O presidente russo, Vladimir Putin, na sua conferência de imprensa anual, em Moscovo, sugeriu esta quinta-feira um duelo de mísseis com os Estados Unidos. Uma experiência que iria mostrar como o novo míssil balístico hipersónico russo, o Oreshnik, poderia derrotar qualquer sistema de defesa antimíssil americano. .Putin sugeriu que ambas as partes escolhessem um alvo para ser protegido por mísseis norte-americanos. “Estamos prontos para essa experiência. O outro lado estará pronto?”, questionou o presidente russo, citado pela Reuters, referindo-se ao ceticismo ocidental em relação ao míssil Oreshnik.."Não há qualquer hipótese de abater estes mísseis", afirmou Putin, questionado sobre a posição do ocidente face a esta nova arma russa. "Se os peritos ocidentais que mencionou pensam que conseguem, propomo-lhes, como àqueles que, no Ocidente e nos EUA lhes pagam pelas suas análises, que realizem uma espécie de experiência tecnológica: um duelo de alta tecnologia do século XXI", sugeriu o presidente russo.."Que escolham um objeto qualquer, digamos em Kiev, concentrem aí todas as suas forças de defesa aérea e antimíssil e nós atingi-lo-emos com o Oreshnik e veremos o que acontece", afirmou. .A 21 de novembro, recorde-se, a Rússia disparou pela primeira vez o novo míssil hipersónico Oreshnik contra uma fábrica em Dnipro, no sudeste da Ucrânia, em resposta à utilização de armas ocidentais, nomeadamente mísseis ATACMS norte-americanos de longo alcance e Storm Shadow britânicos, contra o seu território. .Recentemente, perante responsáveis do Ministério da Defesa, Putin anunciou que está para "breve" a produção em série de mísseis Oreshnik, a "mais recente arma poderosa da Rússia"..Pronto para se encontrar com Trump "em qualquer altura".Putin afirmou estar pronto para se encontrar "a qualquer momento" com o próximo presidente norte-americano, Donald Trump, que recentemente apelou a um cessar-fogo e a negociações entre Rússia e Ucrânia.."Não sei quando é que o vou ver. Ele [Donald Trump] não está a dizer nada sobre isso. Não falo com ele há mais de quatro anos. Estou pronto para o fazer, claro. Em qualquer altura", disse Putin.."E também estarei pronto para me encontrar com ele [Donald Trump], se ele quiser", acrescentou, durante a sua sessão anual de perguntas e respostas na televisão, citado pela AFP..A sessão de perguntas e respostas, transmitida em direto pela televisão, tem sido realizada em vários formatos quase todos os anos desde que Putin chegou ao poder, há um quarto de século..Desta vez, ocorreu um mês antes do regresso de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, quando tomar posse em 20 de janeiro de 2025, depois de ter vencido as eleições em novembro..O líder republicano tem prometido repetidamente conseguir a paz na Ucrânia "em 24 horas" e já apelou a um "cessar-fogo imediato"..Trump disse na segunda-feira que queria falar com Putin e com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para pôr "fim à carnificina" da guerra na Ucrânia..Avisou também que a Ucrânia deverá esperar menos ajuda de Washington e opôs-se à utilização por Kiev de mísseis ocidentais para atacar a Rússia..A indefinição em torno do plano de Trump está a causar preocupação na Ucrânia, que não quer ser forçada a aceitar condições desfavoráveis num eventual acordo de paz com a Rússia..Putin considerou que a Rússia se tornou "muito mais forte nos últimos dois ou três anos", depois de ter invadido a Ucrânia em fevereiro de 2022.."Se alguma vez nos encontrarmos com o presidente eleito Trump, tenho a certeza que teremos muito que falar", acrescentou durante a conferência de imprensa anual..Putin tem afirmado repetidamente que está pronto para as conversações com a Ucrânia, desde que se baseiem nas "realidades no terreno", onde as forças russas têm estado em vantagem desde o início do ano..A Rússia exige que a Ucrânia ceda quatro regiões que ocupa parcialmente, Donetsk e Lugansk (leste), e Zaporijia e Kherson (sul), para além da Crimeia anexada em 2014..Exige também que Kiev desista da ambição de aderir à NATO, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança de defesa ocidental..Zelensky há muito que se opõe categoricamente a quaisquer concessões, mas suavizou a posição nos últimos meses, face às dificuldades do exército ucraniano na linha da frente e ao receio de um enfraquecimento da ajuda ocidental..A partir de Bruxelas, Zelensky apelou hoje aos europeus que não abandonassem a Ucrânia e mostrassem unidade, incluindo com os