Procuradores e polícia fazem buscas na casa da Presidente do Peru por escândalo com relógios de luxo
JOSH EDELSON / AFP

Procuradores e polícia fazem buscas na casa da Presidente do Peru por escândalo com relógios de luxo

A busca foi realizada por alegado crime de enriquecimento ilícito, sob a forma de falta de registo de declarações em documentos. O primeiro-ministro do Peru disse estar "indignado" com a "invasão" da casa da presidente.
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A casa da Presidente do Peru, Dina Boluarte, foi alvo de buscas policiais no âmbito da investigação preliminar aberta por alegado crime de enriquecimento ilícito, noticiou este sábado a imprensa local.

Imagens divulgadas pela imprensa mostraram um grupo de agentes a arrombar a fechadura da casa da Presidente peruana, que na altura não estava em casa, onde se encontrava apenas um dos filhos, embora um dos advogados tenha chegado mais tarde à residência, na zona de Surquillo, em Lima.

A televisão Canal N mostrou imagens de um grande contingente policial que permanecia, esta madrugada, na área junto à casa da Presidente, enquanto vários agentes policiais e procuradores permaneciam no interior.

O Ministério Público ainda não avançou qualquer informação formal sobre a intervenção.

De acordo com a estação de rádio RPP, a busca e apreensão foi aprovada pelo juiz do Supremo Tribunal de Justiça, Juan Carlos Checkley, na sequência de uma providência cautelar apresentada pelo procurador-geral Juan Carlos Villena no âmbito da investigação de alegado crime de enriquecimento ilícito, sob a forma de falta de registo de declarações em documentos. 

O caso começou com uma denúncia jornalística sobre uma suposta coleção de relógios de luxo que a presidente não incluiu na sua declaração de bens.

Segundo um documento da polícia, quase 40 agentes e promotores participaram na operação "com o objetivo de revistar a residência e apreender os relógios Rolex", cuja precedência não foi explicada por Boluarte.

Na passada quarta-feira, o Ministério Público denunciou que as visitas à casa da governante e ao Palácio do Governo foram frustradas, enquanto a Presidência garantiu que os representantes do Ministério Público foram atendidos por pessoal do gabinete de Boluarte, depois de terem recebido uma notificação enviada à chefe de Estado. 

O Procurador Supremo Hernán Mendoza declarou, perante a Comissão de Controlo do Congresso, que a Presidente "frustrou as investigações" ao não comparecer às convocatórias emitidas para terça e quarta-feira.

Na sequência desta situação, a defesa legal de Boluarte solicitou o reagendamento das diligências. 

O escândalo, porém, pode resultar num pedido de destituição de Boluarte no Congresso, sob a alegação de "incapacidade moral".

Para que isto aconteça, as bancadas de partidos de direita, que têm maioria no Parlamento, terão que apoiar as bancadas minoritárias de esquerda numa aliança difícil de ser concretizada.

A presidência peruana não comentou a operação até o momento.

A 18 de março, o Ministério Público instaurou um processo preliminar contra Boluarte neste caso, uma vez que a Presidente devia ter declarado estes bens no registo de propriedade perante o Júri Nacional de Eleições (JNE) e o Ministério Público assinalou não ter sido feito.

No entanto, Boluarte declarou, na semana passada, que se comprometia a comparecer no Ministério Público para responder no âmbito desta investigação. 

Primeiro-ministro "indignado"

O primeiro-ministro do Peru disse este sábado estar "indignado" com a "invasão" da casa da Presidente, Dina Boluarte, pelo Ministério Público, cerca da meia-noite de sexta-feira, considerando que foi uma "afronta intolerável à dignidade" da chefe de Estado.

"Estou indignado com o que aconteceu, o que aconteceu à meia-noite deste sábado é uma afronta intolerável à dignidade da Presidente da República e da nação que ela representa", disse Gustavo Adrianzén à rádio RPP.

O primeiro-ministro acrescentou que "não é possível" terem de ser "testemunhas de ações absolutamente desproporcionadas e até inconstitucionais", uma vez que a Presidente está protegida pela imunidade concedida pelo seu cargo.

Adrianzén recordou que a Presidente solicitou o reagendamento do processo, mas disse que tal "não foi concedido" pelo Ministério Público.

"É no mínimo insólito que, à meia-noite e num feriado, como é o caso, estas ações tenham sido levadas a cabo", afirmou. 

Assegurou que Boluarte "sempre colaborou com o Ministério Público" e que a Presidente se encontra atualmente na residência do Palácio do Governo, no centro histórico de Lima.

O primeiro-ministro manifestou a "solidariedade" do Conselho de Ministros para com Boluarte e disse que "rejeitam veementemente estas ações políticas desestabilizadoras".

"Há uma politização intolerável da Justiça", afirmou.

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