TVI24 faz anos e traz Anabela Neves e Constança Cunha e Sá de volta ao ecrã
Uma das mais antigas jornalistas parlamentares, Anabela Neves, está de regresso à televisão, mas ao canal concorrente de onde saiu. Um comeback não como jornalista - como foi durante 27 anos e até 2020 na SIC e SIC Notícias -, mas na pele de comentadora.
Quem também está de volta à antena, e como comentadora, é Constança Cunha e Sá, que há cerca de um ano saiu dos canais da Media Capital por "uma questão de dignidade, saúde mental e higiene". Em março de 2020, recorde-se, a jornalista e antiga responsável do canal escrevia nas redes sociais que "nunca acabaria a vida profissional a trabalhar para a Cofina. Lamento."
"A Anabela não deixou de ser jornalista, ela é uma das que tem maior conhecimento da política, do país, dos corredores do poder, era a jornalista parlamentar mais antiga do país", explica Anselmo Crespo. O diretor de Informação da estação de Queluz de Baixo explica que o processo foi relativamente simples. "Explicámos o projeto, ela pensou e aceitou. Achou que fazia sentido. A Anabela Neves é uma figura televisiva, é uma pena não estar na TV, por isso lembrámo-nos de a convidar", acrescenta o responsável.
A jornalista e professora universitária volta à antena de segunda a sexta-feira, das 16 às 18 horas, e não estará sozinha. "No formato Os Quatro, estará com a jornalista Ana Sofia Cardoso e os comentadores Filipe Santos Costa e Pedro Santos Guerreiro", antecipa Anselmo Crespo, calendarizando todas estas estreias para sexta-feira, 26 de fevereiro.
O formato, revela ainda Anselmo Crespo, pretende "explicar, contextualizar, enquadrar a atualidade". "Queremos notícias, mas queremos ir pelo valor que acrescentado, criar espírito crítico", acrescenta.
E se Anabela Neves volta à TV com lugar fixo, diário, Constança Cunha e Sá surgirá como uma das comentadoras chamadas à antena sempre que necessário, mas sem a mesma regularidade. A jornalista regressa agora à antena, quando Mário Ferreira consegue, em fim de janeiro, a "não oposição" dos três reguladores - Autoridade da Concorrência (AdC), a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e a Anacom - à Oferta Pública de Aquisição sobre a Media Capital, passo importante no contexto de conflito entre o detentor da Pluris e Paulo Fernandes, dono da Confina, a empresa que detém o Correio da Manhã. "Ela vai fazer comentário político e integra o naipe de analistas que já estão como a TVI 24 como, por exemplo, Paulo Ferreira", explica Anselmo Crespo. Mudanças em tempo de aniversário, sem volume de investimento revelado e que conta, até ao momento, com sobejamente mais contratações masculinas do que femininas.
Dois comentadores fixos, dois comentadores rotativos. A TVI24 quer ocupar o espaço deixado vago ao sábado à noite pelo "O Eixo do Mal", quando o formato da SIC Notícias se mudou para a quinta-feira, no horário até aí ocupado pelo formato "Quadratura do Círculo", entretanto resgatado para a TVI24 como "Circulatura do Quadrado". Por isso, no próximo 27 de fevereiro arranca a "Noite das Facas Longas". "Como o próprio nome indica, a ideia é fazer um programa que fale dos bastidores, que espreite por trás da cortina, que analise com liberdade os temas e com opiniões que não represente as dos partidos", justifica Anselmo Crespo.
A moderação será de Filipe Santos Costa, ex-apresentador do "Expresso da Meia Noite", na SIC Notícias, e contará com a presença regular do socialista Sérgio Sousa Pinto e do comentador e colunista do DN Sebastião Bugalho. "Escolhemo-los porque Sousa Pinto é um dos políticos mais inteligentes, respeitados e com maior conhecimento da política nacional, tem também um lado mordaz, que é o registo que se procura ali. Sebastião Bugalho porque, na geração dele, é interessante, inteligente, culto e achamos que faz sentido esta ligação geracional", justifica Anselmo Crespo. O formato contará com "outros jornalistas, outros atores da vida política nacional e que vão sendo convidados". Mais do que ir contra a concorrência, digladiando horários, o diretor de informação fala na procura de um outro espaço: "Recorde-se que 'O Eixo do Mal' começou aos sábados. Como este 'Noite das Facas Longas' é um programa de nicho, de bolha, desejavelmente, naquele horário, pode interessar a pessoas fora da bolha."