Estados Unidos, apenas algumas semanas antes da posse de Trump..Ucranianos e europeus temem que Trump possa forçar Kiev a fazer grandes concessões e dar uma vitória geopolítica a Moscovo, segundo a AFP..Putin admite desconhecer quando será possível libertar Kursk.Na conferência de imprensa anual, o presidente russo admitiu não saber quando é que o exército conseguirá expulsar as forças ucranianas da região russa de Kursk, parte da qual ainda está ocupada após uma ofensiva surpresa em agosto.."Vamos absolutamente derrotá-los", afirmou Putin na sua conferência de imprensa anual, em Moscovo, em resposta a uma pergunta de um membro do público.."Mas quanto à questão de uma data exata, lamento, mas não posso dizer neste momento", admitiu, citado pela AFP..As forças ucranianas, que enfrentam a invasão russa desde fevereiro de 2022, contra-atacaram em agosto e invadiram a região russa de Kursk, junto à fronteira, mantendo ainda o controlo sobre parte da região..A Rússia tem desde então tentado expulsar o exército ucraniano do seu território, mas ainda não o conseguiu fazer, apesar de ter recebido a ajuda de soldados enviados pela Coreia do Norte nos últimos meses. ."Os homens estão a lutar, há combates a decorrer neste momento", afirmou Putin durante a conferência de imprensa para fazer o balanço do ano..De acordo com os meios de comunicação ocidentais, Moscovo pretende assegurar a libertação de Kursk das tropas inimigas antes da posse do novo presidente norte-americano, Donald Trump, marcada para 20 de janeiro..Putin disse que a situação na frente está a mudar radicalmente e que as tropas estão a conquistar "quilómetros quadrados" diariamente, mas não se atreveu a prever a duração da guerra no país vizinho.."Os combates são complicados, por isso, prever o futuro é difícil e sem sentido", admitiu o líder russo, segundo a agência espanhola EFE..Putin aproveitou os primeiros minutos do discurso para mostrar ao público o estandarte que lhe foi entregue por uma das brigadas aerotransportadas que combatem na Ucrânia..O líder russo insistiu que "há movimento" ao longo de toda a linha da frente e todos os dias, aludindo à conquista de dezenas de localidades nos últimos meses no Donbass, no leste da Ucrânia.."E não estamos a falar de um avanço de 100, 200, 300 metros. Os nossos combatentes estão a recuperar quilómetros quadrados de território", assegurou..Entretanto, a Rússia reivindicou hoje a conquista de duas aldeias na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, onde tem progredido no terreno contra as tropas ucranianas, indicaram as agências estatais russas..O Ministério da Defesa russo disse que as suas tropas tinham "libertado" Zelenivka, perto da cidade de Kurakhove, da qual os soldados de Moscovo se estão a aproximar, e Novi Komar, uma aldeia a cerca de 20 quilómetros a sudoeste, segundo a agência Ria Novosti..Recusa ver queda do regime de Assad como uma derrota para a Rússia.Putin recusou hoje a ideia de que a queda de Bashar al-Assad na Síria, um aliado próximo de Moscovo, possa ser vista como uma derrota para a Rússia.."As pessoas estão a tentar apresentar o que aconteceu na Síria como uma derrota para a Rússia. Asseguro-vos que não é esse o caso", declarou Putin durante a sua conferência de imprensa anual, citado pela AFP..Putin disse que o exército russo, destacado na Síria desde 2015, atingiu os objetivos no país onde mantém uma base naval e uma base aérea.."Fomos para a Síria há cerca de 10 anos para impedir a criação de um enclave terrorista, como no Afeganistão. De um modo geral, atingimos o nosso objetivo", afirmou..A Rússia e o Irão eram os dois grandes aliados de Bashar al-Assad, que foi derrubado em 8 de dezembro por uma coligação de forças rebeldes, após uma ofensiva que durou apenas 12 dias..Assad fugiu com a família para a Rússia, que lhe concedeu asilo político..Putin disse que ainda não viu Bashar al-Assad, mas que tenciona falar com o ex-presidente.."Ainda não vi o presidente Assad desde a sua chegada a Moscovo, mas tenciono fazê-lo. Vou certamente falar com ele", afirmou, em resposta a uma pergunta de um jornalista norte-americano..Putin admitiu perguntar a Assad pelo jornalista norte-americano Austin Tice, desaparecido na Síria há 12 anos, que a administração do presidente Joe Biden definiu como uma prioridade após a queda do regime de Damasco.."Também podemos colocar a questão às pessoas que controlam a situação no terreno na Síria", disse também Putin, citado pela AP..Tice, então com 31 