Será que à oitava é de vez? Farage muda de ideias e candidata-se
Nigel Farage começou esta terça-feira a sua oitava campanha para tentar ser eleito deputado no Parlamento britânico, tentando deixar para trás a sua imagem de agitador eurocético, mostrando que é alguém que quer “remodelar” a política de direita no Reino Unido. O antigo eurodeputado, de 60 anos, abalou a campanha eleitoral na segunda-feira ao anunciar que tinha mudado de ideias e que afinal seria candidato às eleições gerais de 4 de julho, tendo escolhido como círculo Clacton, um eleitorado pró-Brexit que o seu antigo Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) já deteve, mas também que tinha voltado a ser líder da sua nova força política, o Reform UK.
E foi em Clacton que Nigel Farage iniciou esta terça-feira a sua campanha eleitoral, transmitindo a sua mensagem populista. “O que precisamos é de reativar um exército popular contra o sistema”, afirmou, perante centenas de apoiantes reunidos à beira-mar.
Criticou também os conservadores do primeiro-ministro Rishi Sunak por permitirem que a imigração para o Reino Unido aumentasse dramaticamente, dizendo que estes “merecem pagar um preço” pelo seu desempenho durante 14 anos no poder.
Numa série de entrevistas recentes, Farage garantiu estar a planear uma “tomada de controlo” pós-eleitoral do partido Conservador em vez de se juntar às suas fileiras. “Podem especular sobre o que acontecerá dentro de três ou quatro anos, tudo o que direi é que se o Reform tiver sucesso da maneira que penso que pode, então uma parte do Partido Conservador juntar-se-á a nós, é o sentido inverso”, explicou numa entrevista ao “Good Morning Britain”. “Não quero aderir ao Partido Conservador, acho que o melhor a fazer seria assumi-lo”, acrescentou.
Farage foi cofundador do UKIP em 1993, vencendo as eleições para o Parlamento Europeu seis anos depois e tendo permanecido em Estrasburgo até 2020. O seu partido eurocético obteve uma vitória sem precedentes nas eleições europeias em 2014, tendo conquistado o seu primeiro lugar na Câmara dos Comuns do Reino Unido nesse mesmo ano, numa eleição especial levada a cabo após o deputado eleito por Clacton ter trocado os conservadores pelo UKIP - este assento acabou por voltar para os tories em 2017.
As casas de apostas estão a dar Farage como favorito a vencer em Clacton, apesar de os conservadores terem conquistado uma maioria de quase 25 mil votos em 2019. Na opinião do especialista em sondagens John Curtice é “difícil avaliar” se o líder do Reform UK vai sair vencedor, pois “mesmo nestes tempos difíceis para os conservadores, parece um lugar muito seguro”, segundo escreveu no The Daily Telegraph.
“Essas pessoas, ao contrário de vocês em Clacton, não são genuinamente patrióticas. Eles não acreditam no Reino Unido e no povo britânico como vocês”, disse Farage na sua ação de campanha referindo-se aos tories, e descreveu Clacton como “a cidade mais patriótica do Reino Unido”. Uma ação de campanha que não terminou sem incidentes, com Farage a ser atingido com um batido de banana do McDonald’s quando saía de um pub, segundo o The Sun. Um incidente que faz lembrar os ataques semelhantes de que Farage e outros políticos de extrema-direita foram alvo em maio de 2019, durante a campanha para as europeias, e que deram origem à expressão milkshaking.
Uma maioria histórica
Este regresso de Farage ensombrou, segundo os media britânicos, o grande evento de campanha agendado também para esta terça-feira, mas já à noite: o primeiro debate televisivo entre o primeiro-ministro conservador Rishi Sunak e o líder dos trabalhistas Keir Starmer.
Sunak está sob uma intensa pressão para reiniciar a vacilante campanha do seu partido, depois de duas sondagens publicadas na segunda-feira preverem que os conservadores vão sofrer uma derrota histórica a 4 de julho. Mas também porque a entrada em jogo de Nigel Farage abre a perspetiva de uma divisão no voto da direita.
Os trabalhistas têm surgido à frente de todas as sondagens desde dezembro de 2021, com uma vantagem média de 20 pontos percentuais em relação aos conservadores, no poder há 14 anos. A sondagem da YouGov para a Sky News, e revelada na segunda-feira, mostrou que o Labour poderá conquistar 422 dos 650 assentos no parlamento (uma maioria de 194 eleitos), naquele que seria o maior número de deputados de qualquer partido em qualquer eleição desde que o conservador Stanley Baldwin obteve uma maioria de 208 em 1924. Já a sondagem da More in Common dava uma maioria trabalhista de 114. De referir que os dois estudos de opinião foram realizados antes de Farage anunciar a candidatura.
ana.meireles@dn.pt