Do príncipe André a Bill Clinton. Quem tem medo dos segredos de Epstein?
A morte de Jeffrey Epstein - que se suicidou numa cela da prisão de Manhattan - encerra o processo criminal contra ele, mas não encerra a investigação aos seus amigos e associados que alegadamente sabiam da rede criminosa montada pelo milionário americano. Epstein estava acusado de tráfico sexual envolvendo dezenas de menores de idade entre 2002 e 2005. O procurador-geral William Barr garantiu que o caso vai avançar e que tem na mira todos aqueles que foram cúmplices de Epstein. "Todos os co-conspiradores não devem ficar tranquilos. As vítimas merecem justiça e vão conseguir", disse Barr.
Muitos dos amigos mais próximos de Epstein - onde se contam políticos como Donald Trump e Bill Clinton, socialites e membros da realeza - afastaram-se do empresário após a sua prisão. Mas as testemunhas começam a revelar pormenores sobre cada um deles e Epstein poderá não ter levado para o caixão os seus "segredos".
A acusação federal contra Epstein refere que este dirigiu uma empresa de tráfico na qual abusou sexualmente de raparigas menores de idade entre 2002 e 2005. Os crimes terão sido cometidos nas suas casas em Manhattan e Palm Beach, na Flórida. Terá também pago a algumas das vítimas para recrutar outras vítimas, segundo a acusação.
A acusação alega especificamente que Epstein trabalhou e conspirou com funcionários e associados que facilitaram os crimes, contactando as vítimas e agendando os encontros sexuais destas com Epstein. Três funcionários do milionário ocupam um papel central na acusação, embora os seus nomes não sejam revelados.
Empregado 1, 2 e 3
O "Empregado 1" foi contratado por Epstein para entrar em contacto com as vítimas e organizar as visitas à mansão do empresário em Nova Iorque. De vez em quando pedia aos recrutadores que trouxessem uma menina menor específica para Epstein, diz a acusação.
Os empregados 2 e 3 eram ambos assistentes que trabalhavam para o milionário e que faziam os horários das visitas de cariz sexual de menores na casa de Epstein em Palm Beach.
A "Recrutadora", a "Secretária" e a "Empregada"
Segundo a CNN, Jennifer Araoz, que disse ter sido violada por Epstein quando tinha 15 anos, acusou mulheres não identificadas de estarem envolvidas na rede. São, chamadas de "Recrutadora", "Secretária" e "Empregada". No documento surgem como Jane 1, 2 e 3. A "Recrutadora" facilitava os encontros sexuais e a "Secretária" e a "Empregada" pagavam às vítimas depois das visitas.
Donald Trump
Chegou a dizer de Epstein que era "um tipo fantástico" e "muito divertido de se estar". Epstein fez duas visitas ao clube Mar-a-Lago do presidente norte-americano em Palm Beach, Florida, em 1997 e 2000, e posou em fotos com Trump nas duas ocasiões. O livro de endereços pessoal de Epstein, exposto na comunicação social em 2009, tinha 14 números de telefone de Donald Trump e de membros da sua equipa, conta o Guardian.
Bill Clinton
O ex-presidente Bill Clinton elogiou o milionário pela sua inteligência e atos de caridade. Fê-lo em entrevistas públicas. Há registos de que voou no avião privado de Jeffrey Epstein. O nome do aparelho? "Lolita Express". Clinton negou qualquer relação próxima com Epstein, alegando que se tratava de uma ligação apenas profissional. No entanto, foi encontrada na mansão de Epstein uma grande pintura do ex-presidente Bill Clinton com um vestido azul semelhante ao de Monica Lewinsky, a estagiária da Casa Branca com quem Clinton teve um caso amoroso enquanto estava no cargo, tendo estado à beira da destituição por mentir em tribunal, e de sapatos de salto alto vermelhos.
O retrato, apelidado de "Sparring Clinton", foi criado há sete anos por uma artista satírica australiana como parte da sua tese de mestrado na New York Academy of Art. Petrina Ryan-Kleid disse ao Post que sua escola vendeu a pintura de Clinton durante uma festa beneficente no Tribecca Ball em 2012, mas que nunca soube quem a comprou. Não ficou claro se Epstein esteve no leilão ou se foi ele quem comprou a obra de arte.
Príncipe André
Amigo de longa data de Epstein, a relação dos dois remonta ao início dos anos 90. O par teria sido visto a festejar em St Tropez e na Tailândia. O Palácio de Buckingham negou qualquer comportamento impróprio do Duque de York, depois de entre as mais de 2.000 páginas da acusação contra o milionário ter sido mencionado o nome do filho da rainha de Inglaterra. Virginia Giuffre, a mulher que espoletou o caso de Epstein, disse ter tido relações sexuais com o príncipe André em pelo menos três ocasiões quando tinha apenas 17 anos.
O espanhol El Mundo dá conta, este sábado, que o príncipe está neste momento em Cádiz, num refúgio luxuoso, depois de ter sido tornada pública uma fotografia em que aparece ao lado deVirginia Giuffre e de Ghislaine Maxwell, considerada um dos braços direitos de Epstein no esquema de tráfico sexual de menores. Acompanhado pela ex-mulher, Sarah Ferguson, a viagem do filho da Ranha Isabel II é vista como uma fuga para uma tempestade que pode só agora estar a começar para o membro da realeza britânica.
Alan Dershowitz
Professor em Harvard e famoso por defender clientes famosos como OJ Simpson, também tem ligação a Epstein, segundo a acusação. Dershowitz teria sido identificado como participante da rede sexual do milionário por duas das mulheres envolvidas no caso de 2007 contra Epstein, alegações que na altura Dershowitzrejeitou descrevendo-as como "inequivocamente e completamente falsas".
Ghislaine Maxwell
Filha do falecido magnata da imprensa Robert Maxwell, nunca negou a amizade com Epstein - era difícil, surge em inúmeras fotografias ao lado do empresário. Em documentos arquivados pelos advogados de Virginia Giuffre, uma testemunha disse que Maxwell a recrutou sob o disfarce de um emprego de assistente mas que depois lhe pediu para fazer massagens sexuais a Epstein.
Leslie Wexner
O bilionário dono da empresa de lingerie Victoria's Secret contratou Epstein em 1991 para administrar o seu dinheiro e deu-lhe total poder sobre os seus investimentos e assuntos fiscais. Após o escândalo, Leslie Wexner disse que o milionário tinha "desviado" mais de 46 milhões de dólares da sua fortuna pessoal. "Estou envergonhado por, tal como tantos outros, ter sido enganado pelo Sr. Epstein", escreveu em carta remetida aos curadores da Fundação Wexner. "Lamento profundamente ter-me cruzado no caminho dele", afirmou.