A segunda ronda de negociações diretas entre delegações da Rússia e da Ucrânia, em Istambul, teve um atraso maior do que o tempo da reunião em si. As expectativas não eram altas, mas os mínimos foram atingidos ao acordar-se nova troca de prisioneiros e de feridos e doentes. O que ficou claro, por fim, são as exigências de Moscovo para se chegar a um cessar-fogo, e estas passam pelo reconhecimento internacional das suas anexações, bem como da retirada das tropas ucranianas das regiões sob ocupação russa. A delegação russa entregou à parte ucraniana o memorando com a sua visão maximalista para se chegar ao fim da guerra. Segundo as agências de notícias russas, Ria Novosti e TASS, a Rússia exige à Ucrânia a "retirada completa" das tropas das quatro regiões do país cuja anexação Moscovo reivindica antes de qualquer cessar-fogo global (Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson) como condição prévia para um cessar-fogo de 30 dias. Em paralelo, exige o "reconhecimento jurídico internacional" dessas regiões como territórios russos, bem como da península da Crimeia, anexada em 2014.No documento de três páginas, Moscovo exige a neutralidade da Ucrânia; o levantamento das sanções económicas contra a Rússia e que a Ucrânia renuncie a reclamar reparações à Rússia; organização de eleições antes da assinatura de um tratado de paz e "o mais tardar cem dias após o levantamento da lei marcial", e a proibição da realocação das forças armadas ucranianas. Também quer o fim do fornecimento de armas ocidentais a Kiev bem como a partilha de informações militares; interdita o destacamento de armas nucleares para a Ucrânia. Por fim, quer que a Ucrânia liberte os "prisioneiros políticos" e respeite "os direitos, liberdades e interesses dos russófonos" no seu território.Após as negociações de 16 de maio em Istambul, a Rússia anunciou que iria preparar um memorando para um cessar-fogo e que serviria de base para um futuro acordo de paz. Ao contrário de Kiev, que entregou as suas propostas para um cessar-fogo à Rússia antes da ronda negocial, Moscovo só apresentou o documento na reunião de segunda-feira, ignorando o pedido do ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha. O porta-voz daquele ministério, Herhii Tykhyi, sugeriu que a Rússia não estava disposta a partilhar o documento antecipadamente porque estaria repleto de exigências. Foi essa a reação do presidente ucraniano, ao ser questionado pelos jornalistas em Vilnius, onde esteve presente numa cimeira de países da NATO do norte e do leste da Europa. Disse que ainda não tinha o memorando russo, mas que recebera "informações de parceiros e serviços de informações parceiros" sobre o que poderia conter. "É muito semelhante às exigências do tipo ultimato da Rússia", considerou Volodymyr Zelensky.Do lado ucraniano, o documento exigia um cessar-fogo total de pelo menos 30 dias, a devolução de centenas de crianças e a libertação de todos os prisioneiros civis para se passar à etapa seguinte, as negociações de paz. Ao contrário do documento russo, no qual não consta qualquer concessão, Kiev propõe o levantamento das sanções económicas, ainda que de forma gradual. Segundo Zelensky, a próxima troca de prisioneiros poderá vir a ser ainda maior do que a anterior (mil para cada lado) e realizar-se em duas ocasiões. "Serão mil por mil, com possivelmente mais 200 por 200, porque a Ucrânia levantou a questão de pessoal militar adicional, prisioneiros políticos e jornalistas", disse o presidente ucraniano. Também ficou acordado entregar os corpos de 6 mil soldados de cada lado.Quanto ao cessar-fogo, Moscovo propôs em alternativa pausas "entre dois e três dias em certas secções da linha da frente" para recuperar os cadáveres, disse o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky. A reação de Zelensky não foi a mais diplomática: "Acho que eles são idiotas. Um cessar-fogo tem como objetivo impedir que pessoas sejam mortas."Ainda assim, o presidente turco Recep Erdogan classificou a reunião de "ótima" e desejou reunir em Istambul ou em Ancara os líderes da Ucrânia e da Rússia, bem como o presidente norte-americano. A porta-voz da Casa Branca reiterou que Donald Trump está pronto para esse encontro. .Negociações terminam ao fim de apenas uma hora. Kiev entrega lista de crianças que quer que Moscovo devolva.UE insiste em pressionar a Rússia a aceitar cessar-fogo. Zelensky pede a Trump para visitar a Ucrânia