O perpetrador sobrevivente do ataque terrorista na Praia Bondi, em Sydney, no domingo, foi interrogado pelas autoridades e indiciado pela prática de 59 crimes. No mesmo dia realizaram-se os primeiros funerais das vítimas e a oposição aumentou o tom das críticas ao primeiro-ministro Anthony Albanese.Saído do coma, Naveed Akram, de 24 anos, foi interrogado pela polícia na cama do hospital três dias depois de ter matado 15 pessoas e ferido dezenas em associação com o pai, Sajid, que foi morto na troca de tiros com as forças de segurança. O homem foi posteriormente ouvido por um magistrado em videoconferência. O despacho de pronúncia lista 59 delitos: ato terrorista, 15 acusações de homicídio, 40 acusações de causar ferimentos graves com intenção de homicídio, disparo de arma com intenção de causar danos corporais graves, posse de explosivos e exibição pública de símbolo de organização terrorista proibida.A próxima audiência em tribunal está marcada para segunda-feira. “A polícia irá alegar em tribunal que o homem se envolveu numa conduta que causou morte, ferimentos graves e pôs a vida em perigo para promover uma causa religiosa e causar medo na comunidade. Os primeiros indícios apontam para um ataque terrorista inspirado no Estado Islâmico [EI], uma organização considerada terrorista na Austrália”, disse a polícia de Nova Gales do Sul, em comunicado. Na véspera, foi revelado que pai e filho passaram o mês de novembro na ilha de Mindanau, nas Filipinas, onde mais do que uma organização islamista se abriga. Uma fonte australiana do combate ao terrorismo disse à ABC que ambos tiveram formação de tipo militar. .Derrotado mas não extinto, Estado Islâmico ressurge da Síria à Austrália.Na quarta-feira, o especialista em terrorismo Levi West disse à mesma estação de TV australiana que, apesar de a força dos grupos terroristas estar diminuída em resultado da luta do Exército filipino, “ainda existe, de forma significativa, capacidade para que pessoas sejam treinadas”, o que, aliás, diz ser possível em todo o tipo de países, EUA incluídos. “É possível que tenham tido acesso a treino tático disponível no mercado; existe também uma possibilidade muito concreta de terem passado tempo num campo de treino jihadista”, alvitrou. O presidente filipino Ferdinand Marcos Jr., através de um assessor, “rejeitou veementemente esta declaração generalizada e a caracterização enganosa das Filipinas como um centro de treino do EI”.As homenagens às vítimas prosseguiram em Bondi, assim como tiveram lugar as primeiras cerimónias fúnebres. O centro judaico daquela localidade foi também palco para os antigos primeiros-ministros Tony Ab- bott e Scott Morrison, bem como para o ministro da Diáspora de Israel, Amichai Chikli , criticarem o governo australiano. “A arma usada no domingo foi o antissemitismo e é isso que tem de ser desarmado”, disse Morrison à agência AAP. O ministro israelita disse que as palavras de ordem de uma manifestação pró-Palestina que teve lugar na ponte do Porto de Sydney levaram ao clima que conduziu ao massacre que aconteceu na Festa das Luzes (Hanucá). Chikli também apontou para a presença de bandeiras do Hamas e do EI e criticou o governo trabalhista de Anthony Albanese de nada fazer. O momento serviu ainda para que o antigo tesoureiro da Austrália e vice-presidente dos liberais Josh Frydenberg, o mais destacado judeu na política daquele país, tenha feito um emocionado discurso apelando a que o governo “conserte” a sociedade depois de ter deixado “a Austrália radicalizar-se nos últimos dois anos e meio”. Frydenberg - que anunciou o seu regresso à política ativa - criticou ainda o governo por ter recebido em julho um relatório da enviada para o Combate ao Antissemitismo, Jillian Segal, e não ter tomado quaisquer medidas recomendadas para a proteção dos judeus.