O ano de 2025 tem sido marcado pelo regresso de Donald Trump à Casa Branca e pelo novo capítulo que foi aberto nas relações entre os Estados Unidos e a Europa, desde a guerra tarifária à recente divulgação da Estratégia de Segurança Nacional norte-americana, que alerta que o bloco europeu precisa de corrigir o rumo se quiser ser um aliado fiável de Washington, mas também que está a afogar-se em regulamentos e censuras ilegais e excessivas. Com os europeus ainda a digerir o conteúdo deste documento, eis que um novo episódio atirou para um novo baixo a relação entre Europa e Estados Unidos, que decidiram na terça-feira, 23 de dezembro, impor uma proibição de vistos a cinco figuras europeias que têm estado no centro da campanha para introduzir leis que regulem as empresas tecnológicas norte-americanas. O grupo foi afetado por uma política de vistos anunciada em maio que pretende limitar a entrada de estrangeiros considerados responsáveis pela censura de discursos protegidos nos EUA.O nome mais sonante dos visados por esta sanção é o francês Thierry Breton, comissário no primeiro mandato de Ursula von der Leyen (tendo-se demitido do cargo em 2024 por desentendimentos públicos com a alemã) e o arquiteto da Lei dos Serviços Digitais da União Europeia (DSA), uma figura polémica mas que agora está a recolher uma unanimidade de apoios. A DSA, em vigor desde 2022, entre outras coisas, introduziu regras rígidas para as grandes empresas tecnológicas quanto à proteção da privacidade, combate à desinformação, recolha de dados e prevenção de discursos de ódio online, o que é visto pela Casa Branca de Trump, como uma tentativa de censurar opiniões e restringir o setor tecnológico norte-americano.“Será que a caça às bruxas de McCarthy está de volta? Recordando: 90% do Parlamento Europeu - o nosso órgão democraticamente eleito - e todos os 27 Estados-membros votaram unanimemente a favor da DSA”, reagiu Breton no X, deixando um recado: “Aos nossos amigos americanos: 'A censura não está onde vocês pensam'.”Os outros quatro visados foram Imran Ahmed, diretor executivo britânico do Centro para o Combate ao Ódio Digital, sediado nos EUA, Anna-Lena von Hodenberg e Josephine Ballon, da organização alemã sem fins lucrativos HateAid, e Clare Melford, cofundadora do Índice Global de Desinformação.Os cinco foram classificados pelo secretário de Estado norte-americano como ativistas “radicais” e as organizações não governamentais que representam como “instrumentalizadas”. Numa mensagem no X, Marco Rubio disse ainda que “durante muito tempo, os ideólogos na Europa lideraram esforços organizados para coagir as plataformas americanas a punir pontos de vista americanos aos quais se opõem”, sublinhando que “a administração Trump não tolerará mais estes atos flagrantes de censura extraterritorial”. E deixou um aviso: “Estamos prontos e dispostos a expandir esta lista se outros não mudarem de posição.”De notar que os Estados Unidos tiveram o cuidado de não sancionar nenhum europeu a exercer cargos oficiais na União Europeia ou no Reino Unido, de forma a tentar limitar uma potencial retaliação direta. O que não impediu uma resposta condenatória da Europa.A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “a liberdade de expressão é o alicerce da nossa forte e vibrante democracia europeia. Estamos orgulhosos dela. Vamos protegê-la”, com um porta-voz do executivo comunitário a acrescentar que “se necessário, responderemos com rapidez e firmeza para defender a nossa autonomia regulamentar contra medidas injustificadas.”Menos contido nas palavras, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que as ações dos EUA “configuram intimidação e coação com o objetivo de minar a soberania digital europeia”, notando que “as regras que regem o espaço digital da União Europeia não devem ser determinadas fora da Europa”.Na mesma linha, o Ministério da Justiça alemão defendeu que “as regras pelas quais queremos viver no espaço digital na Alemanha e na Europa não são decididas em Washington”, enquanto que o governo de Londres garantiu o seu empenho em defender o direito à liberdade de expressão.“Embora cada país tenha o direito de definir as suas próprias regras de vistos, apoiamos as leis e as instituições que trabalham para manter a internet livre dos conteúdos mais prejudiciais”, disse um porta-voz de Keir Starmer..Demissão. Comissário Thierry Breton critica “governação questionável” de von der Leyen