A 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima inicia-se esta semana em Belém, no coração da Amazónia. Há meses que se fala mais sobre a preparação da cidade para receber este evento internacional do que sobre o tema principal: o clima. Ao DN, o Secretário de Estado Adjunto da Agricultura, Francisco Neto, garante que a COP 30 “será um sucesso”. Segundo o governante, os “gargalos” serão ultrapassados. “Terão alguns gargalos? Sim, em qualquer parte do mundo onde este evento acontecesse, teriam. Mas, para nós, os pequenos constrangimentos que possam ocorrer neste evento serão amplamente compensados. Com o quê? Serão compensados com a consciencialização que o mundo levará de lá, conhecendo a Amazónia e reconhecendo a importância de preservar a sua biodiversidade”, explica Neto ao jornal.O responsável assegura que o Governo do Estado está a trabalhar para resolver os problemas até à abertura do evento, que começa oficialmente no dia 10 de novembro, mas contará já esta semana, quinta-feira, 6 de novembro, com uma cimeira de chefes de Estado. “Temos ainda alguns problemas por solucionar, mas o Governo do Pará tem trabalhado com grande competência para os resolver até à abertura da nossa COP 30”, afirma. O secretário adjunto, que foi presidente de uma câmara municipal do Estado durante três mandatos, antecipa que “todos terão uma surpresa ao chegar a Belém, porque Belém está preparada”.Mais do que falar sobre a logística da conferência, Francisco Neto sublinha que o essencial é a discussão sobre o clima e a Amazónia. “Uma das maiores preocupações do Governo Federal é a preservação da Amazónia. A Amazónia precisa de ser preservada, mas também precisamos de compreender que não é possível fazê-lo sem políticas públicas voltadas para quem lá vive”, explica o engenheiro agrónomo.De acordo com o secretário adjunto, as populações que habitam a região já sentem os efeitos das alterações climáticas. “É visível. Os povos da Amazónia já têm consciência das mudanças climáticas e dos eventos extremos que têm ocorrido na nossa região e que nunca se tinham verificado: secas de rios, temperaturas acima da média dos últimos 50 anos — fenómenos que se intensificaram na última década e que preocupam não só o mundo, mas sobretudo nós, os amazónidas”, afirma. Cita como exemplo a produção de peixe, prejudicada pelo aumento da temperatura das águas dos rios, com impacto direto na segurança alimentar das comunidades locais. “É grande a necessidade de preservar”, acrescenta.Na perspetiva de Neto, que também tem experiência no domínio da agricultura familiar, um dos maiores desafios da atualidade é conciliar a preservação ambiental com a produção agrícola. “Precisamos de desenvolver, mas com sustentabilidade, com preservação ambiental e com alternativas que só a investigação e a extensão rural — que precisam mais do que nunca de atenção e reforço — poderão proporcionar, trazendo-nos as informações necessárias para vivermos na Amazónia sem a destruir”, defende. Uma dessas alternativas passa pela agricultura familiar..Entrevista. "Na Amazônia, nós não temos alternativa: a luta é uma condição sine qua non".O DN entrevistou Francisco Neto no Salão do Chocolate, em Paris, onde o Brasil foi o país homenageado e onde participou uma delegação do Pará composta por autoridades e produtores. O Estado do Pará é o maior produtor nacional de cacau. “Mais de 220 mil famílias de agricultores familiares trabalham nesta cultura, com uma produção superior a 167 mil toneladas de amêndoas de cacau colocadas no mercado nacional e internacional”, detalha. A principal região produtora de cacau no Pará situa-se precisamente na floresta amazónica, onde estão instalados mais de 42 mil produtores. “Eventos como este demonstram o que vamos debater na COP 30: que é possível melhorar o rendimento familiar, respeitar a natureza e o meio ambiente, e produzir com preservação e sustentabilidade.”Mas, segundo Neto, isto não basta. Defende que o esforço deve ser conjunto, não apenas do Brasil, que, com Lula da Silva, ambiciona liderar a luta climática internacional. “Esse é o grande desafio, e penso que todos os países do mundo têm também a obrigação de apoiar a preservação ambiental da Amazónia. Ela tem impacto em todo o planeta, por ser o maior pulmão do mundo”, observa.E sublinha que as decisões tomadas hoje são determinantes para as próximas gerações: “A decisão que tomamos hoje é a decisão que vai impactar diretamente nas nossas descendências”, acrescenta.O presidente do Brasil, Lula da Silva, tem defendido em fóruns internacionais que os países ricos devem igualmente assumir a responsabilidade de financiar os Estados com florestas, como é o caso do Brasil. Já estão confirmadas 132 hospedagens necessárias para a validação da declaração final do evento, estando outras 49 ainda em negociação.amanda.lima@dn.pt*A jornalista viajou a Paris a convite do Brasil Origem Week..Eliane Brum: “A Amazónia está no prato da Europa. É preciso parar de comer a Amazónia”.Brasil celebra Dia da Amazónia com pior seca em décadas e vários incêndios