Trump recusa reconciliação com Musk, acusa-o de estar "maluco" e até já diz que vai livrar-se do Tesla
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descartou uma reaproximação com Elon Musk, antigo aliado e um dos principais financiadores da sua campanha de 2024.
“Aquele homem que perdeu a cabeça? Não tenho interesse”, afirmou o chefe de Estado em entrevista à rede ABC, nesta sexta-feira (6), após uma troca pública de acusações com o bilionário.
A relação entre os dois deteriorou-se rapidamente desde o início desta semana, quando Musk criticou abertamente o megaprojeto de lei orçamental apresentado pelo governo norte-americano ao Congresso. O pacote, apelidado de “One Big Beautiful Bill”, prevê cortes fiscais, reformas sociais e alterações em subsídios - incluindo os destinados a veículos elétricos, o que afeta diretamente a Tesla, empresa de Musk.
A resposta de Trump foi imediata. Em publicações na sua rede Truth Social, o presidente afirmou que o empresário agia por interesse pessoal e ameaçou encerrar todos os contratos e subsídios com as empresas de Musk, incluindo a SpaceX, que tem acordos com a NASA e participa da missão Artemis.
O conflito agravou-se com novas acusações. Musk insinuou que Trump estaria envolvido no caso Epstein, um escândalo sexual de grande repercussão nos Estados Unidos. “Donald Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos”, publicou Musk na rede X.
Trump não respondeu diretamente à acusação, mas reforçou que o empresário “ficou maluco” e afirmou tê-lo afastado de qualquer colaboração com o governo. “Ajudei muito o Elon. Agora ele só me ataca”, disse.
Possível leilão do Tesla
No auge do conflito, Musk anunciou que a SpaceX começaria a desativar a cápsula Dragon, utilizada para levar carga e astronautas à Estação Espacial Internacional. O gesto foi interpretado como retaliação direta às ameaças de Trump.
Além das palavras, o presidente também avalia gestos simbólicos. Segundo o Wall Street Journal, Trump considera “livrar-se do Tesla” que comprou em apoio a Musk. O veículo, um Model S, foi adquirido como parte de uma iniciativa promocional para demonstrar apoio público ao empresário.
De acordo com fontes da Casa Branca ouvidas pelo jornal, Trump estuda vender o carro em leilão - o que ampliaria o gesto de rutura. O veículo ainda estava estacionado ao lado da Ala Oeste da Casa Branca na noite da última quinta-feira (5).
O presidente mencionou o assunto novamente durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz, ao ser questionado por jornalistas sobre o conflito. “Estou muito dececionado com o Elon”, disse. “Não sei se teremos uma relação como antes.”
O Model S, considerado o carro-chefe da Tesla, é vendido nos EUA em versões que variam entre 79.990 e 94.990 dólares (entre 70.229 e 83.407 euros). A mais potente, chamada Plaid, vai de 0 a 100 quilómetros/hora em apenas 1,99 segundo. Um possível leilão poderia valorizar ainda mais o veículo, por ter pertencido ao atual presidente dos EUA.
Queda nas ações da Tesla
As ações da Tesla, que já vinham em queda, afundaram ainda mais após os ataques. Antes da troca de acusações, os papéis caíam cerca de 3%. Depois, chegaram a cair quase 15%. No acumulado do ano, a desvalorização ultrapassa 22%.
A aproximação de Musk com Trump e a sua inclinação por pautas de extrema direita vêm gerando protestos contra a Tesla. A crise entre os dois, além de política, pode ter impacto direto na imagem e nos negócios da empresa.
Antes tratada como estratégica, a aliança entre Trump e Musk surge agora definitivamente rompida. Pelo menos para o presidente, que já chamou o bilionário de “génio”, e para já não tenciona manter qualquer vínculo com o empresário.