Ucrânia e Rússia sobem o tom no campo de batalha na véspera de negociações de paz
A Ucrânia e a Rússia subiram este domingo o tom do conflito no terreno com uma das maiores batalhas de drones, a explosão de duas pontes nas regiões russas de Kursk e Bryansk e um inesperado ataque contra bombardeiros com capacidade nuclear na Sibéria. Para esta segunda-feira está marcada a segunda ronda de negociações de paz na Turquia, tendo Volodymyr Zelensky confirmado que a delegação de Kiev será encabeçada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov.
O ataque contra os bombardeiros russos foi uma operação levada a cabo pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) usando drones FPV (visão em primeira pessoa) levados de forma camuflada dentro de camiões para a Rússia, tendo este domingo, segundo Kiev, atingido 41 caças bombardeiros com capacidade nuclear, em quatro bases diferentes — Belaya, a mais de 4000 quilómetros da Ucrânia, Olenya, Diaghilev e Ivanovo.
De acordo com o jornal Kyiv Independent esta operação, batizada como Teia de Aranha, foi planeada durante ano e meio, e causou um duro golpe nas aeronaves que Moscovo usa para lançar mísseis de longo alcance para atacar cidades ucranianas. “Sabe-se que mais de 40 aeronaves foram atingidas, incluindo A-50, Tu-95 e Tu-22 M3”, referiu uma fonte da SBU ao mesmo jornal.
O Ministério da Defesa russo reconheceu a existência de um “ataque terrorista” contra as quatro bases aéreas e revelou que “várias unidades de aeronaves se incendiaram” em Olenya e Belaya.
Este fim de semana ficou também marcado pelo colapso de duas pontes nas regiões fronteiriças russas de Kursk e Bryansk, causado por “explosões”, segundo investigadores russos.
Em Bryansk, que faz fronteira com a Ucrânia, uma ponte rodoviária colapsou sobre uma linha ferroviária no sábado à noite, fazendo descarrilar um comboio de passageiros com destino a Moscovo e matando, pelo menos, sete pessoas. Na vizinha Kursk, uma ponte ferroviária colapsou na madrugada de domingo, levando ao descarrilamento de um comboio de mercadorias e ferindo o condutor. Até ao final do dia de ontem, a Ucrânia não se tinha pronunciado oficialmente sobre estes incidentes.
Do lado russo, segundo informações avançadas pela Força Aérea ucraniana à Reuters, Moscovo lançou 472 drones contra a Ucrânia durante a madrugada de ontem, o maior ataque total noturno da guerra até ao momento. De acordo com a mesma fonte, a Rússia lançou também sete mísseis.
O presidente ucraniano confirmou este domingo que Kiev vai enviar uma delegação de 14 pessoas a Istambul para a segunda nova ronda de negociações de paz diretas com a Rússia, que será novamente chefiada pelo ministro da Defesa, Rustem Umerov.
“Estamos a fazer tudo para proteger a nossa independência, o nosso Estado e o nosso povo”, referiu Volodymyr Zelensky nas redes sociais. De recordar que a primeira ronda de negociações, há mais de uma semana, resultou na maior troca de prisioneiros de guerra.
Kiev tinha pedido a Moscovo que apresentasse, antes da reunião, um memorando com a posição russa sobre o fim da guerra de mais de três anos. No entanto, a Rússia respondeu que partilhará o memorando durante as conversações na cidade turca.
Os negociadores ucranianos vão apresentar, esta segunda-feira, à equipa russa uma proposta de roteiro para alcançar um acordo de paz duradouro. Este documento, a que a Reuters teve acesso, começa por propor um cessar-fogo total de, pelo menos, 30 dias, a que se seguirá o regresso de todos os prisioneiros detidos por cada uma das partes e das crianças ucranianas levadas para território controlado pela Rússia, e, só depois, um encontro entre Zelensky e Vladimir Putin.
A proposta refere ainda que as negociações entre Moscovo e Kiev contarão com a participação dos Estados Unidos e da Europa.