Seis meses depois da criação da chamada Coligação dos Dispostos, já houve muitas reuniões dos 35 países (a maioria europeus) que se mostraram disponíveis para fazer parte de uma força de manutenção de paz e prometeram um plano de segurança pós-guerra viável para a Ucrânia. Mas os resultados concretos têm sido poucos e havia esperança de que isso pudesse mudar com a reunião desta quinta-feira (4 de setembro), em Paris.O encontro presidido pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer (que participou à distância), incluiu uma videoconferência com o presidente norte-americano Donald Trump. No final, Macron anunciou que 26 países já se comprometeram em estar “em terra, no mar ou no ar” para ajudar os ucranianos depois do final da guerra, revelando que em cima da mesa está “um plano militar robusto” mas que este não será revelado para manter a Rússia no escuro. “É a nossa linha de defesa e a da Ucrânia”, indicou Macron.O presidente francês, que teve ao seu lado o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, não especificou que países se comprometeram a fazer parte desta força - há resistência da Alemanha, de Itália ou da Polónia. O chanceler alemão, Friedrich Merz, disse aos aliados que a decisão de Berlim vai depender do envolvimento dos EUA (e da aprovação do Bundestag), defendendo que o foco deve ser neste momento em “financiar, armar e treinar as Forças Armadas ucranianas”. A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também deixou claro na reunião que Itália está “indisponível” para enviar soldados para a Ucrânia, mas apoiará “um eventual cessar-fogo através de iniciativas de monitorização e formação fora das fronteiras” ucranianas. O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, também já disse antes que a Polónia não enviaria tropas para a Ucrânia, mas será “responsável pela organização logística da ajuda à Ucrânia, assim como a proteção da fronteira europeia”. Macron explicou que esta força que será criada por estes 26 países (até agora, estando aberta a mais) “não tem vontade ou o objetivo de entrar em guerra contra a Rússia”. E reiterou que “os EUA foram muito claros na sua vontade de fazer parte das garantias de segurança”. Os pormenores finais serão terminados “nos próximos dias”, com Zelensky a congratular-se com este “avanço” concreto nos trabalhos da Coligação dos Dispostos - anunciada por Starmer no início de março. “Discutimos detalhadamente a prontidão de cada país em contribuir para garantir a segurança em terra, no mar, no ar e no ciberespaço. Coordenámos posições e analisámos elementos de garantias de segurança. Agradeço a todos a compreensão de que a principal garantia de segurança é um forte exército ucraniano”, indicou Zelensky no X. “Partilhamos a mesma opinião de que a Rússia está a desenvolver todos os esforços para prolongar o processo negocial e a guerra. O apoio à Ucrânia deve ser alargado e a pressão sobre a Rússia deve ser intensificada”, acrescentou.A Rússia tem criticado a possibilidade de tropas ocidentais serem destacadas para a Ucrânia, mas o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, lembrou que não cabe a Moscovo decidir. “Por que é que estamos interessados no que a Rússia pensa sobre a Ucrânia?”, perguntou numa cimeira sobre Defesa em Praga. “A Ucrânia é um país soberano”, acrescentou, lembrando que caberá a Kiev decidir se quer ou não forças de segurança no seu país para apoiar a paz.Agradecimento a TrumpO presidente ucraniano agradeceu especialmente ao homólogo norte-americano, Donald Trump, “por todos os seus esforços para pôr fim a esta guerra e pela disponibilidade dos EUA para prestar apoio à Ucrânia”. Os EUA não fazem parte da Coligação dos Dispostos, mas no final da reunião Trump juntou-se via videoconferência. O presidente norte-americano foi informado do trabalho dos mais de 30 países.“A Ucrânia não escolheu a guerra e aceitou o cessar-fogo incondicional proposto por Trump”, afirmou Macron na conferência de imprensa conjunta com Zelensky, lembrando que, do lado oposto, “a Rússia agarrou-se a este desejo de guerra permanente, intensificando os seus ataques contra civis, com resultados inaceitáveis”. A Coligação dos Dispostos avisa Moscovo que se continuar a recusar a paz, então haverá novas sanções “em coordenação com os EUA”.Aos jornalistas, Zelensky admitiu que o encontro com Putin “não é uma questão de prazer, mas de necessidade”, reiterando que a Ucrânia aceitou todas as propostas e formatos para tal, mas a Rússia faz de tudo para o impedir. A última proposta de Putin é um encontro em Moscovo, algo que Zelensky rejeita totalmente. Desde Glasgow, Starmer lembrou que não se pode confiar em Putin, “que continua a atrasar as negociações de paz e, simultaneamente, continua os seus ataques flagrantes contra a Ucrânia”.Segundo a Casa Branca, na videoconferência, Trump defendeu que os europeus devem parar de comprar petróleo russo -- lembrando que isso está a ajudar a Rússia a pagar a sua guerra contra a Ucrânia. “O presidente também enfatizou que os líderes europeus devem exercer pressão económica sobre a China para financiar os esforços de guerra da Rússia”, indicou a mesma fonte, citada pela Reuters. Trump pressiona os europeus, mas ele próprio não aplica sanções - apesar das múltiplas ameaças.Zelensky também defende que a chave para acabar com a guerra é privar “a máquina de guerra russa” de recursos, pressionando para mais sanções contra Moscovo. Em relação a mais apoio à Ucrânia, o presidente lembra que “o elemento central das garantias de segurança” passa por ter um exército ucraniano forte - querendo mais apoio em treino, produção e em fornecimento de armamento. E deixa um aviso aos europeus: “as linhas de produção de armas não estão a trabalhar o suficiente”, pedindo mais investimento para que possam trabalhar em plena capacidade.