A Circulatura do Quadrado está para ficar às quartas à noite e o novo conteúdo Os Economistas vai, diz Anselmo Crespo, "pôr as empresas e a economia real na TV". "Claro que queremos entrevistar o ministro das Finanças, o governador do Banco de Portugal, os presidentes da banca, mas queremos os CEO, CFOe decisores das companhias, queremos falar da Tesla, da Amazon, mas também do motor da economia, das empresas, que ficam esquecido na voragem do dia-a-dia", acrescenta. Ao sábado de manhã, vai nascer um novo programa de cultura pop - Cool Box - com Maria João e Vítor Moura.
Com o futebol sem público nos estádios, a decisão que ganhou fôlego no verão de ir retirando do ar tantas horas de comentário e análise desportiva dos canais de informação parece estar para ficar na TVI24. "Vamos desinvestir um pouco[nos programas de futebol], mas não abandonar", ressalva Anselmo Crespo, que fala em "fase estranha" das televisões neste capítulo. O "Mais Futebol passa para o domingo à noite, com o regresso do Pedro Ribeiro. "À segunda-feira, às 22:00, chega o "Temos aqui um caso" com Joaquim Sousa Martins e Rui Pedro Brás. Mais Bastidores prossegue.
As fichas estão agora postas na informação após as 23:00, de segunda a sexta. "Vamos criar O Dilema, um formato de debate sobre um grande tema que domina o dia, com opinião livre, sem porta-vozes de partidos e corporações", diz o diretor de informação. Com convidados que ainda não estão totalmente fechados , sabem-se já as escolhas masculinas: Francisco Mendes da Silva e Rogério Alves. "A ideia é haver um painel de comentadores onde estarão mulheres, de sensibilidades diferentes".
A partir da meia-noite, João Pedro Rodrigues assume o Primeira Hora. "Não vai olhar para o dia que passou, mas para o que está a chegar. Vai ter as primeiras páginas, manchetes sites nacionais e internacionais, algum nível de comentários, muito internacional."
Há já algum tempo que quer a TVI 24, quer a RTP Informação tinham deixado cair os espaços de opinião abertos ao público, com a entrada de opiniões dos espectadores para o tema do dia. Anselmo Crespo vai trazê-los de volta à antena, mas com mudanças. Se Rita Rodrigues se vai manter como rostos das manhãs, Raquel Matos Silva vai estar à frente de "Hoje é Notícia", um formato que se debruça sobre um tema do dia e que irá dar a possibilidade de interação com os telespectadores que, mais do que telefone, podem fazer chegar as suas opiniões por WhatsApp, Zoom. "Voltamos, mas com o upgrade das novas tecnologias", afirma.
Com a CMTV a liderar no cabo, sendo canal de informação e entretenimento, a SIC Notícias vence audiências no estrito grupo dos noticiosos. Depois de Pedro Mourinho, Sara Pinto e de Joaquim Franco, agora coordenador da equipa de Grande Reportagem da TVI e subeditor de sociedade, Anselmo Crespo diz que as contratações ao principal concorrente estão fechadas. "Não há mais nenhuma contratação à SIC", responde Anselmo Crespo.
Sobre o embate de audiências na informação, a TVI não tem conseguido impor-se à sua rival, SIC, mas o diretor fala de um caminho de aproximação. "O Jornal das 8 e Jornal da Uma não estão a cair, estão a crescer, não tanto como o concorrente". Anselmo lembra que se trata de "ano de consumo atípico, devido à pandemia e a uma maior presença do público em casa. Porém, acrescenta, "quando aumenta o consumo, ele é para todos e isso é parte da explicação". Diz o responsável que é tempo de afinações porque "a TVI não faz tudo bem, mas a SIC também não". "A SIC perdeu durante 18 anos, a TVI começou em setembro, passaram seis meses - nem isso -, e o caminho que tem feito não tem paralelo", afirma. Na TVI24, prossegue, "a aproximação está a ser mais lenta, o desafio é mais difícil num canal de informação".
Sobre o "Esta Manhã", conteúdo de infotainment matutino com Nuno Eiró e Sara Sousa Pinto, na TVI e TVI24, o diretor recusa falar em perda. Tendo começado por ganhar, tem vindo a perder para a RTP, líder há anos. "Não estava era à espera de tão bons resultados. O estranho é quando um formato arranca com tão boas audiências. Tem vindo a decrescer, mas é um formato novo, demora a consolidar, a ganhar lastro", refere o responsável. "O Bom Dia Portugal é um formato que está no ar há muitos anos e criou o seu espaço. Ter [o Esta Manhã] conseguido superar a audiência que fazia antes e morder calcanhares é um ótimo sinal do que pode vir aí", conclui.