anos, entrou na Síria em maio de 2012, para acompanhar um grupo de rebeldes e fez algumas reportagens para vários meios de comunicação social, segundo o jornal britânico Independent..Durante uma viagem para Beirute, onde pretendia fazer uma pausa após quase três meses na Síria, foi detido numa zona controlada pelas forças do governo de Assad, desconhecendo-se o seu paradeiro desde então..A Rússia tem uma base naval em Tartus, porta de entrada para o Mar Mediterrâneo, e opera um aeródromo militar em Hmeimim, no noroeste da Síria..Ambas são consideradas estratégicas para as operações militares russas no Médio Oriente e nos países do Sahel, uma faixa entre o Atlântico, a oeste, e o Mar Vermelho, a leste, e entre o deserto do Sara, a norte, e o Sudão, a sul..A base em Tartus foi criada em 1971, no âmbito de um acordo entre a Síria e a então União Soviética, segundo a agência russa TASS..O grupo aéreo das Forças Aeroespaciais Russas na Síria foi criado em 30 de setembro de 2015 para conduzir uma operação militar de apoio ao exército sírio na luta contra a organização extremista Estado Islâmico..Putin admite preocupação com inflação elevada na Rússia.Vladimir Putin reconheceu que a inflação galopante na Rússia é um "sinal preocupante", mas procurou tranquilizar os russos sobre as perspetivas da economia do país em guerra há quase três anos..A inflação é um sinal preocupante", admitiu Putin nos primeiros minutos da sua grande conferência de imprensa anual, citado pela agência francesa AFP..A taxa de inflação acelerou para 8,9% em novembro, enquanto as autoridades têm como objetivo oficial uma subida de 4% dos preços..A inflação deverá aproximar-se dos 9% até ao final do ano, depois de quase 7,5% em 2023, ano em que a Rússia invadiu a Ucrânia, e 12% em 2022.."O que é desagradável e mau é a subida dos preços. Mas espero que, se os indicadores macroeconómicos se mantiverem, consigamos fazer face à situação", disse Putin..A inflação na Rússia é alimentada, em particular, pela explosão das despesas militares com a guerra contra a Ucrânia, pelos efeitos das sanções ocidentais e pelo aumento dos salários..A subida dos salários é uma consequência direta da escassez de mão-de-obra no mercado de trabalho, uma vez que as empresas são obrigadas a oferecer vencimentos atrativos para recrutar..A rara confissão de Putin ocorre na véspera de uma reunião muito aguardada do Banco Central da Rússia (BCR), que poderá aumentar a sua taxa diretora, que já está em 21%, um máximo de 20 anos..Os analistas esperam que a taxa diretora suba um ou dois pontos percentuais, segundo a AFP..Esta possibilidade já provocou a indignação dos principais empresários russos, que a denunciaram como "uma loucura" que restringe os investimentos e trava a economia nacional..Na conferência anual transformada num programa de televisão visto por milhões de pessoas, Putin tentou tranquilizar os russos, referindo que os salários subiram e que a situação é, de um modo geral, estável.."A situação da economia russa no seu conjunto é estável, apesar das ameaças externas e das tentativas de a influenciar", afirmou, aludindo às sanções ocidentais por causa da guerra contra a Ucrânia..Depois de ter resistido às sanções nos últimos três anos, a economia russa dá sinais de esgotamento há várias semanas, com uma inflação a corroer o poder de compra, taxas de juro em alta que prejudicam as empresas, queda do rublo e perspetivas sombrias para 2025..A moeda russa está no seu ponto mais fraco em relação ao dólar e ao euro desde março de 2022, com o dólar a ser atualmente negociado a mais de 100 rublos..Putin afirmou que espera que o PIB aumente "3,9%, talvez 4%" no final do ano, mas o BCR prevê um forte abrandamento no próximo ano, com um crescimento entre 0,5% e 1,5% previsto para 2025..O diretor-executivo do principal banco russo, o Sberbank, German Gref, alertou recentemente para os "sinais significativos de abrandamento" da economia e "o perigo de estagflação", quando ocorre em simultâneo uma inflação elevada e um crescimento muito fraco.."A situação é difícil. Toda uma série de mutuários vai encontrar-se numa situação difícil, os bancos vão estar numa situação difícil", afirmou num fórum sobre investimento em 06 de dezembro.."Tudo depende do tempo que durar a diferença entre a inflação real e as taxas de juro do mercado. Nunca houve uma diferença tão grande, não podemos sobreviver assim durante muito tempo", advertiu Gref, que foi ministro do Desenvolvimento Económico entre 2000 e 2007.