Líderes europeus pressionam Putin e propõem cessar-fogo de 30 dias a partir de segunda
“Juntamente com os EUA, apelamos à Rússia para que aceite um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias, a fim de criar espaço para conversações sobre uma paz justa e duradoura". O apelo é dos quatro líderes europeus que estão este sábado (10 de maio) em Kiev numa demonstração de apoio à Ucrânia, com vista a encontrar um caminho para o fim da guerra, em curso há mais de três anos, e incluiu uma ameaça de mais sanções a Moscovo.
"Todos nós aqui, juntamente com os EUA, estamos a desafiar Putin. Se ele leva a paz a sério, então tem a hipótese de o demonstrar", disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em conferência de imprensa. "Chega de 'ses' e 'mas', chega de condições e atrasos", acrescentou.
Em resposta, o Kremlin acusou os líderes europeus de fazerem declarações contraditórias e "confrontacionais".
“Ouvimos muitas declarações contraditórias da Europa. Geralmente, são de natureza confrontacional, em vez de tentarem reavivar as nossas relações. Nada mais”, disse o porta-voz do Kremlin, citado pela Reuters. Dmitry Peskov afirmou ainda que Putin "disse repetidamente que está pronto para contactos com qualquer líder". "E ele está aberto à interação, ao diálogo com quaisquer líderes, na medida em que os próprios líderes estejam prontos", rematou.
O presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Friedrich Merz, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o chefe do governo polaco Donald Tusk estão, pela primeira vez, juntos em território ucraniano, um dia depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter recebido o seu homólogo chinês, Xi Jinping, e outros aliados, no desfile militar do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.
Uma "visita histórica" dos líderes da França, Alemanha, Polónia e Reino Unido, numa manifestação de "solidariedade com a Ucrânia contra a invasão bárbara e ilegal em grande escala da Rússia".
“Reiteramos o nosso apoio aos apelos do presidente [dos EUA, Donald] Trump, para um acordo de paz e instamos a Rússia a parar de obstruir os esforços para garantir uma paz duradoura", afirmaram Macron, Merz, Starmer e Tusk, numa declaração conjunta, divulgada por Downing Street.
Após a reunião da denominada "Coalition of Willing” ("coligação dos dispostos”), os líderes europeus, juntamente com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, falaram ao telefone, este sábado, em Kiev, com Donald Trump. Uma conversa considerada "profícua" pelo ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano.
“A Ucrânia e todos os seus aliados estão prontos para um cessar-fogo incondicional em terra, no ar e no mar durante pelo menos 30 dias, com início já na segunda-feira”, escreveu Andrii Sybiha no X.
Também Macron sublinhou, nas redes sociais, o momento da chamada telefónica conjunta a partir de Kiev.
"O nosso apelo conjunto: deve haver um cessar-fogo de 30 dias a partir de segunda-feira, incondicional, que abra caminho a uma paz sólida e duradoura na Ucrânia", reforçou o presidente francês.
Os líderes europeus dizem estar "prontos para apoiar as conversações de paz o mais rapidamente possível, para discutir a implementação técnica do cessar-fogo", com o objetivo de "um acordo de paz completo".
“Estamos certos de que o derramamento de sangue deve terminar, a Rússia deve travar a sua invasão ilegal e a Ucrânia deve ser capaz de prosperar como uma nação segura, protegida e soberana dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas para as próximas gerações", defenderam.
De olhos postos numa trégua de 30 dias que permita conversações para uma paz duradoura, França, Reino Unido, Alemanha e Polónia garantiram que vão continuar a aumentar o apoio à Ucrânia. "Até que a Rússia concorde com um cessar-fogo duradouro, aumentaremos a pressão sobre a máquina de guerra russa", referiram na nota conjunta.
Ameaça de "agravamento maciço das sanções"
Friedrich Merz, chanceler alemão, ameaçou Moscovo com "um agravamento maciço das sanções", caso o presidente russo, Vladimir Putin, não aceite a proposta dos líderes europeus e dos EUA para uma trégua de 30 dias.
"E a ajuda maciça à Ucrânia continuará. No plano político, claro, mas também no plano financeiro e militar", assegurou Merz em declarações ao jornal alemão Bild.
Para o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, "a Rússia deve concordar com um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias para criar espaço para negociações sobre uma paz justa e duradoura na Ucrânia".
"Cada passo que damos neste sentido é mais um passo em direção à segurança e prosperidade no Reino Unido", defendeu Starmer numa mensagem divulgada nas redes sociais.
