JD Vance e Tim Walz optaram por não fazer ataques pessoais durante o debate.
JD Vance e Tim Walz optaram por não fazer ataques pessoais durante o debate.EPA/SARAH YENESEL

Vance e Walz deram aos americanos um debate morno e sem vencedor

Candidato democrata a vice-presidente foi mais popular entre os jovens, negros, hispânicos e licenciados. Republicano conquistou eleitorado branco acima dos 55 anos.
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Foi um debate a lembrar tempos mais calmos da política norte-americana aquele que colocou frente-a-frente na noite de terça (madrugada de ontem em Portugal) o republicano JD Vance e o democrata Tim Walz, os candidatos a vice-presidente nas eleições de dia 5 de novembro, com as sondagens pós-embate a apontarem para um empate.

A ideia inicial era a de que este embate, que deverá ter sido o último da campanha, iria ser um espetáculo feio e sem conteúdo político, mas Vance e Walz conseguiram surpreender, mantendo durante quase todo o debate um tom cordial, evitando ataques diretos e concentrando-se nos companheiros de corrida de cada um - Donald Trump e Kamala Harris -, conseguindo fazer passar a suas mensagens e até agradecendo várias vezes um ao outro. No final , despediram-se com um abraço, um aperto de mão e uma amigável palmada nas costas. No entanto, o que à primeira vista pode parecer um bom exemplo também tem o seu ponto negativo - segundo uma análise da Reuters, “a ausência de muitos momentos quentes significa que o debate provavelmente será rapidamente esquecido a cinco semanas das eleições, sofrendo o destino da maior parte dos debates vice-presidenciais”.

Apesar do tom morno, também existiram momentos em que as diferenças entre JD Vance e Tim Walz falaram mais alto, como o aborto ou a imigração. Sobre este último tema, Vance gastou grande parte do seu tempo a defender as políticas fronteiriças de Donald Trump, enquanto Walz atacou o ex-presidente por ter construído apenas 2% do muro que tanto defendeu enquanto esteve na Casa Branca. 

E embora os dois tenham concordado que o número de imigrantes ilegais nos Estados Unidos é um problema, este tema deu origem a um dos momentos-chave do debate, quando as moderadoras da CBS News decidiram cortar o som dos microfones de Vance e Walz numa altura em que ambos discutiam a situação dos imigrantes haitianos em Springfield, no Ohio - Walz acusou Vance (e Trump) de demonizar os imigrantes no seu estado natal, lançando boatos infundados, enquanto o republicano repetia que os 15 mil haitianos daquela cidade causaram problemas económicos que a administração Biden-Harris estava a ignorar. 

No que diz respeito ao aborto, Vance rejeitou a acusação de Walz de que os republicanos pretendem criar um registo de gravidezes, e garantiu que nunca apoiou uma proibição nacional da interrupção voluntária da gravidez quando concorreu ao Senado há quatro anos, apesar de o ter sugerido, dizendo que defende “um padrão nacional mínimo”.

Quase no final do debate surgiu mais um momento tenso, com JD Vance a minimizar a polémica em torno dos resultados das presidenciais de 2020, contestados por Trump, e o ataque contra o Capitólio, referindo que a verdadeira ameaça à democracia é a censura da oposição, na qual Kamala Harris está envolvida. Walz aproveitou para perguntar ao republicano se Trump venceu as últimas presidenciais. “Estou focado no futuro”, declarou Vance, sem dar uma resposta.

Segundo uma sondagem levada a cabo pela Focaldata para o Politico logo após o debate, os eleitores estavam divididos 50-50 sobre quem ganhou, tanto entre homens como mulheres, “contrariando a crescente disparidade de género presente nas recentes eleições presidenciais”. 

O tom morno do debate fez também com que a identificação partidária fosse preponderante, com os democratas a escolherem Walz como o vencedor e os republicanos Vance. No campo dos independentes, Walz ficou em vantagem: 58% ficou ao lado do governador do Minnesota, enquanto 42% deram vantagem ao senador do Ohio.

“As pontuações mais altas de Walz vieram de pessoas mais jovens, especialmente aquelas com idades entre 25 e 34 anos, pessoas com diploma universitário e entrevistados negros e latinos, todos elementos-chave da coligação democrata que impulsionou a vitória do presidente Joe Biden sobre Donald Trump em 2020”, explica o Politico. Já Vance teve melhor desempenho com pessoas com mais de 55 anos, eleitores brancos e sem diploma universitário.

Quando a questão foi qual dos dois será um melhor vice-presidente, a sondagem do Politico apontou também para um empate com 47% para cada um dos candidatos, embora Walz, mais uma vez, surja com vantagem entre os independentes, com 44% preferindo-o como vice-presidente, contra 36% que escolhem Vance.

ana.meireles@dn.pt

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