Mark Carney cumprimenta a mulher, Diana, após a vitória.
Mark Carney cumprimenta a mulher, Diana, após a vitória.DR/X/Mark Carney

Sucessor de Trudeau lança farpas a Trump: “O Canadá vai vencer”

Novo líder do Partido Liberal, Mark Carney, tem pela frente a guerra comercial com os EUA. O economista com currículo, mas sem experiência política, terá de lidar com eleições federais antecipadas.
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Vencer a eleição para a liderança do Partido Liberal, conseguindo 86% das primeiras preferências dos militantes no domingo à noite e esmagando os três adversários, foi o mais fácil para Mark Carney. Os próximos passos afiguram-se mais difíceis para o economista, que nunca ocupou cargos políticos, mas que foi governador do Banco do Canadá e do Banco de Inglaterra e está a dias de cumprir 60 anos. Após suceder nos próximos dias (ainda não há data) ao primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, terá de enfrentar eleições federais antecipadas e a guerra comercial com o vizinho do sul.

“Há alguém que está a tentar enfraquecer a nossa economia: Donald Trump. Donald Trump impôs tarifas injustificadas sobre o que construímos, sobre o que vendemos e sobre a forma como ganhamos a vida. Está a atacar trabalhadores, famílias e empresas canadianas. Não podemos deixá-lo ter sucesso e não o faremos”, disse Carney, que mencionou o presidente norte-americano nove vezes no seu discurso de vitória. Trump não respondeu aos ataques, de imediato. Os EUA anunciaram tarifas de 25% contra o Canadá, que retaliou da mesma forma. “O meu governo vai manter as nossas tarifas até os americanos nos demonstrarem respeito”, referiu o novo líder liberal.

Os ataques contra Trump surgiram no discurso ainda antes do nome do líder da oposição, o conservador Pierre Poilievre, que no total foi mencionado em oito ocasiões - muitas delas em ligação ao próprio presidente dos EUA. “Donald Trump pensa que nos pode enfraquecer com o seu plano de dividir e conquistar. O plano de Pierre Poilievre vai deixar-nos divididos e prontos a ser conquistados. Porque alguém que adora no altar de Donald Trump vai ajoelhar-se diante dele, não enfrentá-lo.”

O principal alvo de Carney é Poilievre, que há meses surge à frente nas sondagens para as Eleições Federais, que por lei têm que acontecer até outubro, mas que devem ser antecipadas já para final de abril ou início de maio. O novo líder dos liberais, que nem sequer é deputado, vai assumir a liderança de um governo minoritário e pode convocar estas eleições logo que tomar posse. Caso contrário, já sabe que, quando o Parlamento voltar a reunir, no final do mês, será alvo de uma moção de censura da parte dos partidos da oposição.

A estratégia de ligar Poilievre a Trump surge depois de o líder dos conservadores ter recebido o apoio do principal conselheiro do presidente norte-americano, o milionário dono do X e da Tesla Elon Musk. E porque os liberais conseguiram recuperar terreno nas sondagens nas últimas semanas (surgem mesmo à frente em três delas). Tudo por causa da ameaça das tarifas norte-americanas, mas também dos ataques de Trump contra Trudeau - chamando-lhe “governador” - e da ameaça de que o Canadá se possa tornar no “51.º Estado” dos EUA.

“A América não é o Canadá. E o Canadá nunca, nunca, será parte da América, de forma alguma. Não pedimos esta luta, mas os canadianos estão sempre preparados quando outra pessoa tira as luvas [uma referência ao hóquei no gelo, quando esse gesto antecede uma luta entre jogadores]. Por isso, os americanos não se devem enganar... No comércio, tal como no hóquei, o Canadá vai vencer”, afirmou Carney, referindo-se à vitória da equipa canadiana no Torneio das 4 Nações, em fevereiro. Mas o futuro primeiro-ministro admitiu que “esta vitória não será fácil”.

Mais cedo, tinha sido Trudeau a usar outra expressão do hóquei no gelo no discurso de despedida. “Somos um país que será diplomático quando puder, mas lutará quando for necessário. Elbows up”, afirmou, repetindo uma expressão que em português significa “cotovelos para cima” e que marca o início de uma luta naquele que é o desporto nacional oficial de inverno. A expressão tornou-se um grito de guerra contra Trump no Canadá, com o humorista canadiano Mike Myers a repeti-la no final do programa de televisão Saturday Night Live (onde faz de Musk).

Os canadianos parecem mesmo preparados para a luta. A província de Ontário anunciou ontem uma taxa de 25% sobre a energia que exporta para três estados norte-americanos (Minnesota, Michigan e Nova Iorque), o que poderá custar 400 mil dólares por dia (cerca de 370 mil dólares) aos EUA. “Farei o que for preciso para maximizar a dor a Donald Trump”, disse o líder provincial, Doug Ford.

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