Polícia iraniana inicia campanha para voltar a impor uso do véu
EPA/ABEDIN TAHERKENAREH

Polícia iraniana inicia campanha para voltar a impor uso do véu

Muitas mulheres no Irão deixaram de cumprir o código de vestimenta imposto, em particular o uso do véu, desde a morte da jovem Mahsa Amini. Polícia avisa que confrontará as pessoas que promovem "anomalias sociais", como não usar o "hijab".
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A polícia iraniana anunciou este sábado que as mulheres que "promovem anomalias sociais como o não uso do 'hijab'" vão enfrentar ações judiciais, no âmbito de uma nova campanha para voltar a impor a obrigatoriedade do uso do véu islâmico.

"A partir de hoje, a polícia de Teerão e de outras províncias atuará de acordo com o pedido da comunidade religiosa do nosso país e as suas expectativas em relação à sociedade islâmica, e confrontará as pessoas que promovem anomalias sociais, como não usar o 'hijab'", anunciou o comandante da polícia de Teerão, Abbas-Ali Mohammadi.

Neste âmbito, o comandante da polícia alertou que as mulheres que não cumprirem a lei enfrentarão "ações legais", segundo a agência Mehr, citada pela EFE.

"O povo iraniano é conhecido por respeitar a lei e apenas poucas pessoas ignoram a lei", acrescentou Mohammadi.

A Polícia iraniana já tinha anunciado esta semana que a partir deste sábado "aplicará com mais seriedade a legislação do 'hijab' e da castidade em todas as ruas e locais públicos", algo que costuma acontecer com a chegada da primavera e o aumento das temperaturas.

A nova campanha para voltar a impor uso do véu ocorre na sequência de muitas mulheres iranianas terem deixado de usar o véu como forma de desobediência civil desde a morte de Mahsa Amini, em setembro de 2022, após esta ter sido detida pela polícia da moralidade iraniana por supostamente usar o seu 'hijab' de forma incorreta.

Seguiram-se fortes protestos no país, que só acalmaram com uma repressão policial que provocou 500 mortos, tendo as autoridades iranianas tentado voltar a impor o uso do véu com vários métodos de coação, mas não conseguiram totalmente.

Nos últimos meses aumentou o número de mulheres com o cabelo descoberto nas ruas de Teerão, em lojas e em restaurantes.

No início de março, a Amnistia Internacional (AI) denunciou que as autoridades iranianas estariam a levar a cabo uma campanha massiva de repressão contra as mulheres que não usam o véu, com a apreensão de milhares de veículos, penas de prisão e até chicotadas.

Apesar disso, muitas mulheres iranianas continuam a não se cobrir com o 'hijab'.

O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, declarou no início deste mês que as mulheres iranianas devem "obedecer" e cobrir os cabelos com um véu islâmico.

Para as mulheres muçulmanas praticantes, cobrir a cabeça é um sinal de piedade diante de Deus e modéstia diante de homens.

No Irão, o 'hijab' -- e o abrangente 'xador' preto usado por algumas mulheres -- também é há muito tempo um símbolo político, especialmente depois de se tornar obrigatório nos anos que se seguiram à Revolução Islâmica de 1979.

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