Um cessar-fogo antes de novos passos diplomáticos, sanções contra a Rússia para limitar o seu potencial futuro e garantias efetivas de segurança para a Ucrânia. São estas as ideias que o presidente ucraniano leva esta segunda-feira (18 de agosto) na bagagem no regresso à Casa Branca - palco de más memórias. Para afastar os fantasmas do passado, Volodymyr Zelensky não vai sozinho. Ao seu lado terá meia dúzia de líderes europeus numa frente unida para ajudar a passar a mensagem ao presidente norte-americano, Donald Trump, que parece ter-se rendido ao charme do homólogo russo, Vladimir Putin, na reunião de sexta-feira à noite (15 de agosto) no Alasca.Trump entrou para essa reunião depois de ter defendido durante meses um cessar-fogo e ter ameaçado com sanções contra Moscovo, caso isso não acontecesse. Mas saiu a dizer que seria melhor “ir diretamente para um acordo de paz” - algo que Putin tem defendido, querendo continuar a avançar no terreno. Além disso, o presidente russo terá deixado claro que quer a retirada ucraniana total das regiões de Donetsk e Lugansk, em troca do “congelar” da linha da frente no sul de Kherson e Zaporíjia.Um cenário que Zelensky rejeita. “A Constituição da Ucrânia torna impossível ceder território ou trocar terras. Dada a importância da questão territorial, só os líderes da Ucrânia e da Rússia deveriam debatê-la numa reunião trilateral com os EUA”, disse este domingo (17 de agosto) o chefe de Estado ucraniano em Bruxelas, após um encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Mas também admitiu que “a linha da frente é a melhor linha para negociar”, parecendo aceitar eventuais cedências territoriais. “As fronteiras internacionais não podem ser modificadas pela força”, insistiu a alemã.Mas Zelensky defende um cessar-fogo antes de avançar para qualquer negociação, não querendo discutir o futuro enquanto todos os dias continuam os ataques russos com drones - na noite de sábado para domingo houve mais cinco mortos e 11 feridos em ataques com um míssil e pelo menos 60 drones. “Até agora, a Rússia não dá qualquer sinal de que a reunião trilateral irá acontecer e, se a Rússia recusar, novas sanções deverão ser aplicadas”, acrescentou o presidente.Europa prepara mais sançõesVon der Leyen explicou que, da parte europeia, o 19.º pacote de sanções poderá ser aprovado no início de setembro. O objetivo é atingir a “economia de guerra” da Rússia, obrigando Putin a sentar-se à mesa das negociações. Mas a pressão sobre o presidente russo seria muito maior se Trump e os EUA se juntassem a essas mesmas sanções. Antes do encontro com Putin, no Alasca, a ameaça era de “consequências severas”, algo que parece ter caído após a reunião - embora o presidente norte-americano não rejeite a hipótese de voltar a estar em cima da mesa.Essa ideia deverá ser defendida novamente na reunião desta segunda-feira com Trump. Von der Leyen é uma das que, “a pedido de Zelensky”, viajará até Washington para o encontro. Mas os dois não irão sozinhos à Casa Branca. O presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o chanceler alemão, Friedrich Merz, a chefe do Governo italiano, Giorgia Meloni, o presidente finlandês, Alexander Stubb, e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, estarão também no encontro com Trump.Será um cenário bastante diferente da última visita de Zelensky à Casa Branca. A 28 de fevereiro, o presidente ucraniano foi alvo de uma emboscada na Sala Oval, com Trump - acompanhado pelo seu vice-presidente JD Vance e outros membros da Administração - a dizer-lhe que deveria estar mais “agradecido” aos EUA e a acusá-lo de estar a “brincar com a Terceira Guerra Mundial”. O presidente ucraniano foi ainda criticado por não usar fato.O confronto decorreu diante das câmaras de televisão, ainda antes da suposta reunião começar. Esta acabaria por não acontecer, com o presidente ucraniano a ser convidado a sair da Casa Branca, com o recado de só voltar quando estivesse pronto para a paz. Agora, foi chamado para ouvir pessoalmente o resultado da Cimeira do Alasca.