Katherine Soares nasceu em Elizabeth e cresceu na comunidade portuguesa de New Jersey. “Andei na escola comunitária portuguesa, sempre fiz parte de grupos de jovens ligados às associações de cultura e de língua portuguesa, e com o passar do tempo surgiram sempre diferentes formas de me manter ligada à comunidade, não é só aquelas associações tradicionais que fazem sardinhadas e arraiais. E a certa altura descobri a PALCUS [sigla em inglês para Conselho de Liderança Luso-Americano]”, conta-me a também coordenadora de marketing da TAP para a América do Norte à porta do Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, onde participou no Sister Cities Summit organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). Em 2013 torna-se membro desta organização que defende os interesses dos luso-americanos nos EUA e em 2022, aos 41 anos, assume a sua presidência. Composta por voluntários, a PALCUS, fundada em 1991, pretende criar e manter canais de comunicação entre os governos de Portugal e dos EUA, para trabalhar em prol dos interesses dos cerca de dois milhões de portugueses e luso-descendentes que hoje vivem na América. Mas o que faz exatamente a PALCUS? “Entregamos bolsas de estudo, temos vários programas para a juventude, incluindo viagens de imersão, a Heritage Portugal, e temos uma espécie de sub-organização chamada NextGen, dedicada a jovens e aos seus interesses e preocupações. Na NextGen Academy, os jovens têm oportunidade de fazer networking, há guest speakers, estamos focados em manter esta rede”, explica Katherine num excelente português. Mas o grande evento anual é a gala da PALCUS, onde “celebramos o sucesso da comunidade luso-americana a nível nacional”. Para isso, “atribuímos prémios de liderança em vários ramos: jornalismo, medicina, educação, etc, a luso-americanos ou a portugueses radicados nos EUA e que têm feito a diferença no seu ramo profissional. Esta gala tem bastante protagonismo e cobertura mediática porque somos a única organização nacional e é o evento com mais prestígio que a comunidade tem para reconhecer o melhor das nossas raízes.”Com uma direção composta por membros dos quatro cantos dos EUA, a PALCUS tenta garantir que os estados onde a comunidade portuguesa e luso-americana é maior têm representantividade. “Somos uma organização nacional, é óbvio que não podemos ter um diretor em cada estado, mas tentamos ter sempre diretores de onde há uma comunidade mais forte - Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova Iorque, New Jersey. Agora temos dois diretores na Florida, já tivemos três na Califórnia, presentemente só temos dois, e temos um diretor no estado de Oregon, que é um estado onde há uma comunidade transplantada, ou seja, pessoas que saíram da Califórnia”, explica Katherine. A presidente da PALCUS garante que agora há comunidades com peso “no estado de Washington, no Oregon, no Idaho, no Colorado, e até no Texas. Muitas pessoas que saíram da Nova Inglaterra mudaram-se para o Texas, portanto estamos a ver se conseguimos um diretor no Texas. E, quem sabe, um dia no Havai, onde há mais de 90 mil pessoas que dizem ter ascendência portuguesa.”Enquanto organização sem fins lucrativos, a PALCUS não pode ter cor política e Katherine Soares garante que têm trabalhado bem tanto com democratas como com republicanos, do lado americano, e tanto com governos do PS ou do PSD, do lado português. “Graças a Deus temos tido sempre uma boa relação, tanto com a administração americana, seja ela de que cor for, e em Portugal também temos uma muito boa relação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que é o nosso primeiro ponto de contacto, com a embaixada em Washington, ou o secretário de Estado das Comunidades, seja ele ou ela, quem for”, diz. Nos EUA, há neste momento quatro congressistas federais luso-americanos: os democratas Jim Costa, Lori Loureiro Trahan e Eric Swalwell, e o republicano David Valadao..Um democrata e um republicano unidos pelas raízes açorianas e pela fé no sonho americano.Convencida que os jovens luso-americanos têm interesse pelo país dos pais ou dos avós, Katherine sublinha que “é importante que o Governo de Portugal veja à PALCUS como um elo de ligação e que nos use como uma ferramenta crucial para manter essa ligação. Porque nós, de facto, temos uma rede muito extensa e temos a capacidade de divulgar muitas informações”.Filha de açorianosA conversa decorre junto às portas do Teatro Micaelense, aproveitando um intervalo antes de Katherine voltar para dentro para apresentar a intervenção de Daniel Braga, CEO da Defined.ai, sobre Inteligência Artificial. A presidente da PALCUS conta que os pais nasceram não muito longe dali. “Os meus pais são ambos da freguesia de São Roque que fica aqui mesmo ao lado de Ponta Delgada. O meu pai tinha 20 anos quando emigrou com os pais dele e os dois irmãos. Mas já estava noivo com a minha mãe e voltou”, conta. O pai de Katherine demorou seis meses até voltar à ilha de São Miguel para casar com a namorada de há cinco anos. Ela tinha 19. Casaram e foram viver para os EUA. “Os meus pais viveram o sonho americano. O meu pai montou um negócio. A minha mãe ficou os primeiros anos comigo e com a minha irmã gémea a criar-nos em casa. Mas depois começou a trabalhar e mais tarde acabou por terminar os estudos secundários e seguiu para a universidade. Andou a estudar à noite durante dez anos”, vai explicando Katherine, sem esconder o orgulho. E prossegue: “Eu concluí a minha licenciatura com três dias de diferença da minha mãe, mas andávamos em universidades diferentes. Ela formou-se como professora de Educação Especial. Portanto, meu pai é empresário e a minha mãe é licenciada em Educação. Eu diria que fizeram aquilo que queriam fazer nos EUA, que era montar uma vida com mais condições e dar condições às filhas que não eles não tinham tido. Conseguiram dar uma vida com mais possibilidades a mim e à minha irmã”.Formada em Biologia, mas com uma carreira em marketing, Katherine garante que a América permite este tipo de mudança. “Uma das coisas muito boas dos EUA é que a pessoa consegue estudar uma coisa que adora e depois acabar por fazer carreira numa área completamente diferente. Caso tivesse estudado Biologia em Portugal, provavelmente nem podia concorrer a postos de trabalho que nada tivessem a ver com ciências. Mas nos EUA, trabalhei um ano como assistente de laboratório, mas depois virei-me para o marketing e fui subindo e criando currículo.”.“É importante que o português seja visto como uma terceira língua para os hispânicos nos EUA”