Mark Zuckerberg tinha-se mostrado incerto sobre a forma como o Facebook segue os utilizadores mesmo depois de estes fazerem logout quando foi interrogado pelo Senado norte-americano. Mas no segundo dia de interrogatório, perante a Câmara dos Representantes, o CEO teve de abordar o tema repetidamente e reconhecer que a empresa faz isso.."Monitorizamos informação sobre as pessoas quando não estão no Facebook por razões de segurança e por causa dos anúncios", disse Zuckerberg, respondendo à interpelação do representante do Illinois John Shimkus. Em termos de segurança, a ideia é monitorizar mesmo quando alguém nem sequer tem conta no Facebook e tenta recolher dados públicos da plataforma. "Mesmo que alguém não esteja ligado, monitorizamos a quantas páginas estão a aceder." São os chamados "perfis-sombra", que Zuckerberg não negou existirem mas se recusou a reconhecer frontalmente. Mais tarde, o executivo não soube dizer ao congressista Steve Scalise se estes dados também são usados para fins comerciais..No que toca à monitorização para anúncios mesmo depois de fazer logout, a justificação é que a plataforma de publicidade do Facebook não se limita ao ecossistema da rede social. O CEO garantiu que as pessoas podem controlar essa parte e negar o acesso..Esta questão regressou várias vezes. Kathy Castor, da Flórida, tentou forçar Zuckerberg a admitir que o Facebook recolhe dados de toda a gente, desde as compras que fazem a informações médicas, numa escala muito maior do que qualquer utilizador se apercebe. "Discordo dessa caracterização", retorquiu o CEO. "A forma primordial como o Facebook funciona é que as pessoas escolhem partilhar dados.".Mais tarde, Ben Luján, do Novo México, foi ainda mais incisivo e pressionou Mark Zuckerberg sobre o facto de o Facebook ter dados sobre pessoas que não têm uma conta na rede social. "Fazemo-lo por questões de segurança", repetiu o CEO. Luján perguntou quantos tipos de dados a rede tem de cada pessoa e Zuckerberg não sabia, mas o representante elucidou o CEO: de 1500 a 29 mil..Uma das questões mais insistentes foi a de que dados estamos realmente a falar. Zuckerberg insistiu que as pessoas controlam que dados partilham, mas o que os representantes queriam saber era sobre as informações que as pessoas não partilham - isto é, metadados. Foi Joe Kennedy III de Massachusetts quem conseguiu colocá-lo da forma mais clara: "Os anunciantes que usam a vossa plataforma têm acesso a informação que o utilizador não acha que está a ser gerada?", perguntou. Zuckerberg foi forçado a dizer que sim.."As opções disponíveis aos anunciantes são geralmente baseadas em coisas que as pessoas partilham", sublinhou. "O Facebook também faz o seu próprio trabalho. Podemos usar metadados do feed de notícias ou outros sítios para melhorar a adequação dos anúncios.".Este segundo dia de interrogatório foi muito mais feroz e levou o CEO do Facebook a afirmar categoricamente que a rede social não tem nada a ver com uma operação de vigilância, em resposta a questões do congressista Bob Rush. "Você pode deixar o Facebook quando quiser", disse o executivo, frisando que todos os conteúdos publicados na rede social são da autoria dos utilizadores, que os publicam livremente. "Nunca vi uma organização de vigilância que deixa as pessoas irem-se embora", acrescentou..A representante da Califórnia, Anna Eshoo, também protagonizou uma das trocas de perguntas e respostas mais crispada da audiência e tentou levar Zuckerberg a comprometer-se com mudanças estruturais no Facebook, algo que não conseguiu. "Não sei o que isso significa", respondeu o executivo, quando Eshoo perguntou se ele estava disposto a mudar o modelo de negócio para proteger melhor a privacidade dos consumidores..Transmissão ao vivo no canal do comité:.O Facebook beneficiou Trump?.Uma parte do foco dos representantes Republicanos foi argumentar que o Facebook censura mais conteúdos conservadores que liberais, tendo havido vários que só questionaram sobre isto - por exemplo, porque é que um blogue conservador foi retirado ou porque um anúncio anti-aborto não foi aprovado. Mas John Sarbanes, democrata de Maryland, quis saber se a rede social beneficiou a campanha de Donald Trump. Motivo? A campanha do presidente teve 5,9 milhões de anúncios aprovados no Facebook, a de Hillary Clinton apenas 66 mil.."Aplicamos os mesmos standards a todas as campanhas", contrariou Zuckerberg, afastando a ideia de que o facto de o Facebook ter enviado funcionários para trabalhar com a campanha de Trump poderia ter influenciado o processo de aprovação..Perante Diana DeGette, representante do Colorado, Zuckerberg tropeçou nas respostas e mostrou não conhecer uma série de detalhes relacionados com incidentes no passado. Por exemplo, o CEO não se lembrava se tinha pago uma multa à FTC (Federal Trade Commission) em 2011, quando foi obrigado a assinar um acordo de proteção de privacidade que ainda está em vigor (e muitos consideram que foi violado por este escândalo). "Não pagou porque a FTC não tem esse poder", declarou DeGette. "O motivo pelo qual faço estas questões é que precisamos de multas robustas", afirmou, "senão continuaremos a ter estes abusos.".Mais tarde, o CEO afirmou considerar que o que aconteceu com a Cambridge Analytica não violou o acordo assinado com a FTC há sete anos. E ainda revelou que até a sua informação pessoal foi metida no bolo dos dados que foram parar às mãos da consultora..Depois de uma sessão intensa no Senado, da qual Mark Zuckerberg saiu relativamente incólume, o CEO do Facebook foi outra vez em Capitol Hill para enfrentar a Câmara dos Representantes. O Comité para a Energia e Comércio conduziu a segunda audiência do congresso norte-americano, que procura perceber o que correu mal para que os dados pessoais de 87 milhões de pessoas tivessem sido apropriados indevidamente por uma consultora política, a Cambridge Analytica..Zuckerberg abriu o seu testemunho repetindo as mesmas declarações preparadas que leu ontem..Frente a dois comités do Senado, Mark Zuckerberg assumiu a responsabilidade pelo que aconteceu. Ainda assim, muitas das perguntas feitas pelos senadores aparentaram algum desconhecimento sobre a forma como o Facebook funciona, as regras que estão em funcionamento e o seu modelo de negócio..A audiência começou às 15h00, hora de Portugal, e terminou por volta das 20h00.