“A minha mensagem para Los Angeles é: somos uma cidade de imigrantes. Orgulhamo-nos da diversidade na nossa cidade. E é o meu trabalho como presidente da Câmara de Los Angeles proteger todos os habitantes de Los Angeles, independentemente de quando aqui chegaram, por que vieram ou de onde vieram”, disse esta quarta-feira, 11 de junho, de manhã, a presidente da Câmara de LA, a democrata Karen Bass.Durante a noite, segundo a polícia, foram realizadas "detenções em massa" no centro de Los Angeles, depois de Bass ter decretado o recolher obrigatório num perímetro de 2,5 quilómetros quadrados naquela área, numa tentativa de acalmar a violência em torno dos protestos contra as operações de detenção por parte dos agentes da imigração (ICE) iniciadas na sexta-feira e que levaram Donald Trump, contra a vontade do governador da Califórnia, Gavin Newsom, a enviar para a segunda maior cidade dos Estados Unidos 4000 membros da Guarda Nacional e 700 fuzileiros. Numa conferência de imprensa esta quarta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, atacou Gavin Newsom e Karen Bass, ambos democratas, insistindo que “revoltas de esquerda” não impediriam as rusgas do ICE, repetindo ainda comentários recentes de Donald Trump, que descreveu todos os manifestantes como "radicais de esquerda".Já a procuradora-geral norte-americana advertiu que a Administração Trump não receia “ir mais longe” para conter os protestos contra as rusgas visando imigrantes ilegais. “Estamos num bom momento. Não temos medo de ir mais longe. Não temos medo de fazer algo diferente, se necessário”, afirmou Pam Bondi, citada pela CNN, numa altura em que o presidente ameaça invocar a Lei da Insurreição, que permite o envio de militares para as ruas, o que não acontece desde 1807. Os protestos iniciados em Los Angeles espalharam-se, entretanto, a outras cidades norte-americanas, liderados na sua esmagadora maioria por democratas, apesar de alguns ficarem em estados governados por republicanos. Como no Texas, onde o governador Greg Abbott, ordenou o destacamento da Guarda Nacional para cidades onde está prevista a realização de protestos ou onde manifestantes já saíram à rua, nomeadamente San Antonio, Austin ou Houston, liderados por democratas. As autoridades de San Antonio, por exemplo, afirmaram esta quarta-feira aos media locais que não tinham sido notificadas do envio da Guarda Nacional, nem tinham pedido a sua presença. Já em Chicago, no Illinois, o presidente da câmara, Brandon Johnson, afirmou que a polícia reagiu de forma adequada ao controlar a multidão nos protestos contra a imigração nos últimos dias, garantindo que "a grande maioria dos manifestantes mantém-se pacífica e organizada". Houve, no entanto, alguns incidentes de vandalismo, e uma mulher de 66 anos ficou ferida ao ser atropelada.Também em Nova Iorque têm-se registado protestos, na terça-feira à noite e esta quarta-feira de manhã, nomeadamente perto de instalações do ICE e de tribunais federais, gritando palavras de ordem contra o Serviço Federal de Imigração e Alfândega e empunhando cartazes com palavras de ordem como "ICE fora de Nova Iorque". Em Boston, onde a mayor democrata Michelle Wu assinou uma ordem executiva a pedir que Donald Trump explique as “táticas de polícia secreta” que estão a ser usadas pelo ICE, registaram-se igualmente protestos. Segundo contas feitas pela NBC News esta quarta-feira, 11 de junho, desde segunda-feira realizaram-se pelo menos 25 comícios e manifestações nas duas costas dos Estados Unidos, sendo que alguns envolveram apenas umas quantas dezenas de pessoas, enquanto outros atraíram milhares. É esperado que o número de cidades envolvidas nos protestos aumente no sábado, dia em que se realiza em Washington um desfile militar que assinalará os 250 anos do Exército dos EUA e coincidirá com o 79.º aniversário de Trump.“Quando vocês fazem rusgas em Home Depots e locais de trabalho, quando separam pais e filhos e quando conduzem caravanas blindadas pelas nossas ruas, não estão a tentar manter ninguém em segurança, estão a tentar causar medo e pânico", disse a presidente da Câmara de Los Angeles, Karen Bass, numa conferência de imprensa. De acordo com a Reuters, a Casa Branca exigiu que o ICE aumente drasticamente as detenções de migrantes ilegais no país, o que levou a uma mudança de tática dos agentes para atingir quotas diárias de 3000 detenções, muito acima da meta anterior de mil por dia. No ano passado, ainda com a Administração de Joe Biden, a média diária foi de 311. Esta pressão parece ter resultado de uma reunião, em maio, na Casa Branca, durante a qual Stephen Miller, o mentor da agenda de Imigração de Trump, ter criticado os responsáveis do ICE pelo número insuficiente de detenções. O também chefe de Gabinete Adjunto do presidente terá dito ainda, segundo a Reuters, que os agentes deveriam apostar na detenção de qualquer imigrante em situação irregular, em vez de se preocuparem com operações dirigidas a criminosos, aconselhando ainda que se concentrassem em espaços comerciais onde os imigrantes se reúnem, como lojas de conveniência ou a cadeia de armazéns de materiais de construção e decoração Home Depot, como aconteceu agora em Los Angeles, dando origem aos protestos dos últimos dias.