Apenas 500 tratores foram autorizados a entrar em Madrid. Outros 1000 ficaram às portas da cidade.
Apenas 500 tratores foram autorizados a entrar em Madrid. Outros 1000 ficaram às portas da cidade.EPA/JP GANDUL

Tractorada invadiu Madrid, mas o protesto acabou à hora marcada

Entre quatro e treze mil agricultores, conforme a versão da organização ou das autoridades, e cerca de 500 tratores desfilaram em protesto pelo centro de Madrid contra as políticas europeias. Na Porta de Alcalá, a polícia de choque agrediu alguns manifestantes.
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Agricultores vindos de várias zonas de Espanha tomaram ontem conta das ruas do centro de Madrid com uma tractorada composta por 500 tratores e com o aviso de que não sairiam da cidade até que deixassem entrar os restantes mil tratores que se encontravam às portas da capital. “Querem que entrem 500 tratores, mas não estamos dispostos a deixar os outros 1000 à entrada de Madrid, que estão retidos e vamos esperá-los até que entrem. Hoje é um dia de festa para os agricultores, mas estamos muito irritados porque não os deixam entrar”, explicava o coordenador da União das Uniões, Luis Cortés. Mas esta ameaça terminou por volta das 17.00 (16.00 em Lisboa), quando agricultores e os cerca de 70 tratores que conseguiram chegar à porta do Ministério da Agricultura começaram a desmobilizar do local, pois o protesto autorizado pela Delegação do Governo terminava a essa hora e não queriam ser multados. Decisão que não agradou a todos.

“A polícia começou a registar as matrículas dos tratores e corremos o risco de sermos multados”, explicou Luis Cortés, coordenador estadual da União das Uniões (UDU), que não faz parte do grupo de confederações agrícolas reconhecidas como interlocutoras do Ministério da Agricultura. Os tratores começaram a desmobilizar, aplaudidos pelos manifestantes, alguns aproveitando também para enrolar as suas bandeiras, enquanto outros não se mostravam convencidos com a decisão. “Resistiremos, a pé se necessário, e viremos ao protesto de dia 26 de fevereiro convocado pelas outras organizações”, disse ao El País um agricultor em frente ao ministério.

O protesto de ontem, que juntou cerca de 4000 pessoas (embora a organização fale em 13 mil) e 500 tratores, realizou-se no 16.º dia consecutivo de protestos de agricultores em toda a Espanha contra políticas e regulamentos europeus, tendo sido o maior que já chegou à capital espanhola. 

Com coletes amarelos refletores, chocalhos, apitos, vuvuzelas, bandeiras de Espanha e de diversas regiões autónomas, os agricultores criticaram “a asfixia” dos regulamentos europeus e aquilo que consideram ser a passividade do Governo espanhol perante a burocracia e regras a que estão sujeitos.

“Amnistia para o campo, não burocracia”, “Não somos a Espanha esvaziada, somos a Espanha abandonada”, podia ler-se em alguns dos cartazes e faixas empunhados pelos agricultores ou colocados nos tratores.

O momento mais tenso do protesto deu-se na Porta de Alcalá. EPA/MARISCAL

O ponto mais tenso deste dia de luta em Madrid deu-se por volta do meio-dia, quando tratores e manifestantes a pé se concentraram na Porta de Alcalá, no centro da cidade e um dos símbolos da capital. A polícia de choque agrediu com cassetetes os agricultores que queriam seguir até ao Congresso dos Deputados, um percurso que não estava previsto e autorizado na marcha de ontem. Cerca de 50 tratores e os manifestantes a pé seguiram depois até ao Ministério da Agricultura, na rotunda de Atocha.

Segundo o Ministério da Administração Interna espanhol, 53 pessoas foram detidas e 9080 foram identificadas nas manifestações de agricultores desde o passado dia 6, sendo que duas delas ocorreram ontem em Madrid, ambas por resistência e desobediências às autoridades. De acordo com a EFE, o primeiro homem foi detido cerca das 15.00 locais junto à estação da Atocha e o segundo uma hora mais tarde, um pouco antes de começar a desmobilização junto ao Ministério da Agricultura. Já o Gabinete de Emergências de Madrid informou que foi prestada assistência médica a dez pessoas - cinco manifestantes com golpes e fraturas e cinco polícias devido a hematomas. Dois agricultores e um agente tiveram de ser hospitalizados. 

Centenas de agricultores manifestaram-se ontem também noutras cidades espanholas, convocadas nestes casos pelas três confederações agrícolas que são interlocutoras do Governo (Asaja-Associação Agrária Jovens Agricultores, UPA-União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros e a Coordenadora de COAG -Organizações de Agricultores e Ganadeiros). Estas três organizações têm agendado um protesto em Madrid na segunda-feira.

No sul do país, cerca de dois mil tratores e outros veículos fizeram marchas lentas em redor de Múrcia e 400 entraram no centro da cidade. Em Málaga, manifestaram-se cerca de mil pessoas a pé, acompanhadas por cerca de 90 tratores, enquanto que em Cáceres, saíram à rua cerca de 100 veículos agrícolas e 600 pessoas. Houve ainda, entre outras, manifestações em Leão e Saragoça, onde uma autoestrada chegou a ser cortada.

ana.meireles@dn.pt

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