Friedrich Merz conseguiu sair ileso do seu encontro desta quinta-feira, 5 de junho, na Casa Branca depois de ter optado por não desafiar Donald Trump no seu território, nomeadamente quando o presidente dos Estados Unidos deu a sua visão da disparidade das contribuições de Washington e dos países europeus para a Ucrânia – o francês Emmanuel Macron, perante as mesmas afirmações, decidiu corrigir o seu homólogo norte-americano -, preferindo sublinhar as visões comuns dos dois países em relação à invasão russa, e recorrendo também à lisonja, dizendo precisar da ajuda do republicano para para pôr fim à guerra.“Merz pode muito bem já ter completado a parte mais complicada. Embora não fosse o centro das atenções, os media americanos não estão interessados nele, expôs os seus argumentos. Elogiou Trump, destacando a sua importância para o fim da guerra na Ucrânia. Demonstrou-se grato pela conquista histórica dos EUA ao livrar a Alemanha da ditadura nazi. E deu nota do conselho de outros chefes de Estado que já visitaram Trump: não fale muito, Trump tem pouca capacidade de concentração. Resta saber se conseguirá obter resultados concretos nos bastidores agora, por exemplo, para a Ucrânia”, comentou, citada pelo diário The Guardian, Maria Fiedler, editora-adjunta da redação de Berlim do jornal Der Spiegel, depois de terminado o encontro. O espírito que o chanceler alemão trazia para este encontro ficou logo claro nos primeiros minutos, quando entregou ao presidente dos Estados Unidos um presente muito pessoal: um fac-símile emoldurado da Certidão de Nascimento do avô alemão de Trump, Friedrich Trump, nascido em1869 e que mais tarde mudou o seu nome para Frederick. O tom elogioso prosseguiu, com Merz a confessar que tinha dito a Trump em privado, à chegada, que "ele é a pessoa-chave no mundo que pode realmente fazer isto, pressionando a Rússia".O norte-americano tinha também guardadas umas palavras de elogio para o chanceler alemão - “um homem muito bom, com quem se lidar” - e mostrou-se otimista quanto ao alcançar de um "bom acordo comercial" com a União Europeia, um dos temas que Friedrich Merz tinha na sua agenda para este encontro. Mas não tardou a que o autocontrolo do alemão, que pretendia discutir uma fórmula de paz, fosse posto à prova, quando o líder da Casa Branca começou a dizer que talvez seja melhor deixar a Ucrânia e a Rússia “lutar durante algum tempo” antes de as separar e procurar alcançar a paz e comparar o conflito como uma luta entre duas crianças pequenas que se odeiam.Merz não questionou o presidente e manteve-se em silêncio, deixando Trump responder às perguntas colocadas pelos jornalistas sobre os mais variados assuntos. Em silêncio manteve-se também, durante todo o encontro, o vice-presidente norte-americano, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na conflituosa reunião na Sala Oval com Volodymyr Zelensky. Assim, foi possível evitar um dos potenciais pontos de fricção entre os dois líderes — as críticas que têm sido feitas nos últimos meses por membros da Administração Trump, nomeadamente por JD Vance e pelo secretário de Estado Marco Rubio, que acusam Berlim de repressão política em relação ao partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).Assim que conseguiu recuperar a palavra, Merz voltou aos elogios, recordando a Trump que esta sexta-feira, 6 de junho, se celebra o 81.º aniversário do Dia D, quando as tropas dos EUA invadiram a França. "A longo prazo, sr. Presidente, esta foi a libertação do meu país da ditadura nazi. Sabemos o que lhe devemos. É por isso que estou a dizer que os Estados Unidos estão novamente numa posição muito forte para acabar com esta guerra." Mas deixou bem claro a Trump qual a posição da Alemanha, e da Europa, sobre o desfecho que pretendem para a guerra na Ucrânia. “Estamos a procurar mais pressão sobre a Rússia. E devemos falar sobre isso.”A resposta de Trump foi deixar em cima da mesa a ameaça de sanções, afirmando que estas poderão ser impostas tanto à Rússia, como à Ucrânia. “No momento em que eu vir que não vai parar [a guerra], seremos muito, muito duros”, disse Trump.Dececionado com oposição à lei Se Merz passou neste encontro sem ataques, o mesmo não aconteceu com Elon Musk, que foi alvo das críticas do presidente norte-americano durante o encontro deste com o chanceler alemão, mostrando como está “dececionado” com a oposição do dono da Tesla — que há poucos dias foi homenageado na Sala Oval pelo seu trabalho no governo — ao seu projeto de lei de cortes nas despesas, a que chama de “grande e bonita lei”. "Vejam bem, o Elon e eu tínhamos uma ótima relação. Não sei se vamos continuar a tê-la", referiu Trump. "Ele disse as coisas mais bonitas sobre mim e não disse nada de mal sobre mim pessoalmente, mas tenho a certeza de que isso acontecerá a seguir. Mas estou muito dececionado com o Elon. Ajudei-o muito."Enquanto Trump falava, Musk escreveu no X: "Magra, bonita, lei para a vitória", uma referência ao título oficial do projeto de lei. Musk publicou outra publicação, dizendo que concordava com os cortes nos créditos para veículos elétricos, um dos motivos apontados por Trump para as críticas do seu, até há pouco, aliado, desde que os republicanos retirassem do projeto de lei o que chamou de "montanha de porco nojenta" em gastos desnecessários..Em rota de colisão com Trump, Musk sugere criar novo partido que represente 80% de americanos na classe média.Merz vai à Casa Branca em busca de um entendimento com Trump, mas as coisas podem azedar