Oposição denuncia detenções "com motivações políticas" na Venezuela
A oposição venezuelana denunciou no sábado, 19 de julho, que vários cidadãos foram presos pelas forças de segurança nos últimos dois dias e que os presos políticos servem de moeda de troca em “negociações opacas”. “Nos dias 17 e 18 de julho, a Venezuela assistiu a acontecimentos profundamente alarmantes: vários cidadãos foram violentamente retirados das suas casas pelas forças de segurança do Estado, no âmbito de operações levadas a cabo em diferentes regiões do país. Tudo aponta para o facto de estas operações terem, mais uma vez, motivações políticas”, explica um comunicado.
O documento, divulgado pela Plataforma Unitária Democrática (PUD), aliança que reúne os principais partidos da oposição da Venezuela, prossegue afirmando que “com pesar (...) novos venezuelanos passam a engrossar a já longa e trágica lista de prisioneiros de consciência” no país. “Perseguir quem pensa diferente não é justiça, é abuso de poder. E, como tal, condenamos com toda a clareza”, sublinha.
No comunicado, a PUD diz ter recebido com alívio a notícia do regresso à Venezuela de um grupo de compatriotas que tinham sido deportados dos Estados Unidos para El Salvador, “onde permaneciam detidos sem nenhum tipo de garantia de um processo justo”.
“O regresso ao país é sempre um desejo legítimo. Esperamos que os que agiram corretamente - e sabemos que são a maioria - possam em breve reunir-se com as suas famílias e reconstruir as suas vidas em paz e dignidade. No entanto, se algum deles tiver processos judiciais pendentes, deve ser levado à justiça com o devido processo, transparência e pleno respeito pelos direitos humanos”, explica.
Neste âmbito, a oposição diz ter tido também conhecimento de algumas libertações de presos políticos na Venezuela, mas questiona que sirvam de moeda de troca em “negociações opacas”. “E, embora nos congratulemos com cada libertação, porque ninguém deve estar atrás das grades por razões políticas, não podemos ignorar ou ficar calados quando elas se transformam em opacas peças de negociação ou em moedas de troca. Utilizar a liberdade dos seres humanos como moeda de troca é inaceitável, qualquer que seja a sua origem”, sublinha.
A PUD afirma ainda que “nem tudo é justo” e que “manipular a dor das famílias ou celebrar as libertações como troféus, enquanto outros continuam injustamente detidos, é uma afronta à dignidade de todos”.
“A nossa luta é e continuará a ser pela liberdade de todos aqueles que estão injustamente presos (...) Reiteramos o nosso empenho numa verdadeira solução para esta crise e insistimos na urgência de levar a cabo negociações que conduzam a um acordo global: sério, transparente, à face do país e com garantias para todos, que abra verdadeiramente o caminho para uma Venezuela democrática, onde exprimir-se não seja um risco e onde a liberdade não dependa da negociação, mas do pleno exercício do Estado de direito, porque a liberdade não é um privilégio, é um direito”, conclui.
Na sexta-feira, a Venezuela anunciou que tinha chegado a um acordo com Washington para a libertação de 252 venezuelanos que tinham sido deportados dos EUA e que permaneciam detidos numa prisão de alta segurança em El Salvador, a troco de norte-americanos detidos no país.
Também na sexta-feira o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, anunciou que 10 cidadãos norte-americanos, que estavam detidos na Venezuela, foram libertados após um acordo entre os dois países e El Salvador. Rubio adiantou, na rede social X, que o acordo, além da libertação de todos os detidos norte-americanos, prevê a libertação de presos políticos venezuelanos.
Segundo a imprensa venezuelana, o acordo previa a libertação de 80 presos políticos, dos quais quase 30 já saíram em liberdade. Segundo a organização não governamental Foro Penal (FP), em 04 de julho, estavam detidas na Venezuela 940 pessoas por motivos políticos, 844 homens e 96 mulheres, 771 civis e 169 militares.