A presidente da Comissão Europeia deslocou-se a uma estância de golfe, propriedade de Donald Trump, na Escócia, para chegar a um acordo global de comércio. No início da reunião, o presidente dos Estados Unidos avisou que não estava bem disposto e que não iria aprovar um acordo com taxas aduaneiras aos produtos europeus abaixo de 15%. Acabou por ser essa a fasquia alcançada no acordo, evitando os 30% a aplicar a partir de 1 de agosto caso não houvesse entendimento, e a resposta europeia que iria desencadear uma guerra comercial. Apesar do anúncio do acordo, à saída da reunião Ursula von der Leyen revelou que só “nas próximas semanas” é que se saberá se as bebidas espirituosas e o vinho ficarão isentos das tarifas no quadro do acordo zero por zero. Numa visita privada de quatro dias à Escócia -- para jogar golfe na sua propriedade de Turnberry, a sudoeste de Glasgow, e para inaugurar outro campo de golfe, a nordeste de Aberdeen --, Donald Trump recebeu a presidente da Comissão no salão de baile do complexo turístico com o objetivo de evitarem uma guerra comercial. Ambos disseram que havia 50% de hipóteses de se chegar a bom porto, embora o anúncio de sexta-feira de que a dirigente alemã se iria deslocar à Escócia foi visto como um sinal de que o acordo estaria praticamente concluído. O encontro demorou uma hora e incluiu o comissário do Comércio Maros Sefcovic e o secretário norte-americano do Comércio Howard Lutnick. .“O acordo de hoje cria certezas em tempos incertos. Traz estabilidade e previsibilidade para cidadãos e empresas dos dois lados do Atlântico.”Ursula von der Leyen. No final, em conferência de imprensa, uma aliviada Ursula von der Leyen regozijava-se com o acordo “entre as duas maiores economias do mundo”, lembrando que 15% é o teto a que os produtos europeus irão ficar sujeitos, caso dos automóveis, produtos farmacêuticos e semicondutores. Mas sublinhou que o acordo mais vasto inclui exceções, no chamado “zero por zero” em produtos estratégicos, incluindo do setor aeronáutico, químico ou agrícola. “Vamos continuar a trabalhar para acrescentar mais produtos à lista”, afirmou.Questionada se acredita que os automóveis europeus vão conseguir competir no mercado americano, uma vez que durante a presidência Biden estavam sujeitos a tarifas de 2,5%, a presidente da Comissão lembrou que agora os automóveis estão sujeitos a 27,5%. “Foi o melhor que conseguimos”, admitiu, numa negociação que classificou de “dura, mas justa”. Reconheceu também que a imposição de 15% de taxas aduaneiras vai ser “um desafio para alguns”, mas que se mantém “o acesso ao mercado norte-americano”. Lembrou, por outro lado, que Bruxelas está a trabalhar para alcançar outros acordos comerciais, casos da Indonésia, México ou Índia. .“Vai aproximar-nos... é uma parceria, de certa forma. Vai trazer muita unidade e amizade. Este foi o maior [acordo] de todos.”Donald Trump. O acordo tem ainda mais dois pontos essenciais. A UE compromete-se a comprar o equivalente a 750 mil milhões de dólares em produtos de energia dos EUA (petróleo, gás e nuclear) nos próximos três anos, ponto anunciado por Trump e confirmado por von der Leyen. O presidente dos EUA disse ainda que o bloco de 27 países irá investir no seu país 600 mil milhões de dólares, mas não houve qualquer informação adicional.A Comissão deve informar os embaixadores da UE o quanto antes sobre o acordo, que ainda não está vertido num documento. Os Estados-membros têm de ratificar o futuro documento conjunto.