O presidente dos Estados Unidos avisou esta quarta-feira, 13 de agosto, que haverá “consequências muito graves” para a Rússia se Vladimir Putin não aceitar interromper a guerra contra a Ucrânia depois do encontro que os dois terão sexta-feira, no Alasca, para discutir o conflito, embora não tenha especificado que consequências tem em mente. Esta ameaça foi feita pouco depois da reunião virtual que Donald Trump e o seu vice, JD Vance, mantiveram com Volodymyr Zelensky e outros líderes europeus, que dizem ter recebido do norte-americano garantias de que a sua prioridade será alcançar um cessar-fogo.“Tivemos uma conversa muito boa. O presidente Zelensky esteve na conversa. Eu daria nota 10”, referiu Donald Trump sobre a conversa com os parceiros europeus, voltando a dizer que depois do encontro de de sexta-feira com Putin falará com o líder ucraniano e depois com os restantes aliados.No caso da reunião com o presidente russo correr bem, o líder norte-americano abriu a possibilidade de haver, logo em seguida, uma nova cimeira já com a presença do chefe de Estado ucraniano. “Gostaria de fazer isso quase imediatamente. E teremos uma segunda reunião rápida entre o presidente Putin, o presidente Zelensky e eu, se quiserem que eu esteja presente. Seria uma reunião em que talvez tudo corresse bem, mas certas coisas boas podem ser conquistadas na primeira [reunião], será uma reunião muito importante, mas está a preparar o terreno para a segunda reunião”, prosseguiu. Mas ressalvou: “Pode não haver uma segunda reunião, porque, se eu achar que não é apropriado, porque não obtive as respostas de que precisamos, então não teremos uma segunda reunião.”De acordo com a Reuters, os líderes dos Estados Unidos, da Ucrânia e dos países europeus discutiram esta quarta-feira alguns possíveis locais para esta potencial reunião tripartida com Trump, Putin e Zelensky, estando a ser consideradas cidades na Europa e no Médio Oriente.Uma coisa Donald Trump parece já ter desistido de alcançar no Alasca, naquela que será a primeira conversa presencial entre um presidente dos Estados Unidos e o líder da Rússia desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022: conseguir que Vladimir Putin deixe de atacar civis ucranianos.“Já tive essa conversa com ele. Tive muitas conversas boas com ele. Depois chego a casa e vejo que um rocket atingiu um lar de idosos, ou um rocket atingiu um prédio de apartamentos e há pessoas mortas na rua. Portanto, acho que a resposta a isso é não, porque já tive essa conversa”, confessou aos jornalistas.Do lado do Kremlin, a abertura para negociar parece ser muito pouca, depois de esta quarta-feira terem garantido que “a posição da Rússia mantém-se inalterada e foi expressa neste mesmo salão há pouco mais de um ano, a 14 de junho de 2024”, afirmou o porta-voz-adjunto da diplomacia russa, Alexei Fadeev, numa referência a um discurso feito então por Vladimir Putin no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Na altura, o presidente russo deixou claras as suas exigências para um possível acordo, como a retirada das tropas ucranianas das partes de Donetsk, Zaporíjia e Kherson que ainda controlam, acrescentando que, além destas regiões, também a Crimeia e Lugansk faziam agora parte da Rússia. Putin exigiu também o abandono de Kiev das suas ambições de aderir à NATO, garantindo que iria manter-se neutral.Fadeev referiu ainda que Vladimir Putin e Donald Trump vão discutir amanhã “todas as questões acumuladas” nas relações entre Rússia e EUA, classificando as consultas dos últimos dias da Casa Branca com os países europeus como “insignificantes”.A verdade é que o presidente russo também levou a cabo consultas antes da reunião de sexta-feira, tendo falado na terça-feira ao telefone com o seu homólogo da Coreia do Norte, Kim Jong-un, país que tem apoiado Moscovo com equipamento militar e soldados na invasão da Ucrânia. A agência russa TASS referiu que Putin partilhou com Kim informações sobre a sua cimeira com Trump. De acordo com Agência Central de Notícias Coreana, citada pela AP, Putin elogiou ainda a “bravura, o heroísmo e o espírito de auto-sacrifício” das tropas de Pyongyang que ajudaram as forças russas a repelir uma incursão ucraniana na região da fronteira russa de Kursk. Já Kim garantiu que apoiará “todas as medidas a serem tomadas pela liderança russa no futuro também”..Europeus com esperançaAs conversações desta quarta-feira foram promovidas pela Alemanha e contaram com a participação do chanceler Friedrich Merz, Volodymyr Zelensky, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e vários líderes europeus - Reino Unido, Finlândia, França, Itália e Polónia, além de Ursula von der Leyen e António Costa.No final da maratona de conversações - primeiro entre os líderes europeus e Zelensky, depois alargadas a Trump e JD Vance e, mais tarde, entre a Coligação dos Dispostos - o presidente francês, Emmanuel Macron afirmou que “os EUA querem alcançar um cessar-fogo nesta reunião no Alasca”, mas também que “o segundo ponto em que as coisas se tornaram muito claras, como expresso pelo presidente Trump, é que os territórios pertencentes à Ucrânia não podem ser negociados e só serão negociados pelo presidente ucraniano”. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, optou também por notar que “nunca estivemos perto de uma verdadeira solução para chegar a um cessar-fogo. E agora temos essa oportunidade, graças ao trabalho” de Trump.Já o chanceler alemão afirmou que o princípio de que as fronteiras não podem ser alteradas pela força deve manter-se, sublinhando que “se não houver movimentação do lado russo no Alasca, então os EUA e nós, europeus, devemos aumentar a pressão”. “O presidente Trump conhece esta posição, partilha-a amplamente e, por isso, posso dizer: tivemos uma conversa realmente excecionalmente construtiva e boa”, acrescentou Friedrich Merz. Por seu lado, Zelensky, que estava em Berlim com Merz, disse esperar que o encontro de sexta-feira entre Trump e Putin leve a um cessar-fogo imediato no conflito, e que, se tal não acontecer, devem ser reforçadas sanções contra a Rússia.O presidente ucraniano agradeceu ainda os esforços europeus na coordenação de posições e defendeu que Putin “não vai conseguir enganar ninguém”, adiantando que alertou Trump de que o líder russo “está a fazer bluff”. “Está a tentar pressionar (…) todos os setores da frente ucraniana” para mostrar que a Rússia é “capaz de ocupar toda a Ucrânia”, disse Zelensky. O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, defendeu que os países que apoiam a Ucrânia “estão unidos nos esforços para acabar com esta guerra terrível”, notando que “a bola está agora do lado de Putin”..Europa avisa Trump que a paz na Ucrânia não pode ser decidida sem Kiev