'Cães chacais' aprendem a detetar a covid-19 na Rússia
O centro de instrução canino da Aeroflot tem um total de 69 "chalaikas", raça obtida na época soviética por cruzamentos de cães e chacais, mas que não foi oficialmente registada na Rússia até há dois anos.
Perto de Moscovo, "cães chacais", raça criada por um cientista na época soviética, são treinados para detetar pessoas com covid-19 em aeroportos, enquanto a Rússia regista forte aumento de casos do novo coronavírus.
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No laboratório do centro de instrução canino de Khimki, a noroeste da capital, uma pequena cadela cinza cheira uma dúzia de frascos de amostras de urina.
Posteriormente, o animal designa um deles e como recompensa recebe um pequeno pedaço de carne.
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© Dimitar DILKOFF / AFP
Para aprender a reconhecer o vírus, os cães treinam com a urina por ser "a substância mais pura, sem odores estranhos de cosméticos ou perfume", explica Elena Batayeva, diretora do centro de instrução canino da empresa russa Aeroflot.
Segundo a responsável, o vírus não tem cheiro, mas a urina do doente tem um cheiro diferente. No entanto, não há risco de contágio para humanos ou cães que participam nestes exercícios.
"Os treinadores não trabalham com o vírus. A urina não o contém. Isso foi verificado e confirmado" por investigaadores russos do centro Vektor, na Sibéria, que desenvolve uma das vacinas contra a covid-19, lembra Batayeva, durante a apresentação à imprensa na sexta-feira.
O CEO da Aeroflot, Vitali Saveliev, indicou recentemente que os cães podem detetar um caso positivo de coronavírus simplesmente cheirando a máscara de um passageiro de avião ou uma amostra da sua saliva.

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Este projeto, que visa reforçar a segurança sanitária nos aeroportos, coincide com um forte aumento de casos no país.
Na sexta-feira, foram anunciados 12.126 novos casos, saldo que supera o pico de maio, quando o país estava confinado, o que não ocorre hoje.
Desde o início da epidemia, a Rússia registrou oficialmente 1.27 milhões de casos, 22.257 deles fatais, o que a coloca em quarto lugar no mundo em número de casos.
Raça recriada
O centro de instrução canino da Aeroflot tem um total de 69 "chalaikas", raça obtida na época soviética por cruzamentos de cães e chacais, mas que não foi oficialmente registada na Rússia até há dois anos.
Esses cães, que têm um olfato particularmente sensível, patrulharam nos últimos anos os aeroportos de Moscovo para detetar explosivos.
Num pequeno terreno cercado, uma cadela vermelha, Yara, gira animada em torno de um carro e rapidamente encontra uma caixa de metal que imita o cheiro de explosivos, escondida sob o veículo.
"Estes cães aprendem rápido e são capazes de sentir um cheiro a 1,5 metro de distância", diz Batayeva.

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Inicialmente, os "chalaikas" foram concebidos em 1977 pelo biólogo Klim Sulimov.
"Era uma época em que surgiam os problemas do tráfico de drogas na URSS. Os cães geralmente usados pela polícia (laikas) tinham dificuldade para trabalhar nos climas quentes" das repúblicas soviéticas da Ásia Central, explica Batayeva.
O cientista Sulimov decidiu então cruzar o laika, tradicional guardião das renas no norte do país, com o chacal que vive nas regiões do sul.
Após a queda da União Soviética, a população chalaika praticamente desapareceu, mas os treinadores da Aeroflot decidiram recriar a raça através de novos cruzamentos de cães e chacais.
O chacal "pai" que deu vida a várias gerações de "chalaikas" continua a morar no centro de instrução de Khimki.
Os primeiros resultados desta experiência para detetar o vírus devem ser conhecidos no início de dezembro.