O presidente russo recebeu esta terça-feira, 2 de dezembro, no Kremlin o enviado especial do presidente dos Estados Unidos Steve Witkoff, e o genro de Donald Trump, Jared Kushner, para discutir uma possível solução para a guerra na Ucrânia. Um encontro à porta fechada que se prolongou por várias horas e que foi antecedido por ameaças de Vladimir Putin contra a Europa, avisando os aliados de Kiev que estarão sujeitos a uma derrota rápida se entrarem em guerra com a Rússia e acusando-os ainda de não quererem a paz. Segundo o Axios, Witkoff e Kushner poderão encontrar-se hoje, algures na Europa, com Volodymyr Zelensky para lhe dar conta das conversações em Moscovo. O presidente ucraniano, por seu turno, usou as redes sociais ao final do dia para garantir estar pronto para se reunir com Trump, dependendo dos “sinais” das discussões de ontem.“Se a Europa de repente quiser começar uma guerra connosco e a começar, acabará tão rapidamente para a Europa que a Rússia não terá mais ninguém com quem negociar”, ameaçou o presidente russo. E explicou que Moscovo está a agir de forma “cirúrgica” na Ucrânia e não em grande escala, o que não se repetiria com a Europa.Prosseguindo os seus ataques à Europa, o líder russo acusou os aliados de Kiev de dificultarem as tentativas de Trump acabar com a guerra através da apresentação de propostas que sabem ser “absolutamente inaceitáveis” para Moscovo, para depois acusarem a Rússia de não querer a paz. “Estão do lado da guerra”.Noutras declarações transmitidas pela televisão russa, Vladimir Putin ameaçou ontem cortar o acesso da Ucrânia ao mar em resposta aos ataques com drones contra petroleiros da “frota fantasma” da Rússia no Mar Negro. “A solução mais radical é isolar a Ucrânia do mar, pelo que a pirataria será impossível em princípio”, declarou o presidente russo, alertando que Moscovo vai aumentar os ataques contra instalações e embarcações ucranianas e tomar medidas contra petroleiros de países que apoiam Kiev.No domingo, Vladimir Putin já havia dito que a captura da cidade ucraniana de Pokrovsk permitiria aos militares russos prosseguir operações ofensivas na Ucrânia. “Esta é uma direção importante. Todos nós compreendemos o quão importante é. Isto irá garantir soluções para as tarefas que definimos inicialmente no início da operação militar especial”, prosseguiu o presidente russo, usando o nome dado pelo Kremlin à invasão da Ucrânia. “As forças armadas da Rússia mantêm com confiança a iniciativa e continuam a executar as tarefas da operação. As forças russas estão a avançar em praticamente todas as direções”, notou. Donald Trump abordou esta terça-feira a questão da Ucrânia no início de uma reunião do seu gabinete, admitindo que os Estados Unidos têm “um problema com uma guerra que o nosso povo está a tentar resolver agora, com a Rússia e a Ucrânia”.O presidente norte-americano garantiu ainda que Washington já não está “envolvido financeiramente”, apenas vende armas à NATO, mas que ainda estão a tentar “resolver isso”. “Já resolvi oito guerras. Esta seria a nona, e o nosso pessoal está na Rússia agora para ver se conseguimos resolver a situação. Não é uma situação fácil, acreditem, que confusão. É uma guerra que nunca teria acontecido se eu fosse presidente, nem pensar.”.EUA podem cansar-seEnquanto decorriam conversações em Moscovo entre Estados Unidos e Rússia, o presidente ucraniano dizia a partir de Dublin estar um pouco otimista, o que se devia “à rapidez das negociações e, por parte dos americanos, ao interesse demonstrado. Isto mostrou que os Estados Unidos não estão agora a retirar-se de qualquer tipo de diálogo diplomático, e isso é bom”. No entanto, mais tarde, questionado se temia que os EUA perdessem o interesse no processo, respondeu que sim - “se algum dos nossos aliados se cansar, terei medo” - referindo que “o objetivo da Rússia é diminuir o interesse dos Estados Unidos nesta situação”.Volodymyr Zelensky disse mais uma vez que as discussões sobre o território, o uso de ativos russos congelados e as futuras garantias de segurança para a Ucrânia são os três pontos principais das negociações, sublinhando que Kiev quer “parar a guerra de tal forma que, num ano, a Rússia não regresse com uma terceira invasão”.O líder ucraniano voltou a frisar que Kiev está “totalmente empenhada nas negociações”, notando que se está “mais perto da paz do que nunca”. “Há uma hipótese real, muito real, mas precisamos de a aproveitar”, prosseguiu Zelensky, sublinhando que “esta situação já se prolongou demasiado para simplesmente fecharmos os olhos e virarmos a página em relação à Rússia. Sem uma paz justa, o ódio não desaparecerá. Continuará a arder e a provocar novos atos de violência. A história já viu isto antes, e desta vez, tem de ser diferente. Precisamos de uma paz verdadeira. Ajudem-nos a alcançá-la e nunca percam a fé na Ucrânia.”Num outro momento da sua visita a Dublin, Volodymyr Zelensky referiu que Putin não quer o fim da guerra, pois não conseguiu atingir os seus objetivos na Ucrânia. “Agora está a pensar em como encontrar novas razões para não [acabar] com esta guerra”, notou, dizendo contar com a “pressão dos EUA” e de outros países para avançar nas negociações de paz e que, ao colocar Moscovo contra a Europa, o presidente russo “sublinha com estas palavras que não é europeu”.Dando as boas-vindas a Volodymyr Zelensky naquela que foi a primeira visita de um presidente