“Acho que estamos muito próximo de um acordo”, disse Trump numa entrevista à Fox News. “A Ucrânia tem de concordar. Talvez digam ‘não’”, acrescentou, exortando contudo os ucranianos a “fazerem um acordo”, porque “a Rússia é uma grande potência e eles não são”. O que não augura nada de bom para Zelensky, que optou por rodear-se dos aliados europeus para mostrar que não está sozinho.Macron, após uma videoconferência com outros líderes europeus e Zelensky este domingo à tarde, reiterou que o objetivo da reunião com Trump será “apresentar uma frente unida entre a Ucrânia e os aliados europeus”. O presidente francês avisou: “Se mostrarmos fraqueza agora, face à Rússia, estaremos a preparar o terreno para um conflito futuro.”Garantias de segurança Para os ucranianos (e os europeus), o único ponto positivo a sair da reunião de Trump e Putin no Alasca terá sido o facto de o presidente norte-americano ter admitido que os EUA vão ter de ser parte das garantias de segurança à Ucrânia num eventual acordo de paz. Até ao momento, Trump sempre dissera que esse seria o papel dos europeus.A presidente da Comissão Europeia afirmou este domingo, após o encontro com Zelensky, “acolher com satisfação” a vontade de Trump contribuir para as garantias de segurança, dizendo que a chamada Coligação dos Dispostos está pronta para fazer a sua parte.“É importante que os EUA concordem em trabalhar com a Europa para fornecer garantias de segurança à Ucrânia”, disse por seu lado o presidente ucraniano. “Mas não há detalhes sobre como é que isto vai funcionar, qual será o papel dos EUA, qual será o papel da Europa e o que a União Europeia pode fazer. Essa é a nossa principal tarefa. Precisamos que a segurança funcione na prática, como o artigo 5.º da NATO, e consideramos a adesão à UE parte das garantias de segurança”, acrescentou.Segundo o enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, que esteve presente na reunião no Alasca junto com o secretário de Estado Marco Rubio, Putin terá concordado que os norte-americanos e os europeus ofereçam aos ucranianos garantias de segurança semelhantes, precisamente, às do artigo 5.º da NATO - segundo o qual o ataque a um é um ataque a todos.“Conseguimos obter a seguinte concessão: que os EUA poderiam oferecer uma proteção semelhante à do artigo 5.º, que é uma das verdadeiras razões pelas quais a Ucrânia quer fazer parte da NATO”, disse Witkoff à CNN, falando em algo “revolucionário”. Putin terá também acordado inscrever na legislação que não iria de novo atrás dos ucranianos ou de outro país europeu, além de aceitar cedências de território que já controla.Putin, na análise ao encontro do Alasca, não referiu nada disso. Pelo contrário, disse que a cimeira com Trump tinha sido “muito útil” para dar a visão russa da questão, insistindo na necessidade de eliminar as “causas de base” do conflito. Em linguagem de Moscovo, isso significa que todas as suas linhas vermelhas ainda estão em jogo: não quer a expansão da NATO mais para leste (e aceitar o artigo 5.º seria quase o mesmo) e quer que a Ucrânia aceite a neutralidade e a limitação das suas Forças Armadas.Na declaração ao lado de Trump, sem direito a perguntas dos jornalistas, Putin mostrou-se esperançoso de que o entendimento mútuo alcançado na reunião com o presidente dos EUA abra caminho para a paz. “Esperamos que isto seja percebido de forma construtiva em Kiev e nas capitais europeias, e que não se criem obstáculos”, afirmou Putin. “Não deve haver tentativas de minar o progresso previsto através de provocações ou intrigas de bastidores”, acrescentou.Ainda antes de sair do Alasca, o presidente russo preparava já a desculpa para o falhanço em alcançar a paz - não da sua incapacidade de ceder, mas por culpa dos ucranianos e europeus. Tal como Trump quando dizia que dependia dos ucranianos aceitarem ou não o acordo, parecendo preparar-se já para culpar Zelensky por não alcançar a paz. Algo que tinha prometido fazer em apenas 24 horas depois de regressar à Casa Branca.“Grande progresso sobre a Rússia. Fiquem atentos”, prometia este domingo Trump na sua Truth Social, tendo numa mensagem anterior criticado os media que põem em causa o sucesso do seu encontro com Putin. “Se eu fizesse a Rússia desistir de Moscovo como parte do acordo, as fake news e os seus parceiros, os democratas da esquerda radical diriam que fiz um erro terrível e um acordo muito mau”, queixou-se. .Enviado de Trump garante que Putin concordou com segurança fornecida pelos EUA à Ucrânia, semelhante à NATO .Zelensky prevê mais ataques russos na Ucrânia para reforçar a posição de Putin, mas promete contra-atacar