Moscovo respondeu à iniciativa norte-americana de convocar uma reunião bilateral entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky com cautela e sem sentido de qualquer urgência. Em paralelo, Donald Trump esclareceu que as garantias de segurança a oferecer à Ucrânia não passam pelo envio de tropas para o terreno, mas por apoio aéreo; e os aliados e parceiros de Kiev multiplicam reuniões para discutir os formatos das referidas garantias de segurança e do envio de uma força de dissuasão.A presidência dos Estados Unidos desejava que a reunião entre os líderes da Ucrânia e da Rússia tivesse lugar no prazo de duas semanas, no seguimento dos encontros de Trump com Putin, na sexta-feira, e com Zelensky e também com sete líderes europeus, na segunda-feira. Mas o relógio do Kremlin não bate à mesma velocidade do da Casa Branca. Por um lado, a presidência russa não confirmou estar disposta a reunir-se com o líder ucraniano. Por outro, o ministro dos Negócios Estrangeiros disse que tal cenário, ou outro com mais líderes, demora o seu tempo a concretizar-se, incluindo reuniões preparatórias. “A chave não é organizar formatos multilaterais apenas para o bem das manchetes dos jornais matutinos, dos programas de televisão à noite ou das conversas nas redes sociais”, comentou Sergei Lavrov. “Devem ser realizados para preparar cuidadosamente as cimeiras passo a passo, começando a partir do nível de especialistas e passando por todas as etapas necessárias”, frisou. O veterano diplomata disse também que a Rússia “não rejeita qualquer formato de negociações sobre a Ucrânia, nem bilateral nem trilateral”, mas também não confirmou o encontro com o homem sobre o qual disse que tinha “sangue judeu como Hitler”. Na Casa Branca, a porta-voz Karoline Leavitt confirmou que Putin respondeu de forma positiva à iniciativa de Trump, quando este telefonou a propor a reunião bilateral. “Foi uma ideia que evoluiu no decurso das conversas do presidente com o presidente Putin, com o presidente Zelensky e os líderes europeus”, disse. No entanto, nada está garantido. “Posso assegurar que a administração Trump está a trabalhar quer com a Rússia quer com a Ucrânia para que a reunião bilateral aconteça.”Lavrov aproveitou para dizer que as cedências de território farão parte essencial de futuras conversações. “As alterações territoriais são frequentemente um componente integral na celebração de acordos. Existem muitos exemplos desse tipo”, disse em entrevista ao canal de TV Rossiya 24. Moscovo tem repetido que quaisquer negociações devem ter em linha de conta as “realidades no terreno” e anexou as regiões de Kherson, Zaporíjia, Donetsk e Lugansk, as quais só controla parcialmente, além da Crimeia, anexada em 2014. “Quero enfatizar mais uma vez: nunca falámos em simplesmente apropriar-nos de alguns territórios. Nem a Crimeia, nem o Donbass [leste da Ucrânia], nem a Novorossiya [regiões do sul e leste da Ucrânia no império russo ], a principal tarefa foi proteger o povo russo.” Lavrov referir-se-á aos falantes de russo na Ucrânia que Moscovo disse estarem à beira de serem vítimas de “genocídio” da presidência de Zelensky, bastas vezes comparado a um regime neonazi; ou à aspiração de Kiev em aderir à NATO e à União Europeia, objetivos a que a Rússia abertamente se opõe no caso da aliança militar e de forma mais discreta no caso do clube europeu. .Trump promete “muita ajuda” a Zelensky e diz que Putin aceita garantias de segurança.Em entrevista à Fox News, Donald Trump voltou a alinhar com parte do discurso russo. Disse que a Ucrânia terá de deixar de lado a esperança de recuperar a Crimeia como a ambição de aderir à Aliança Atlântica. “Ambas as coisas são impossíveis”, declarou. Na mesma ocasião, o presidente dos EUA deu um pouco mais de luz sobre a ajuda com que se comprometera para a Ucrânia na véspera. Disse que cabe à Europa encabeçar os esforços para manter a paz, uma vez que esta seja alcançada, e que os EUA poderão participar, mas sem tropas. “Têm a minha garantia”, afirmou. “No que respeita à segurança, [os europeus] estão dispostos a enviar gente para o terreno. Nós estamos dispostos a ajudá-los com coisas, em especial e provavelmente pelo ar, porque não há ninguém que tenha o tipo de recursos que temos” , disse em referência à capacidade de recolha de informações e de dissuasão aérea.A sua porta-voz voltou ao tema mais tarde, tendo dito que o apoio aéreo é “uma opção e uma possibilidade”. Continuou Leavitt: “O presidente compreende que as garantias de segurança são de uma importância crucial para garantir uma paz duradoura, e deu instruções para a sua equipa de segurança nacional se coordenar com os nossos amigos na Europa.”No continente europeu realizaram-se duas reuniões para analisar os últimos desenvolvimentos diplomáticos sobre a guerra na Ucrânia. Em Londres e Paris, Keir Starmer e Emmanuel Macron organizaram uma videoconferência com os países envolvidos na chamada Coligação dos Dispostos. No final, um porta-voz do primeiro-ministro britânico disse que as equipas de planeamento da coligação vão reunir-se com os homólogos norte-americanos nos próximos dias “para fortalecer ainda mais os planos de fornecer garantias de segurança robustas e preparar a implantação de uma força de dissuasão [na Ucrânia] caso as hostilidades cessem”. Mais tarde, o presidente do Conselho Europeu dirigiu uma videoconferência com os líderes dos 27. No final, o português apelou para que se continue a pressionar a Rússia com mais um pacote de sanções, defendeu a entrada da Ucrânia na UE o quanto antes e disse que foi discutido como é que Bruxelas pode “dar credibilidade” ao processo de paz.