeffrey Epstein.

Brunel, fundador da Karin Models e MC2 Model Management, é acusado em documentos judiciais americanos de violação e de procurar jovens para Epstein, que foi encontrado enforcado na sua cela de prisão em Nova Iorque no ano passado enquanto aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual.

Em fevereiro, o procurador de Paris, Remy Heitz, disse que as autoridades francesas não descartarão a abertura de investigações sobre crimes que ocorreram fora do prazo de prescrição, para garantir que "não haja vítimas esquecidas".

A AFP não conseguiu falar com o advogado de Marie para comentar. No fim de semana, o ex-chefe da Elite negou "categoricamente" as alegações ao The Sunday Times.

A BBC disse à AFP que não negou o acesso de Brinkworth aos seus arquivos. "Tivemos discussões extensas com os seus advogados para estabelecer como podemos disponibilizar o material. Sempre fomos claros de que a BBC cooperará totalmente com qualquer investigação criminal."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt