Em rota de colisão com Trump, Musk sugere criar novo partido que represente 80% de americanos na classe média
Cada vez mais de costas voltadas para Donald Trump, o magnata Elon Musk sugeriu esta quinta-feira a criação de um novo partido nos Estados Unidos que represente os cidadãos da classe média.
Através de uma sondagem levada a cabo na rede social X, da qual é dono, o multimilionário questiona se "está na hora de criar um novo partido político nos Estados Unidos que realmente represente os 80% da [classe] média". O resultado vai sendo (para já), avassalador: mais de 80% dos utilizadores respondem que sim. E são centenas de milhares os que votam.
Agora muito crítico do presidente dos Estados Unidos, do qual era colaborador até há bem pouco tempo, Musk atacou Trump através de outra publicação, onde recorda uma publicação de 2012 do atual líder da Casa Branca, que sugeria que nenhum membro do Congresso deveria ser elegível para reeleição se o orçamento do país não estivesse equilibrado. "Onde anda este tipo?", questiona o dono da Tesla e da SpaceX.
Em resposta, Donald Trump escreveu no Truth Social que pediu a Elon Musk para deixar de colaborar com ele porque estava a "esgotar-se". "Retirei o seu mandato de viaturas elétricos que obrigava toda a gente a comprar carros elétricos que mais ninguém queria (o que ele sabia há meses que eu iria fazer!), e ele simplesmente ficou LOUCO!", afirmou o presidente norte-americano, enquanto Musk disse tratar-se de uma "mentira óbvia".
Entretanto, Trump voltou à carga e ameaçou "acabar com os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk", a "forma mais fácil de poupar milhares de milhões e milhares de milhões de dólares" no orçamento dos Estados Unidos. "Sempre me surpreendeu que o Biden não o tenha feito!", escreveu o líder da Casa Branca.
Ainda no X, Musk fez uma alegação bombástica: “Hora de largar a bomba realmente grande: Donald Trump está nos ficheiros de Epstein” – o milionário envolvido no escândalo de tráfico sexual e abuso de menores que foi encontrado morto na cela de prisão enquanto aguardava julgamento. “Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos. Tenha um bom dia, DJT!”, conclui, com as iniciais de Donald J. Trump.
Na terça-feira, Musk havia qualificado o projeto de orçamento dos Estados Unidos apoiado por Donald Trump como uma "abominação repugnante".
"Desculpem, mas não aguento mais", declarou o homem mais rico do mundo na rede social X, dias após terminar uma colaboração próxima com a administração do presidente norte-americano.
O multimilionário que financiou a última campanha de Trump e colaborou com a atual administração no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) referiu-se ainda ao projeto de lei orçamental como "escandaloso e clientelista".
Em resposta, a porta-voz da Casa Branca afirmou que a feroz crítica de Musk "não muda nada na posição" de Trump. "O presidente já sabia o que Elon Musk estava a pensar", comentou Karoline Leavitt, acrescentando que se trata de "um excelente projeto".
O projeto de lei, aprovado no final de maio na Câmara dos Representantes sob pressão de Donald Trump, está em análise desde segunda-feira no Senado, onde os republicanos detêm a maioria.
O presidente norte-americano alertou os senadores que quer o projeto de lei na sua secretária "o mais rapidamente possível" para promulgação, mas os representantes eleitos do campo republicano indicaram a intenção de fazer mudanças significativas.
Segundo o Comité para um Orçamento Federal Responsável, um grupo de vigilância fiscal, os cortes fiscais e de despesa aprovados pela Câmara dos Representantes no mês passado podem acrescentar mais de cinco mil milhões de dólares à dívida nacional ao longo da próxima década, caso todas as medidas se mantenham.
A maioria dos economistas independentes consideram que o aumento da dívida irá manter as taxas de juro elevadas e travará o crescimento económico, ao tornar mais caro o financiamento de casas, automóveis, empresas e estudos universitários.
A incapacidade da Casa Branca para acalmar as preocupações com o défice está a gerar resistência política a Trump, numa altura em que os cortes fiscais e de despesa aprovados na Câmara dos Representantes se preparam para ser debatidos no Senado.
Os senadores republicanos Ron Johnson (Wisconsin) e Rand Paul (Kentucky) já manifestaram preocupações com o impacto orçamental da proposta, com Paul a dizer, no domingo, que há votos suficientes no seu partido para travar o projeto enquanto os défices não forem abordados.
Quatro senadores republicanos são suficientes para travar o projeto no Senado, onde o partido detém uma maioria de três lugares.