Abertura da Sessão plenária “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”, durante a Cúpula de Líderes do BRICS no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.
Abertura da Sessão plenária “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”, durante a Cúpula de Líderes do BRICS no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.Alexandre Brum/BRICS Brasil

Sem Xi, cimeira dos BRICS termina com promessa de reforço do multilateralismo e ameaças de tarifas de Trump

Durante dois dias, representantes dos 11 países integrantes do grupo reuniram-se no Brasil. Pedem reforma da ONU, defendem a Palestina, condenam ataques contra o Irão e cobram financiamento climático.
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O presidente dos Estados Unidos bem que tentou, mas parece não ter conseguido desestabilizar o encontro das 11 maiores economias emergentes do mundo. Nesta segunda-feira, 7 de julho, segundo e último dia da 17.ª Cimeira dos BRICS, no Brasil, o anfitrião do evento, Lula da Silva, afirmou que "cada país é dono do seu nariz" e que as ameaças de Donald Trump de taxar em 10% a mais qualquer país que alinhe nas políticas do bloco não preocupam os líderes.

"Na reunião dos BRICS ninguém tocou nesse assunto, ou seja, como se não tivesse ninguém falado. Não demos nenhuma importância a isso", disse Lula, citado pela Agência Brasil.

O presidente criticou a declaração de Trump, feita numa rede social. "Sinceramente, eu nem acho que eu deveria comentar, porque eu não acho uma coisa muito responsável e séria o presidente da república de um país do tamanho dos Estados Unidos ficar ameaçando o mundo através da internet", acrescentou.

O último compromisso oficial da cimeira foi uma reunião voltada para meio ambiente. Numa declaração conjunta inédita, os líderes comprometem-se a "liderar uma mobilização global para engajar o Sistema Monetário e Financeiro Internacional por medidas mais justas e eficazes de ampliação do financiamento climático". O objetivo é proteger os países do chamado Sul Global.

“Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos. São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação. O Sul Global tem condições de liderar um novo paradigma de desenvolvimento, sem repetir os erros do passado”, disse o presidente Luiz da Silva na abertura da sessão.

Fotografia de família dos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros do BRICS no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.
Fotografia de família dos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros do BRICS no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro.Paulo Mumia/BRICS Brasil

Tão inédito quanto o acordo pelo financiamento climático foi a ausência de Xi Jinping. Esta foi a primeira vez desde que assumiu o poder que o presidente chinês não compareceu a uma cimeira, enviando o número dois do governo, Li Qiang. A falta foi interpretado por alguns analistas como uma derrota para o Brasil e como uma falha da China em se afirmar internacionalmente como uma alternativa à liderança internacional dos Estados Unidos.

Também fisicamente ausente, alvo de um mandado de prisão por crime de guerra, o presidente russo, Vladimir Putin, participou de forma virtual.

O bloco deve a sua sigla aos membros fundadores: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No ano passado, foram incluídos o Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irão. Na declaração oficial da cimeira, chamada de Declaração do Rio de janeiro, os líderes condenam os ataques a este último membro, embora sem citar diretamente os Estados Unidos ou Israel.

Ainda no rol de conflitos internacionais, o grupo defende a criação de dois Estados: o Palestiniano e o de Israel, e pede o fim da violência na Faixa de Gaza. Sobre a guerra perpetrada pela Rússia, a mensagem é de que o bloco relembrou as "posições nacionais em relação ao conflito na Ucrânia, expressas nos fóruns apropriados", sem demonstrar apoio ao país ou condenar as ações de Putin. "Registramos com apreço as propostas relevantes de mediação e bons ofícios, incluindo a criação da Iniciativa Africana de Paz e do Grupo de Amigos para a Paz, voltadas para a resolução pacífica do conflito por meio do diálogo e da diplomacia. Esperamos que os esforços atuais conduzam a um acordo de paz sustentável", lê-se na declaração.

Um dos pontos reforçados é a cobrança por uma "reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e de aumentar a representação dos países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

Os BRICS deixam claro que, nos tempos atuais, o reforço do multilateralismo é fundamental. "Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio", diz um dos pontos do documento.

Do Brasil, a próxima presidência dos BRICS passa para a Índia, que deverá organizar a 18.ª Cimeira no ano que vem.

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