Volodymyr Zelensky afirmou esta quarta-feira,9 de julho, que a Ucrânia foi atingida durante a noite pelo maior ataque aéreo russo, depois de 728 drones e 13 mísseis de cruzeiro ou balísticos terem atingido cidades de todo o país em múltiplas vagas, matando, pelo menos, oito pessoas. Uma ofensiva que decorreu horas antes do presidente ucraniano ter sido recebido em Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, por Leão XIV que, mais uma vez, ofereceu o Vaticano para receber um encontro entre Kiev e Moscovo.De acordo com o porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yurii Ihnat, quase todos os drones foram abatidos, mas alguns dos seis mísseis hipersónicos lançados pela Rússia causaram danos não especificados. Do outro lado da fronteira, a Polónia ativou durante a noite os seus aviões de combate devido a este ataque, com os sistemas de defesa aérea e de reconhecimento de radiolocalização em terra a serem também colocados em alerta máximo. As medidas, que são comuns em caso de ataques russos à região ocidental da Ucrânia, destinam-se a garantir a segurança nas zonas limítrofes das áreas ameaçadas - o alerta da Polónia durou cerca de duas horas e terminou após a redução do nível de ameaça de ataques com mísseis russos disparados contra o território ucraniano.Este “ataque contundente”, referiu Zelensky, “ocorre precisamente numa altura em que foram feitos tantos esforços para alcançar a paz, para estabelecer um cessar-fogo, e, no entanto, só a Rússia continua a repelir todos eles.”E foi da “urgente necessidade de uma paz justa e duradoura”, segundo um comunicado do Vaticano, que o presidente ucraniano e Leão XIV falaram esta quarta-feira em Castel Gandolfo, onde o papa se encontra de férias. “Durante a cordial conversa, foi reafirmada a importância do diálogo como meio preferencial para pôr fim às hostilidades. O Santo Padre manifestou o seu pesar pelas vítimas e renovou as suas orações e proximidade ao povo ucraniano, encorajando todos os esforços que visem a libertação dos prisioneiros e a procura de soluções partilhadas”, refere o mesmo comunicado. No encontro, prossegue a nota, Leão XIV “reiterou a disponibilidade para receber representantes da Rússia e da Ucrânia no Vaticano para negociações”. Uma oferta que não é nova e que já havia sido rejeitada pelo líder da diplomacia da Rússia, Sergei Lavrov, alegando que não seria apropriado o Vaticano ser palco de negociações entre dois países cristãos ortodoxos.A ofensiva levada a cabo na madrugada de quarta-feira pela Rússia ocorreu depois de Donald Trump ter anunciado que os Estados Unidos iriam voltar a enviar mais armas para Kiev, numa reversão à suspensão ordenada pelo secretário da Defesa norte-americano, Pete Hegseth, e conhecida na semana passada, a qual vários media dizem agora que a Casa Branca não tinha conhecimento.Esta decisão está a ser acompanhada por uma crescente frustração de Donald Trump em relação ao presidente russo. “Putin atira-nos muitas tangas... É muito gentil o tempo todo, mas acaba por não ter significado”, disse o presidente dos EUA na terça-feira, 8 de julho, ao final do dia. Quando questionado sobre que ação poderá levar a cabo contra Putin, respondeu: “Não vos digo. Queremos ter uma pequena surpresa”. De acordo com uma notícia avançada pela CNN, que cita gravações áudio de Trump numa reunião privada de doadores durante a sua campanha eleitoral em 2024, o agora presidente dos Estados Unidos já terá avisado uma vez Vladimir Putin de que “bombardearia Moscovo” se a Rússia atacasse a Ucrânia. “Não posso confirmar ou negar isso, mesmo que quisesse. Se é falso ou não, também não sabemos. Há muitas notícias falsas hoje em dia”, assegurou esta quarta-feira o porta-voz do KremlinDmitry Peskov comentou ainda as mais recentes críticas feitas por Donald Trump a Vladimir Putin referindo que estavam “bastante calmos em relação a isso”. “Também ouvimos uma declaração muito importante de Trump de que a resolução do conflito ucraniano acabou por ser muito mais difícil do que ele pensava desde o início”, acrescentou o porta-voz da presidência russa.O bombardeamento de Moscovo pode não passar de “notícias falsas”, como refere o Kremlin, mas a imposição de sanções à Rússia por parte dos Estados Unidos pode estar perto de se tornar realidade. Donald Trump referiu na terça-feira à noite que está a “analisar” um projeto de lei de sanções do senador republicano Lindsey Graham (em parceria com o democrata Richard Blumenthal), que prevê a imposição de tarifas de 500% aos países que negoceiam com a Rússia.Na semana passada, depois do seu telefonema com Putin, o presidente dos Estados Unidos já havia dito que os dois tinham discutido “muito” as sanções. “Ele compreende que podem estar a chegar”, referiu Trump.Os líderes da maioria republicana no Congresso garantiram esta quarta-feira estarem preparados para avançar com sanções contra a Rússia este mês. “Vladimir Putin demonstrou relutância em ser razoável e falar seriamente sobre a negociação da paz, e penso que temos de lhe enviar uma mensagem, é a minha opinião”, disse o porta-voz da Câmara dos Representantes, Mike Johnson.Esta questão foi levantada esta quarta-feira por Zelensky, referindo que o ataque da noite anterior demonstra a necessidade de “sanções severas” às fontes de rendimento que a Rússia utiliza para financiar a guerra. Assunto que deverá abordar no encontro que terá esta semana em Roma com o enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg..Relação entre EUA e Ucrânia marcada por nova aproximação