China fecha mais cidades e constrói hospital para travar novo vírus

Pelo menos 13 cidades chinesas, num total de 41 milhões de pessoas, estão isoladas: ninguém sai nem entra. Das 26 mortes contabilizados, todas na China, duas ocorreram muito longe de Wuhan, o foco original da doença
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Numa tentativa de conter a progressão da pneumonia causada por um novo coronavírus, de origem ainda desconhecida, as autoridades chinesas já fecharam pelo menos 13 cidades, onde um total de 41 milhões de pessoas estão agora isoladas.

Aeroportos, estações de comboios e autocarros estão ali encerrados, e os residentes foram aconselhados pelas autoridades a não sair das respetivas áreas de residência. Há notícias também de bloqueio de estradas por parte das autoridades.

Outra nova medida concretizada esta sexta-feira é o encerramento de trechos da Grande Muralha, assim como de monumentos emblemáticos de Pequim. Os túmulos da dinastia Ming e a floresta Yinshan Pagoda serão fechados a partir de sábado, e o Estádio Nacional de Pequim, conhecido como Ninho de Pássaro, construído para os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, está hoje encerrado também.

Nesta altura, o número de casos confirmados ascende a mais de 800, mas há mais 1072 pessoas em observação por suspeita da doença. As vítimas mortais são para já 26, todas na China, mas duas delas ocorreram em regiões que distam milhares de quilómetros do foco original da doença: a cidade de Wuhan.

Os esforços das autoridades chinesas passam também pela construção de um novo hospital em Wuhan, exclusivamente para o tratamento dos casos da nova pneumonia, com abertura prevista para daqui a pouco mais de uma semana. Em campo está já também uma equipa internacional de cientistas, que inclui investigadores chineses e americanos e que está a tentar desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus.

Celebrações do ano novo canceladas em várias cidades

O surto da nova pneumonia não podia ter ocorrido em pior altura, já que estes são os dias da celebração do ano novo lunar, a mais importante festa na tradição cultural chinesa, durante a qual milhões de pessoas se deslocam para estar com a família, favorecendo assim uma potencial - e gigantesca - dispersão do contágio.

Para travar esse alastramento da doença as autoridades chinesas isolaram as cidades onde há maior número de casos e muitas das celebrações foram canceladas.

Encerrada foi também a Disneylândia de Xangai, enquanto em Wuhan decorre a construção de um novo hospital de 25.000 metros quadrados para acolher a pessoas com a nova pneumonia.

Com abertura prevista para daqui a pouco mais de uma semana, a 3 de fevereiro, o novo hospital terá capacidade para mil camas, reunindo recursos médicos para o tratamento isolado dos pacientes, segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua.

​​​​​​Por agora, os doentes estão a ser tratados em vários hospitais e em 61 clínicas em Wuhan, bem como nos hospitais das cidades onde foram declarados casos, de acordo com a mesma agência.

À procura de uma vacina

Há duas décadas, durante a epidemia do síndrome respiratório agudo (SARS, na sigla inglesa), causada por outro coronavírus, surgido igualmente na China, em 2002, e exatamente na época dos festejos do ano novo - essa epidemia causou nesse ano e no seguinte mais de oito mil doentes em 26 países, dos quais quase 800 morreram -, Pequim também construiu propositadamente um novo hospital temporário, o Xiaotangshan, no subúrbio norte da capital.

Esse hospital foi construído em apenas sete dias e tratou um sétimo dos pacientes com SARS do país durante dois meses.

Para combater este novo surto, a China criou também uma equipa nacional de investigação que junta 14 especialistas para definir a estratégia de prevenção e controlo do novo coronavírus, anunciou esta sexta-feira o Ministério da Ciência e Tecnologia

A equipa faz parte do projeto de ciência e tecnologia de emergência daquele ministério, e foi lançada em colaboração com a Comissão Nacional de Saúde do país e de outros departamentos.

O objetivo é dar suporte científico nas áreas de rastreamento, transmissão, métodos de deteção, evolução do genoma do vírus, bem como o desenvolvimento de vacinas.

Em campo está já, aliás, uma equipa que reúne cientistas de três institutos de investigação dos National Institutes of Health dos Estados Unidos e da universidade chinesa de Fudan, em Xangai. Juntos, estão a trabalhar no desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus que, segundo a imprensa americana, poderá iniciar os ensaios clínicos em humanos dentro de três meses.

Um novo vírus de origem ainda desconhecida

Esta semana, na quinta-feira, a Organização Mundial de Saúde decidiu não declarar para já o novo surto como uma emergência de saúde global, mas apenas como emergência de saúde na China, mantendo no entanto a prontidão para reunir a qualquer momento e tomar novas decisões.

Fora da China já foram identificados casos da nova pneumonia na Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Vietname, Taiwan e Estados Unidos, e também em Hong Kong e Macau.

Neste território, a procura de máscaras fez conduziu ao reforço policial junto de farmácias, além de medidas excecionais face ao vírus de Wuhan no território, que registou a passagem de quase um milhão de pessoas nas fronteiras em 48 horas.

Em Portugal, a Direção-geral de Saúde ativou na última quarta-feira os protocolos estabelecidos para este tipo de situações, reforçando no Serviço Nacional de Saúde a linha Saúde 24, através do número 800242424, e a linha de apoio médico, para triagem, a fim de evitar que em caso de eventual contágio as pessoas não encham os centros de saúde e as urgências, estando em alerta o Hospital de São João, no Porto, o Curry Cabral e Estefânia, em Lisboa.

A origem do novo coronavírus, designado 2019-nCoV, é ainda desconhecida. Sabe-se que o surto emergiu em Wuhan, a partir de um mercado de venda de peixe fresco e marisco e outros animais vivos, incluindo espécies selvagens, como morcegos e cobras.

O mais provável é que a fonte original do agente patogénico seja uma das espécies de selvagens, à semelhança do que ocorreu na epidemia de SARS, em que o reservatório do respetivo coronavírus, como depois se verificou, eram as civetas, um tipo de gato selvagem.

Neste novo surto, os resultados preliminares dos estudos que estão a ser feitos, apontam o dedo aos morcegos, mas não excluem que na passagem da barreira de espécies para os seres humanos haja outro animal intermediário. Mas não se sabe qual.

Passando a infetar os seres humanos, o vírus tem potencial para sofrer novas mutações no processo de contágio, tornando-se potencialmente mais virulento e perigoso. Esse é também um dos motivos para as medidas restritivas tomadas pelas autoridades chinesas, na tentativa de travar rapidamente a progressão da nova pneumonia.

Com agências

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