Ahmed al Ahmed, 43 anos, muçulmano, pai de dois filhos e vendedor de fruta e legumes. Este é o homem que travou um dos dois atiradores – pai e filho - que dispararam indiscriminadamente sobre pessoas que participavam num evento comemorativo da comunidade judaica na praia de Bondi, em Sydney, na Austrália, no domingo, 14 de dezembro, provocando 16 mortos. Chamado de heróis por líderes políticos, está no hospital a recuperar dos ferimentos que sofreu, tendo já recebido a visita de familiares e do primeiro-ministro de Nova Gales do Sul.“Ahmed é um herói da vida real”, escreveu Chris Minns uma publicação nas redes sociais em que partilhava uma imagem ao lado da cama de Ahmed al Ahmed. .O homem foi baleado por duas vezes pelo agressor, segundo disse o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese. "O que vimos nas últimas 24 horas foi o pior da humanidade num ato terrorista. Mas também vimos um exemplo do melhor da humanidade em Ahmed Al Ahmed a correr em direção ao perigo, colocando a sua própria vida em risco", disse Albanese à emissora estatal ABC News.De acordo com imagens que surgiram nas redes sociais, Ahmed al Ahmed escondeu-se atrás de carros estacionados antes de atacar um dos atiradores por trás, agarrando-lhe a espingarda, derrubando-o no chão e ameaçando-o depois com a arma apreendida.. De acordo com a família, Ahmed al Ahmed é cidadão australiano de origem síria e foi atingido na mão e no braço. "O meu filho é um herói. Serviu na polícia, tem uma paixão por defender as pessoas", disse o pai à televisão australiana ABC News. "Quando viu pessoas caídas no chão e o sangue, rapidamente a sua consciência o levou a atacar um dos terroristas e a tirar-lhe a arma", acrescentou Mohamed Fateh.“Ele viu que estavam a morrer, que as pessoas estavam a perder a vida, e quando aquele tipo [o atirador] ficou sem munições, ele tirou-lhe a arma, mas foi atingido”, disse a mãe. “Rezamos para que Deus o salve”Um primo disse à cadeia de televisão Al Araby que Ahmed al Ahmed ainda tem duas cirurgias pela frente e que, devido aos medicamentos, ainda tem algumas dificuldades em expressar-se. No entanto, garantiu que "ele está muito orgulhoso por ter salvo pelo menos uma vida". “Foi um ato humanitário, acima de tudo. Foi uma questão de consciência…", disse Mustafa al-Asaad, de acordo com a Reuters.À porta do hospital, desconhecidos foram prestar homenagem a Ahmed al Ahmed. Foi também aberta uma campanha do GoFundMe para recolher fundos para apoiar este novo herói na austrália. Segundo a agência Reuters, os donativos já ultrapassaram os 1,1 milhões de dólares australianos (620 mil euros).Um dos atacantes tinha licença de porte de arma. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, anunciou esta segunda-feira que o seu Governo considera "endurecer as leis" de posse de armas, no seguimento do ataque."O Governo está preparado para tomar todas as medidas necessárias, incluindo a necessidade de endurecer as leis sobre armas", disse Albanese, acrescentando que, entre as possíveis medidas, pode vir a ser estabelecido um "limite no número de armas" por pessoa e a "revisão das licenças".Um dos supostos autores do ataque de domingo em Bondi Beach tinha licença para porte de armas."As circunstâncias das pessoas mudam. As pessoas podem radicalizar-se com o tempo. As licenças [de porte de arma] não podem ser perpétuas", afirmou o chefe do Governo australiano.Catorze pessoas - incluindo um dos assaltantes - morreram no local do crime e outras duas, nomeadamente uma menina com 10 anos e um homem de 40, faleceram posteriormente no hospital.Pelo menos 42 pessoas ficaram feridas, sete das quais continuam em estado crítico.As autoridades australianas confirmaram que os alegados autores do ataque terrorista são um homem de 50 anos, que morreu após confrontos com a polícia, e o filho de 24 anos, que continua hospitalizado sob custódia policial.A polícia indicou que não procura mais suspeitos e que o falecido tinha licença para armas de grande calibre desde 2015, possuindo, pelo menos, seis armas registadas em seu nome, e pertencia a um clube de armas.O suposto assaltante "cumpria os critérios de elegibilidade para uma licença de porte de arma", disse numa conferência de imprensa anterior o comissário da Polícia de Nova Gales do Sul, cuja capital é Sydney, Mal Lanyon.Albanese também confirmou que o assaltante hospitalizado foi investigado em 2019 pela agência de inteligência da Austrália (ASIO), mas que na altura foi determinado que "não representava uma ameaça", sem fornecer mais detalhes.O canal de notícias ABC informou que a investigação analisou as supostas ligações entre este suspeito e uma célula do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) em Sydney.O chefe do Governo australiano classificou o ataque terrorista como um "ato de pura maldade" e "de antissemitismo", e ordenou que as bandeiras do país fossem colocadas a meia haste.Com Lusa.Israel acusa Austrália de incentivo ao antissemitismo após ataque mortal em praia de Sidney