Paulo Ferreira

Começou por marcar golos nos juniores do Estoril e foi devidamente baptizado como 'Jardelzinho' .A adaptação a lateral-direito é da responsabilidade de Agostinho Oliveira .Vai ser pai em pleno Mundial e sonha um dia fazer um safari no Quénia<br />
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Da 'traição' da estreia... ao arroz de marisco

"Campeão da humildade!" É assim que o melhor amigo, Nélson Veiga, o caracteriza, antes de complementar: "Se o deixarem aninhado no seu canto, ele é feliz. Mas depois de conhecer a pessoa, é muito divertido e até prega partidas ." Segundo os amigos, acontece poucas vezes, mas quando Paulo Ferreira abre o sorriso revela tudo o que de melhor há no homem que espera ser pai em pleno Mundial. Sara, a mulher, está grávida de um menino.

Não gosta de se expor e tão-pouco de falar da sua vida íntima ou da forma como se tornou no suporte financeiro de uma família humilde, apesar de ter nascido numa terra abastada (Cascais). Não por vergonha, mas porque a simplicidade e o sentido de família falam mais alto. A timidez e tranquilidade que regem o dia-a-dia do internacional português transformam-se quando entra em campo. No relvado desinibe-se e revela um sentido táctico excepcional que faz com que sejam poucos os adversários que se podem gabar de o ter desfeiteado. A qualidade de passe, aliada à leitura de jogo, que joga nos limites, sem ser faltoso, faz dele um dos melhores laterais-direitos do mundo e um dos mais caros de sempre do futebol português.

A estreia de Paulo Ferreira no plantel sénior do Estoril não foi muito feliz e acabou atraiçoado pelo melhor amigo. " No primeiro jogo dele cometi um penalty e fui expulso e ele foi o sacrificado na substituição seguinte. Ainda hoje nos rimos cada vez que nos lembramos disso", recorda ao DN.

Em Setúbal, Rui Águas utilizou o "Jardelzinho " a médio, um lugar que já tinha descoberto na equipa "canarinha" sob o comando de Isidro Beato. Fazendo um exercício de memória, o ex-benfiquista diz que "nessa altura colocá-lo a jogar a lateral era um desperdício das suas qualidades". E também porque o amigo Nélson era o defesa-direito sadino. Mas uma ida de Paulo Ferreira à selecção de sub-21 mudou tudo.

Agostinho Oliveira chamou-o para um jogo dos sub-21 portugueses com a Holanda e ficou sem o lateral-direito (Ricardo Esteves), devido a lesão. "Tive de improvisar, chamei o Paulo , disse-lhe que as características dele me davam as melhores garantias para o adaptar ao lugar de lateral-direito, tinha bom sentido posicional, colocava-se muito bem em campo, sabia defender e tinha muito bom passe", contou o seleccionador de sub-21, não escondendo a satisfação por Jorge Jesus, 15 dias depois, lhe ter seguido o exemplo no Bonfim.

E foi na qualidade de lateral-direito que despertou o interesse do FC Porto e iniciou uma carreira de sucessos. Os dragões compraram-no ao Vit. Setúbal por dois milhões, mas para o "roubar" a Pinto da Costa foram precisos 20 milhões. Porquê? "Porque com ele qualquer treinador se sente seguro" , respondeu o melhor do mundo, José Mourinho.

As baladas de Celine Dion são, por vezes, trocadas pelo rock dos U2 e pela acção dos filmes de Jackie Chan. Os livros de José Mourinho, Deco, Jorge Costa e Vítor Baía já passaram pela sua mesa-de-cabeceira. Aprecia um bom arroz de marisco e sonha fazer um safari no Quénia. E se não fosse jogador? "Seria médico!"

O 'Jardelzinho' do Estoril virou lateral-direito por excelência

Só lhe falta ser guarda-redes..."Ele chegou como ponta-de-lança. Alto, magrinho e a marcar golos de cabeça daquela maneira, como Jardel fazia no FC Porto, baptizei-o logo de 'Jardelzinho' do Estoril", conta o amigo Nélson Veiga, jogador da Naval. Nessa altura, em 1995, Paulo Ferreira era inseparável de Nélson e Nuno Rodrigues (Imortal). Uma amizade que perdura dez anos depois.

Depois de deixarem o Estoril Praia, o destino voltou a juntar Nélson e Paulo na cidade de Setúbal. Não só partilhavam a casa como as aventuras ao volante de um FiatPunto ou de um CitroënAX. É que naquela altura ainda não se ganhavam fortunas no futebol e partilhavam o carro nas viagem para os treinos ou para Cascais no dia de folga. Em casa "o ambiente era calmo e tranquilo, nada de festas", recorda o amigo, que viria a ser adaptado a defesa-central para que o "Jardelzinho" jogasse a lateral, depois de já ter experimentado o meio-campo.

"A separação custou um pouco", mas Paulo não podia desperdiçar a oportunidade de jogar no FC Porto e "o mundo esperava para o conhecer."

Perfil

Paulo Ferreira
Lateral-direito
Nasceu a 18 Janeiro de 1979 em Cascais

Títulos: Campeão de Inglaterra em 2004/05 e 2005/06; Taça da Liga Inglesa em 2004/05; Supertaça de Inglaterra em 2004/05; Liga dos Campeões em 2003/04; Taça UEFA em 2002/03; Campeão de Portugal em 2002/03 e 2003/04; Taça de Portugal em 2002/03 Supertaça Cândido Oliveira 2003/04

Clubes: Estoril, Vit. Setúbal, FC Porto e Chelsea

Iniciou a carreira nos juniores do Estoril Praia, em 1995, mas um ano depois já fazia parte do plantel principal, então na II Divisão (Liga de Honra). Na época 2001/2002 muda-se para a outra margem do rio Tejo e estreia-se na I Divisão com a camisola do Vitória de Setúbal no jogo com o Marítimo. Na qualidade de lateral-direito despertou o interesse do FC Porto, em 2002, onde em duas épocas ganhou seis títulos em cinco competições diferentes. O título de campeão nacional conquistado em 2002/03 foi apenas o primeiro até chegar à coroação com a faixa de campeão europeu, em 2004, ao serviço dos dragões. Nesse ano também foi eleito o melhor lateral-direito da Europa pela UEFA. E nem o fracasso a nível pessoal no Euro 2004 - substituto de Miguel -, com a camisola das quinas, decepcionou José Mourinho, que o levou para o Chelsea, onde este ano se sagrou bicampeão inglês. Hoje, tem um currículo invejável conquistado lado a lado com Mourinho. Paulo Ferreira é já hoje um sinónimo de títulos.

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