Ataque de Trèbes revela que França continua na mira dos islamitas

Português ferido com gravidade na primeira ação islamita desde outubro de 2017. Atacante queria libertar Salah Abdeslam
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Redouane Lakdim foi levar a irmã mais nova à escola para, em seguida, apoderar-se de um veículo em Carcassonne, tendo ferido o condutor e matado o passageiro. Ainda em Carcassonne, alvejou quatro polícias, ferindo um deles com gravidade, antes de seguir para a vizinha localidade de Trèbes. Aqui, ao entrincheirar-se no Super U, declarou ser militante do Estado Islâmico (EI) e exigiu a libertação do único sobrevivente envolvido na ação terrorista mais mortífera em solo francês, os ataques de 13 de novembro de 2015 em Paris, Salah Abdeslam.

A tomada de reféns durou pouco mais de duas horas (entre as 10.15 e as 13.25, hora portuguesa, mais uma hora em França) e o atacante acabou por ser morto pela unidade especial antiterrorista RAID. Morreram três pessoas. Um português, cuja identidade não era conhecida à hora de fecho desta edição, está gravemente ferido.

O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, chegou a confirmar a morte do cidadão nacional. Mas esta informação foi desmentida pela família, tendo o governante admitido pouco depois que a vítima portuguesa se encontra "gravemente ferida no hospital. Felizmente não pereceu neste atentado terrorista", acrescentou, atribuindo o relato inicial a uma indicação errada das autoridades francesas.

Além dos três mortos, mais o atacante, ficaram ainda feridas 16 pessoas, entre elas um tenente-coronel da Gendarmerie, Arnaud Beltrame, que se ofereceu para trocar de lugar com uma mulher feita refém no supermercado, e dois agentes que participaram no assalto. Na altura do assalto de Lakdim, estariam cerca de 50 pessoas no Super U, com a grande maioria a conseguir escapar.

Lakdim tinha 25 anos, era de nacionalidade marroquina, já cumprira penas, sendo a mais recente de um ano e meio de prisão por crimes de delito comum, tendo saído há um ano e meio, e constava da lista de nomes de potenciais suspeitos de radicalização de carácter terrorista. Estivera preso em 2011.

Era muito ativo nas redes sociais ligadas aos meios salafistas, desde 2014, e há suspeitas de ter realizado uma viagem à Síria.

Para os vizinhos, era uma pessoa "calma" e "simpática", que frequentava regularmente a mesquita, vivendo com os pais e as irmãs. O ataque em Trèbes confirma uma tendência identificada em 2017 pelo Centro de Análise do Terrorismo. Neste ano, "houve 62 incidentes terroristas em países da União Europeia (...), dos quais cinco atentados, seis tentativas e 20 projetos de ataques" em França.

Segundo o ministro do Interior, Gérard Collomb, que se deslocou a Trèbes, Lakdim "passou à ação de forma brusca", sem ter sido identificado um processo de radicalização. Também em Trèbes, o procurador Molins indicou que "pessoa próxima do atacante", com quem "partilhava a sua vida", fora detida preventivamente.

A presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, anunciou que as luzes da Torre Eiffel vão ser desligadas à meia-noite em memória das três pessoas que foram mortas hoje no sul do país durante um ataque terrorista. Hidalgo escreveu na sua conta na rede social Twitter que todos os parisienses estão solidários com as vítimas.

Os ataques terroristas em França já causaram 241 mortos desde 2015, e muitos indivíduos isolados, como Lakdim, continuam a realizar ataques invocando uma ligação ao EI.

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