"A Rússia provou que é uma ameaça à segurança europeia"
Secretário de Estado dos Assuntos europeus polaco, Konrad Szymanski, esteve esta terça-feira em Lisboa. Em entrevista ao DN falou no corte de 23% dos fundos de coesão da Polónia, da crise em Itália e da situação na Zona Euro, dos refugiados e imigrantes, das eleições para o Parlamento Europeu, dos EUA e da Rússia.
Diz que há um problema da perceção que as pessoas têm da UE e das instituições europeias. Foi eurodeputado. Em 2019 haverá eleições para o Parlamento Europeu (PE). Que argumento usaria para convencer os cidadãos europeus a votar?
Não me surpreende que as pessoas não estejam preparadas para votar para o Parlamento Europeu. Não se sabe quem ganha as eleições, o que é invulgar. A nível nacional, temos uma situação clara: vota-se num partido e aquela pessoa é primeiro-ministro. A nível europeu não é possível esse sistema. É menos transparente. É difícil perceber o mecanismo por trás do PE. Eu estive lá 10 anos e acho que o PE não consegue garantir a legitimação do processo. A legitimação democrática é uma questão dos parlamentos nacionais. Porque é o que as pessoas percebem. Essa é a única democracia. A única democracia real que temos na Europa é a nível nacional. A democracia supranacional não é percetível para as pessoas. Não funciona.
Então não precisamos do Parlamento Europeu é isso?
Há várias assembleias. É importante para a parte do debate, das negociações, mas não acredito que as pessoas, um dia, vão perceber e confiar neste processo. Ele é tão decomposto, tão descentralizado, que na verdade não há um vencedor das eleições europeias. Então, a consequência final do ato eleitoral, lamento dizer, é totalmente abstrata. Por isso as pessoas não estão muito disponíveis para participar nestas eleições. Não percebem a relação entre o voto individual e a composição do PE.
Mas esta democracia também não é a mesma que permite que o eurodeputado britânico eurocético Nigel Farage, defensor máximo do brexit, use o Parlamento Europeu como palco para atacar a UE?
É um paradoxo que Nigel Farage seja das poucas pessoas que conseguem ser bem conhecidas em toda a UE. É um paradoxo. Mas em princípio não pode ser recusada a presença de céticos no PE. Isso é a democracia. É aberta. É um paradoxo, claro. A nível nacional é difícil encontrar um exemplo de um deputado eleito num Estado que é contra a existência desse mesmo Estado. É um paradoxo, sim, mas como não é possível limitar a democracia, isso é uma consequência natural.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
"CORTES PROPOSTOS, NÃO SÓ PARA A POLÓNIA, SÃO INACEITÁVEIS"
A Polónia é grande aliada dos EUA. Como vê a forma de fazer política externa do presidente Donald Trump?
Não quero fazer comentários sobre o governo de um país terceiro. O que nos preocupa é a possível tensão entre a UE e os EUA e queremos limitar isso. Em relação ao acordo com o Irão, é algo que nos preocupa. Queremos ser parte da solução para travar esta divergência de opiniões. A UE é parte de algo maior, que é o Ocidente, definição muito familiar.
E em relação às tensões entre os EUA e a Rússia? Os russos estão preocupados com o facto de a Polónia se ter oferecido para ter uma base militar permanente dos EUA. Confirma?
Temos já uma base militar da NATO na Polónia. Queremos ser parte desta arquitetura de segurança da NATO. A Rússia provou, fortemente, que é uma ameaça à segurança europeia nestes últimos dez anos. Há boas razões para adaptar a NATO a esta situação. É preciso ação no Norte de África e no Médio Oriente e também a Leste, por causa da Rússia. A readaptação da NATO não seria provavelmente necessária se Rússia tivesse decidido ser um parceiro construtivo, mas decidiu ser outra coisa. Guerra contra a Geórgia, contra a Ucrânia, disputas comerciais com países vizinhos são desenvolvimentos negativos.
"NÓS PERDEMOS CERCA DE DOIS MILHÕES DE JOVENS POLACOS DESDE QUE ADERIMOS À UE"
Mas acha que a política da UE face à Rússia é coerente? Uns países expulsaram diplomatas russos e ao mesmo tempo a Alemanha aprova um acordo sobre um gasoduto?
É uma contradição, claro. A resposta diplomática no caso Skripal (ex-espião russo envenenado no ReinoUnido) foi relevante e proporcional. O Nordstream 2 é, claro, um mau exemplo, porque significa que, no fim de contas, seremos dependentes da Rússia, no que respeita a nível de importação de energia. A concorrência será limitada nesta parte do mercado também. Com este tipo de políticas estamos a fazer algo contraditório. Mas, no caso da Alemanha, não é nada de novo. Claro que Angela Merkel tem tido um papel positivo nas sanções contra a Rússia. Mas o Nordstream2 vai contra os interesses europeus.