O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, sabia que iria enfrentar novamente no Congresso as acusações em volta do caso Koldo - um esquema de corrupção na compra de máscaras contra a covid-19 que afeta os socialistas há semanas. E respondeu partindo para o ataque, pedindo ao líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, que exigisse a demissão da presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, cujo companheiro está a ser investigado por fraude fiscal também na compra de material na pandemia. Feijóo ripostou com as suspeitas em relação à mulher do líder socialista e o resgate da Air Europa. .A sucessão de escândalos de corrupção, de um e de outro lado, marcaram o debate, onde o primeiro-ministro até recuperou a relação de Feijóo com um narcotraficante galego nos tempos em que estava à frente do governo da Galiza. “Os dois principais partidos envolveram-se numa batalha onde nem um único pedaço de lixo ficou por atirar”, resumiu o El País. .O mais recente “pedaço de lixo” prende-se com a acusação contra o companheiro de Ayuso desde 2021, o empresário Alberto González Amador, com Sánchez a defender que Feijóo deve pedir a sua demissão “mesmo que isso lhe custe o cargo como a Casado”. Uma referência ao anterior líder do PP, Pablo Casado, que em 2022 deixou o partido após perder uma disputa interna com a líder da Comunidade de Madrid - quando o irmão desta se viu envolvido num escândalo também em torno do material comprado durante a pandemia e veio a público que Ayuso estaria a ser espiada pelo próprio partido. .A presidente do PP de Madrid volta a estar debaixo de fogo, agora em relação ao atual companheiro, que é acusado de fraude fiscal - passando faturas falsas para reduzir os impostos pagos pela sua empresa em 2020 e 2021. Ayuso respondeu às acusações, dizendo que o seu companheiro foi alvo de uma “inspeção fiscal selvagem” com o objetivo de a desestabilizar e procurar a sua “destruição pessoal”. E disse que é o fisco que deve 600 mil euros a Alberto González. .“Não existe um esquema de faturas, não existem empresas de fachada”, disse Ayuso numa conferência de imprensa, acusando Sánchez de querer “tapar o escândalo” Koldo e o da aprovação da “lei mais corrupta da democracia, a da amnistia a alegados terroristas”. E insistiu: “Sánchez não vai tapar o seu escândalo mesmo que peça a minha demissão”, acusando o governo socialista de procurar a sua “destruição pessoal”. .“Se, depois de toda uma vida a trabalhar, esta pessoa tem um património e pode-se permitir comprar uma casa, um carro ou sete, desde que seja legal, desde que tudo esteja no notário, sou livre de entrar nesse carro ou meter-me nessa cama”, acrescentou Ayuso. “Se sou culpada de algo é de ter uma relação com um cidadão anónimo”, afirmou, lembrando que não está em causa qualquer contrato com a Comunidade de Madrid. E recorreu à ironia: “A próxima vez que sair com alguém, vou pedir-lhe o currículo, o certificado do Fisco e o certificado de vacinas.”.Feijóo tinha começado a sessão no Congresso ao primeiro-ministro a acusá-lo, de novo, de “saber e esconder” o escândalo em torno de Koldo Garcia e o seu antigo ministro José Luis Ábalos - referente a contratos para fornecer máscaras durante a pandemia de covid-19. Sánchez respondeu com o caso do companheiro de Ayuso, que não tinha usado na véspera na sessão de controlo no Senado. Feijóo ripostou com as suspeitas em relação à mulher do primeiro-ministro, Begoña Gómez, e os supostos “vínculos de natureza económica e profissional” com a Air Europa - com o PP a pedir a avaliação de um eventual “conflito de interesses” de Sánchez, cujo governo aprovou o resgate da companhia aérea. .Entretanto, o barómetro do Centro de Investigações Sociológicas (CIS) de março foi divulgado esta quarta-feira. Se as eleições espanholas fossem hoje, o PP ganharia com 34% dos votos (mais um ponto percentual do que há um mês) com o PSOE a ficar-se nos 31,3% (menos 1,7 pontos), ressentindo-se já do escândalo Koldo e das eleições galegas ganhas pelo PP. O Vox teria 9,9% (mais dois pontos) e o Sumar teria 9,2% (menos um ponto). .Os escândalos em causa.Caso Ayuso A presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, está debaixo de fogo por causa dos negócios do companheiro. Alberto González Amador está a ser investigado por alegada fraude ao fisco no valor de cerca de 350 mil euros entre 2020 e 2021, através de faturas falsas e empresas de fachada. Além disso, o empresário é ainda suspeito de cobrar comissões de dois milhões de euros em contratos para a compra de máscaras e outro material contra a covid-19 durante os meses mais críticos da pandemia, segundo a imprensa espanhola. Caso Koldo Os escândalos de corrupção na compra de máscaras contra a covid-19 também estão a afetar o PSOE. O caso Koldo, como é conhecido, rebentou com a detenção de várias pessoas acusadas de receber subornos, entre elas Koldo Garcia, assessor do ex-ministro José Luis Ábalos, aliado chave do primeiro-ministro Pedro Sánchez. Garcia é suspeito de ser um dos líderes de um esquema que permitiu que uma pequena empresa ganhasse contratos de 53 milhões de euros para fornecer máscaras a várias autonomias entre março e junho de 2020. Terão sido pagos subornos no valor de 9,5 milhões de euros. O PSOE pediu que Ábalos - que entretanto já foi apontado como eventual “intermediário - se demitisse de deputado, o que ele recusou, tendo sido entretanto suspenso do partido. Entretanto o PP levantou também questões em relação aos contratos da empresa com as Canárias e as Baleares, as primeiras então governadas pelo atual ministro da Política Territorial, Ángel Victor Torres, e as segundas pela atual líder do Congresso, Francina Armengol. Caso Air Europa O PP vai pedir às autoridades que avaliem um eventual caso de “conflito de interesses” do próprio Sánchez, por não se ter ausentado das reuniões do Conselho de Ministros onde foi tomada a decisão de resgatar a Air Europa (com 795 milhões de euros de fundos públicos), uma companhia que tem “vínculos de natureza económica e profissional com a sua mulher, Begoña Gómez”. O PP diz que está “comprovado que a Air Europa financiou a cátedra universitária” da mulher do primeiro-ministro, apenas um mês depois de Sánchez chegar ao governo..susana.f.salvador@dn.pt