ucraniano à Irlanda, o primeiro-ministro Micheál Martin referiu que esta se realiza “num momento crítico para a Ucrânia e para a Europa” devido à “guerra brutal e ilegal” desencadeada pela Rússia, sublinhando que Vladimir Putin “procura obter vantagem na mesa das negociações intensificando o ataque implacável da Rússia na linha da frente e contra os ucranianos, contra as cidades e as infraestruturas ucranianas.”O líder irlandês demonstrou o seu apoio à adesão de Kiev à União Europeia, garantindo que Dublin continuará “a trabalhar, incluindo quando assumirmos a presidência da UE no próximo ano, para avançar o mais possível nas negociações sobre a sua adesão”. “Saibam que, enquanto a Ucrânia precisar da nossa ajuda e apoio, a Irlanda estará ao vosso lado. A vossa luta é a nossa luta. O vosso sucesso será o nosso sucesso. Estaremos convosco pelo tempo que for necessário”.Esta manifestação de apoio prosseguiu com Martin a garantir também que a Irlanda é a favor do uso de ativos russos congelados “para financiar a reconstrução da Ucrânia”, dizendo esperar que “a reunião de dezembro chegue a uma conclusão”, embora reconhecendo que “será um desafio alcançar este acordo coletivo”. “Respeitamos plenamente as preocupações do governo belga, e estas questões precisam de ser resolvidas para que se chegue a um acordo coletivo em toda a União Europeia”, sublinhou, referindo-se ao Conselho Europeu de dia 18, no qual será discutida esta questão. Por fim, questionado sobre a disponibilidade da Irlanda para participar numa força de manutenção de paz, que está a ser estudada pela Coligação dos Dispostos, o líder irlandês manifestou a disponibilidade de Dublin de “monitorizar qualquer cessar-fogo ou mesmo aspetos de um acordo de paz”, notando que o país tem experiência no Líbano e em África. “Também estamos dispostos a ajudar na reconstrução”.Volodymyr Zelensky recebeu ainda em Dublin a promessa de 100 milhões de euros em apoio militar não-letal para ajudar a Ucrânia a resistir ao ataque noturno de mísseis e drones russos e 25 milhões de euros para o fornecimento de energia. Os dois países assinaram ainda o Roteiro para a Parceria Ucrânia-Irlanda 2030, que inclui cooperação política e de segurança, bem como iniciativas nas áreas da reconstrução, educação e cultura.De Itália surgiram também notícias de que o governo de Giorgia Meloni está a preparar-se para aprovar um decreto que permitirá continuar a fornecer equipamento militar à Ucrânia, segundo um documento governamental divulgado ontem e citado pela Reuters. Desde o início da guerra, Roma já aprovou 12 pacotes de ajuda militar a Kiev, incluindo sistemas de defesa aérea SAMP/T.O documento refere que o decreto será discutido esta quarta-feira, mas ainda não foi definida uma data para o Conselho de Ministros que dará a aprovação final. Também ainda não foi estipulado por quanto tempo a autorização será prolongada - decretos anteriores permitiam remessas de armas durante um ano sem necessidade de aprovação parlamentar..NATO aberta a adesão de KievO secretário-geral da NATO saudou esta terça-feira o trabalho dos Estados Unidos para tentar acabar com a guerra, mostrando-se “confiante de que estes esforços contínuos acabarão por restaurar a paz na Europa”, ao mesmo tempo criticou a Rússia por “atacar sistematicamente as infraestruturas civis” nos seus ataques contra o território ucraniano. Falando na véspera de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança, Mark Rutte disse esperar que sejam anunciadas nos próximos dias novas contribuições para a Lista de Requisitos Prioritários da NATO para a Ucrânia (PURL) - e que consiste na compra de armas dos EUA pela Aliança para Kiev - aumentando os “biliões de dólares” já comprometidos.Este novo capítulo de negociações de paz tem trazido o futuro da Ucrânia na NATO à discussão, já que a primeira versão do plano de paz referia que Kiev tinha de desistir de aderir à Aliança. Falando sobre este tema, Rutte reiterou a abertura da Aliança à entrada do país, mas que não existe atualmente acordo sobre este ponto entre os seus Estados-membros, sendo necessária unanimidade para que tal aconteça. E acrescentou que o plano original de 28 pontos foi um ponto de partida, mas que “avançámos” com novas versões, deixando claro que “no que diz respeito aos elementos da NATO no acordo isso será tratado separadamente e, obviamente, incluirá a NATO”.“Queremos que a guerra termine, mas com uma Ucrânia soberana e uma situação em que a Rússia nunca mais tente atacar a Ucrânia, isso é fundamental”, prosseguiu o neerlandês.Rutte desvalorizou ainda a ausência do secretário de Estado norte-americano da reunião de hoje dos líderes da diplomacia da NATO, ressalvando que “Marco Rubio está muito envolvido em tudo isto quando se trata de acabar com a guerra na Ucrânia”. “Ele está a trabalhar arduamente, tendo de cuidar não só da situação na Ucrânia, mas também de muitas outras questões que estão sob a sua responsabilidade. Por isso, aceito plenamente que ele não possa estar aqui”, prosseguiu, anunciando que o norte-americano será representado pelo adjunto, Chris Landau.O encontro, mais concretamente o almoço de trabalho do Conselho da NATO para a Ucrânia, contará ainda com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Andrii Sybiha, e da Alta Representante da UE, Kaja Kallas..Zelensky estabelece linhas vermelhas em semana de novas negociações de paz