Durante a campanha, Donald Trump prometeu que quando regressasse à Casa Branca ia acabar com a guerra da Ucrânia num dia. Mas isso revelou-se mais complicado do que o previsto e, quatro meses depois, parece não haver uma solução à vista. A Ucrânia avisa que o presidente russo está a enganar o norte-americano, cuja impaciência está a crescer e que já ameaçou afastar-se deste problema. Desde que regressou ao poder, o presidente norte-americano revelou ter falado três vezes ao telefone com o homólogo russo, Vladimir Putin. Não oficialmente, o Kremlin admitiu em março que podem ter havido mais contactos entre os dois. Mas do que é que falam e já houve resultados? Primeiro telefonema Data: 12 de fevereiro, depois de o enviado especial da Casa Branca para o Médio Oriente, Steve Witkoff, ter reunido com Putin e ter conseguido a libertação de um norte-americano detido na Rússia.Duração: Uma hora e meiaO que disse Trump: O presidente norte-americano falou de um “longo e produtivo telefonema”, explicando que as negociações para acabar a guerra na Ucrânia iam começar “imediatamente” entre os EUA e a Rússia. A informação sobre o que foi falado não foi avançada pela Casa Branca, mas numa mensagem de Trump na sua rede Truth Social. “Discutimos a Ucrânia, o Médio Oriente, a energia, a inteligência artificial, o poder do dólar e vários outros assuntos”, escreveu Trump, deixando claro que a relação com a Rússia vai para lá do que se passa em Kiev. Sobre a guerra, felicitou-se por Putin usar a sua expressão “senso comum” para defender que é preciso acabar com as mortesO que disse Putin: O Kremlin emitiu um comunicado sobre o telefonema, dizendo que os dois líderes tinham discutido um possível acordo na Ucrânia. “Vladimir Putin salientou que era necessário eliminar as causas profundas do conflito e concordou com Donald Trump que uma solução sustentável só poderia ser alcançada através de negociações pacíficas”, lia-se no texto. O presidente russo apoiou a ideia de que era hora de os dois países trabalharem em conjunto, tendo convidado o norte-americano para visitar Moscovo. Vladimir Putin e Donald Trump concordaram em manter contacto pessoal no futuro, envolvendo em particular reuniões presenciais.Resultado: Kiev e os aliados europeus criticaram a ideia de russos e norte-americanos se sentarem para discutir a paz na Ucrânia sem a presença de representantes ucranianos. Apesar disso, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, acabaria por se reunir, na Arábia Saudita, com o chefe da diplomacia russo, Sergey Lavrov, pondo fim às tentativas ocidentais de isolar Moscovo.Segundo telefonemaData: 18 de março de 2025, mais de duas semanas depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter estado debaixo de fogo na Sala Oval e dias depois de Trump ter proposto um cessar-fogo de 30 dias - que a Ucrânia aceitou. Duração: quase duas horas O que disse Trump: O presidente voltou a relatar o telefonema na Truth Social, falando numa conversa “muito boa e produtiva”, na qual acordou com Putin um cessar-fogo imediato no que diz respeito aos ataques contra infraestruturas energéticas ucranianas. No seu briefing diário, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, falou também de “negociações técnicas sobre a implementação de um cessar-fogo marítimo no Mar Negro” e disse que Trump e Putin concordaram que “um futuro com uma relação bilateral melhorada entre os EUA e a Rússia tem grandes vantagens”, prevendo “enormes acordos económicos e estabilidade geopolítica quando a paz for alcançada”. O que disse Putin: O Kremlin voltou a emitir um comunicado sobre a “troca detalhada e franca de opiniões” sobre a guerra na Ucrânia entre Putin e Trump. O primeiro agradeceu ao segundo pelo “esforço para atingir o nobre objetivo de pôr fim às hostilidades e a perda de vidas”. Segundo o Kremlin, “o presidente da Rússia manifestou a disponibilidade para trabalhar exaustivamente em possíveis soluções em cooperação com os parceiros americanos, visando chegar a um acordo que seja abrangente, fiável e duradouro e, naturalmente, ter em conta a necessidade essencial de eliminar as causas profundas da crise, bem como os legítimos interesses de segurança da Rússia”. Em relação à proposta de um cessar-fogo de 30 dias, os russos colocaram uma série de exigências, nomeadamente “a cessação completa do fornecimento de ajuda militar estrangeira e de informações a Kiev”. Quanto à proposta para parar os ataques a infraestruturas energéticas durante 30 dias, Putin disse ter aceitado e dado ordens imediatas nesse sentido, tendo-se também mostrado favorável a um acordo em relação à segurança de navegação no Mar Negro. Resultado: A Ucrânia destacou o facto de a Rússia não ter aceitado o cessar-fogo de 30 dias proposto por Trump e insistiu em estar presente em qualquer negociação. Quanto ao fim dos ataques a estruturas energéticas, Kiev e Moscovo culparam-se mutuamente de nunca terem parado.Terceiro telefonemaData: 19 de maio de 2025, dias após as primeiras negociações diretas entre russos e ucranianos na Turquia.Duração: mais de duas horasO que disse Trump: O presidente norte-americano, numa mensagem na Truth Social, anunciou que Rússia e Ucrânia vão começar “imediatamente” negociações para um cessar-fogo e o fim da guerra. Não mencionou nada da participação dos EUA nessas negociações, lembrando antes que o papa Leão XIV ofereceu o Vaticano para acolher as negociações. “As condições para tal serão negociadas entre as duas partes, como só podia ser, porque elas conhecem pormenores da negociação que mais ninguém conhece”, escreveu. Trump voltou a insistir que há enormes oportunidades para a relação entre Washington e Moscovo quando a guerra acabar, assim como com Kiev. O que disse Putin: O presidente russo, em declarações aos jornalistas partilhadas pelo Kremlin, falou de uma conversa “substancial” e “bastante sincera”, considerando que, no geral, “foi uma troca muito produtiva”. Disse que agradeceu a Trump o apoio para o retomar das negociações diretas, alegando que foram os ucranianos que as “frustraram” em 2022. “O presidente dos EUA partilhou a sua posição sobre o fim das hostilidades e as perspectivas de um cessar-fogo. Pela minha parte, observei que a Rússia também apoia uma solução pacífica para a crise na Ucrânia. O que precisamos agora é de identificar as formas mais eficazes de alcançar a paz”, indicou.Explicou que a Rússia vai elaborar, e está pronta para envolver a Ucrânia, “um memorando sobre um possível futuro acordo de paz”. Este vai incluir um prazo para um possível cessar-fogo temporário, mas só se houver acordo. Putin insistiu que a posição da Rússia é clara: “Eliminar as causas profundas desta crise é o que mais nos importa”Resultados: A Ucrânia diz que mais uma vez fica provado que Kiev quer a paz e está a trabalhar nesse sentido, mas a Rússia não está interessada, defendendo que devem ser impostas mais sanções a Moscovo. União Europeia e Reino Unido já anunciaram que o vão fazer.