Com uma trégua de 30 dias, Macron defende "conversações diretas" entre Ucrânia e Rússia
Em caso de uma trégua de 30 dias, proposta pelos aliados de Kiev, o presidente francês defendeu "conversações diretas" entre a Ucrânia e a Rússia. "Estamos prontos para ajudar”, disse Emmanuel Macron em declarações aos canais de notícias franceses TF1 e LCI, durante a viagem de comboio até Kiev.
O chefe de Estado francês mostrou-se confiante em alcançar um resultado nas conversações em Kiev, mas avisou Moscovo: "se não respeitarem o cessar-fogo, haverá sanções adicionais”.
“O primeiro objetivo é ter esta paz, mesmo que seja precária, mesmo que seja apenas por 30 dias, que nos permita iniciar discussões para construir uma paz duradoura, robusta, que dê garantias de segurança que impeçam a Rússia de ir mais longe”, disse na mesma entrevista.
Mas se Moscovo "não se comprometer com estes 30 dias de cessar-fogo" e com estas conversações, "temos de ser capazes de tomar sanções adicionais que sejam muito mais duras para a economia russa e, de alguma forma, dissuasivas”, acrescentou o presidente francês.
À chegada a Kiev, Macron declarou que "uma paz justa e duradoura começa com um cessar-fogo completo e incondicional". "Esta é a proposta que formulámos em conjunto com os Estados Unidos", referiu Emmanuel Macron na rede social X.
"Se Moscovo persistir no bloqueio, aumentaremos a pressão, enquanto europeus e em estreita coordenação com os EUA", prometeu Macron. "Congratulamo-nos com o apelo do presidente Trump para dar este passo", insistiu o presidente francês. "A nossa unidade é a nossa força. É também esse o sentido desta viagem: todos queremos a paz!", destacou Macron, referindo que um acordo de paz "deve garantir" condições de segurança para a Ucrânia. "Trabalhámos nisso nas reuniões de Paris, Londres e hoje em Kiev. Estamos a avançar juntos", enfatizou.
"A Ucrânia está a lutar pelo seu povo, mas também pelo ideal europeu em que acreditamos. Uma Ucrânia livre, forte, próspera e europeia: é esse o nosso horizonte. A História está a observar-nos", declarou.
"A bola está do lado da Rússia", diz Ursula von der Leyen. UE disponível para "novas sanções severas" contra Moscovo
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez saber, entretanto, que "a bola está do lado da Rússia" e que a UE apoia "a proposta de um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias". "Deve ser implementado sem condições prévias para abrir caminho a negociações de paz significativas", disse a líder do executivo comunitário.
"Estamos prontos a manter uma forte pressão sobre a Rússia e a impor novas sanções severas em caso de violação do cessar-fogo", defendeu.
O objetivo desta trégua "é claro", afirmou a presidente da Comissão Europeia numa mensagem partilhada nas redes sociais. "Uma paz justa e duradoura para a Ucrânia, que é vital para a segurança e a estabilidade em todo o nosso continente", destacou.
Depois de chegarem de comboio à capital ucraniana, os líderes europeus prestaram homenagem, num memorial na Praça Maidan, no centro de Kiev, aos soldados ucranianos mortos em combate, tendo na agenda conversações com o presidente ucraniano sobre uma proposta de cessar-fogo de 30 dias, assim como uma reunião virtual com outros líderes sobre os progressos em relação a uma "futura coligação de uma força aérea, terrestre, marítima" que ajudaria a "regenerar as forças armadas da Ucrânia" após qualquer acordo de paz e fortaleceria a confiança em qualquer paz futura". Trata-se da denominada "Coligação dos Dispostos" que ajudaria a estabelecer garantias de segurança à Ucrânia após o fim das hostilidades.
A visita dos quatro líderes europeus acontece um dia após a reunião dos chefes da diplomacia da União Europeia (UE), do Reino Unido e da Ucrânia em Lviv, num sinal de união no dia em que Moscovo assinalou o 80.º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial.
Nesse encontro, foi anunciado um novo tribunal para processar as autoridades russas responsáveis por crimes de guerra contra a Ucrânia.
Na véspera da "visita histórica" dos líderes da França, Alemanha, Reino Unido e Polónia a Kiev, a embaixada dos EUA na capital ucraniana alertou para um ataque aéreo "potencialmente significativo" nos próximos dias, tendo apelado aos seus cidadãos para estarem prontos para procurar abrigo em caso de sirenes de ataque aéreo.