Vladimir Putin atacou esta quarta-feira, 17 de dezembro, os líderes europeus chamando-lhes “porquinhos”, reafirmando que Moscovo vai conseguir o que chamou de “territórios históricos russos” na Ucrânia através da diplomacia ou da força militar. “Se o adversário e os seus patrocinadores estrangeiros se recusarem a falar sobre isso, a Rússia alcançará a libertação dos seus territórios históricos pela via militar”, afirmou o presidente russo no encontro anual do Ministério da Defesa.Putin declarou ainda que os europeus estão a ser doutrinados com o medo de uma guerra com a Rússia e acusou os seus líderes de incitarem à histeria, dizendo ainda que estes se uniram à presidência de Joe Biden para “conduzir deliberadamente a situação [na Ucrânia] para um conflito armado”. “Os porquinhos da Europa juntaram-se imediatamente aos trabalhos do anterior governo norte-americano, na esperança de lucrar com o colapso do nosso país”.Estes ataques de Putin surgem na véspera do Conselho Europeu desta quinta-feira, que será centrado no empréstimo de reparações assente nos ativos russos congelados para apoiar as necessidades financeiras de Kiev nos próximos dois anos, num encontro que é visto como decisivo, já que a Ucrânia fica sem financiamento disponível na próxima primavera. Como habitual, o presidente Volodymyr Zelensky vai estar em Bruxelas para a cimeira, tendo apelado esta quarta-feira para que os europeus mostrem o seu apoio a Kiev, enviando um sinal a Moscovo de que continuar a guerra é “inútil”.O assunto já havia sido discutido na cimeira de outubro dos líderes dos 27, mas a oposição da Bélgica, país onde está sediada a Euroclear, empresa onde encontra a maioria desses ativos, impediu que o projeto avançasse, com o governo de Bruxelas a exigir garantias dos outros Estados-membros para se proteger juridicamente.O Guardian, citando fontes de agências de inteligência europeias, noticiou ontem que políticos belgas e figuras-chave da Euroclear têm sido alvo de uma campanha dos serviços de informação russos com o objectivo de persuadir o país a bloquear a utilização de 185 mil milhões de euros em ativos para a Ucrânia.Na sexta-feira, os embaixadores dos Estados-membros junto da UE aprovaram, por maioria e com os votos contra da Hungria e Eslováquia, uma decisão para manter os ativos russos congelados indefinidamente no espaço comunitário, servindo de base ao empréstimo de reparações à Ucrânia. Um primeiro passo para um eventual aval que possa sair do Conselho Europeu desta quinta-feira. A presidente da Comissão Europeia apelou esta quarta-feira a este aval, prometendo que não será “à custa da Bélgica”. “Não há ato mais importante de defesa europeia do que apoiar a defesa da Ucrânia e os próximos dias serão um passo crucial para garantir isso. Cabe-nos a nós escolher como financiar a luta da Ucrânia porque conhecemos a urgência: é aguda, todos a sentimos, todos a vemos”, afirmou Ursula von der Leyen, apontando que a proposta de empréstimo a Kiev “inclui salvaguardas para garantir o máximo nível de proteção para todos os Estados-membros”. No início da semana, Friedrich Merz aumentou a pressão sobre os restantes líderes da UE ao alertar que o bloco vai sofrer “graves danos durante anos” se não chegar a esta quinta-feira a um acordo sobre o empréstimo de apoio financeiro para a Ucrânia. Esta quarta-feira, o chanceler alemão voltou ao tema dizendo ser essencial que a UE finalize o empréstimo, enviando “um sinal claro” a Moscovo.“É evidente que a pressão sobre Putin deve ser ainda mais aumentada para o persuadir a envolver-se em negociações sérias”, disse aos deputados alemães, sublinhando que, como resultado, o Conselho Europeu desta quinta-feira terá de tomar decisões “de considerável importância”. Merz referiu ainda levar a sério as preocupações da Bélgica, afirmando que ser “por isso que estou a tentar, juntamente com os nossos parceiros, atenuá-las”.Com mais reservas, a primeira-ministra italiana abordou esta quarta-feira igualmente o assunto, num discurso no Parlamento em Roma, admitindo que encontrar uma forma legal de usar os ativos russos congelados continua “longe de ser fácil” e que o foco não deveria ser a Bélgica, mas também outros ativos russos de forma mais ampla. Mesmo assim, Giorgia Meloni deixou claro que a Itália é a favor do uso destes bens, mas “com uma base jurídica sólida”, pois, caso contrário, “estaríamos a dar à Rússia a sua primeira vitória”.Do outro lado da barricada, e sem surpresas, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, disse esta quarta-feira que o uso de recursos russos para financiar Kiev “não pode ser interpretado de outra forma senão como uma declaração de guerra”. De regresso às reuniões do Conselho Europeu, o recém-empossado chefe do governo checo, Andrej Babis, mais cético no apoio a Kiev do que o seu antecessor, afirmou esta quarta-feira que Praga poderá apoiar a utilização ativos congelados, mas apenas “sob determinadas condições” que resolvessem as preocupações belgas e sem oferecer garantias financeiras. Mas referiu achar que esta solução levará a Rússia a retaliar contra a UE e perturbar as negociações de paz..Starmer quer que Abramovich entregue valor da venda do Chelsea à Ucrânia. 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