A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, garantiu ao Comité Nobel Norueguês que iria a Oslo receber pessoalmente o Prémio Nobel da Paz. Mas o cancelar da conferência de imprensa prévia ao evento desta quarta-feira (10 de dezembro) levantou dúvidas sobre se teria conseguido sair da Venezuela, onde vive na clandestinidade há mais de um ano, desafiando Nicolás Maduro e procurando aliados para ajudar a fazer cair o regime. Caracas anunciou que a declararia “fugitiva” caso fosse receber o prémio.Vencedora das primárias da oposição, a ex-deputada descendente de portugueses foi impedida pela justiça de concorrer às presidenciais do verão de 2024. Decidiu então apoiar a candidatura do ex-diplomata Edmundo González, que venceu, segundo as atas eleitorais recolhidas pelos opositores nas várias mesas de voto. Mas Maduro, sem apresentar as atas oficiais ou outras provas, foi proclamado o vencedor. .Corina Machado rejeita novas eleições na Venezuela e oferece ata da oposição para revisão.González, de 76 anos, após mais de um mês escondido na embaixada dos Países Baixos, acabou por escolher o exílio em Espanha, insistindo sempre que regressaria à Venezuela para tomar posse em janeiro. Algo que não conseguiu fazer, optando por continuar a liderar as iniciativas da oposição desde o exterior. Já María Corina Machado, de 58 anos, optou pela clandestinidade e por tentar galvanizar a oposição interna, tendo sido vista pela última vez em público num protesto a 9 de janeiro, em Caracas, contra a tomada de posse de Maduro.A conferência de imprensa de María Corina Machado, que a 10 de outubro foi surpreendida com o anúncio de que tinha vencido o Nobel da Paz, estava prevista para esta terça-feira (9 de dezembro) às 13h00 de Oslo (12h00 em Lisboa). Mas, durante a manhã, o Instituto Nobel anunciou que tinha sido adiada, sem dar justificação, indicando apenas que avisaria com duas horas de antecedência quando fosse remarcada. Mas o aviso que chegou foi do cancelamento da conferência de imprensa.“A própria María Corina Machado declarou em entrevistas o difícil que será a viagem a Oslo, na Noruega. Por isso, neste momento não podemos fornecer mais informações sobre quando e como será a cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz”, disse o Comité Nobel Norueguês em comunicado, sem querer confirmar se a líder da oposição venezuelana vai conseguir ou não estar presente no evento que se realiza esta quarta-feira (10 de dezembro), às 12h00 de Lisboa, na Câmara Municipal de Oslo. Não havia sinal de María Corina Machado, mas a sua família - a mãe, a irmã e os três filhos - estavam na capital norueguesa, esperando poder revê-la. González também viajou para a cerimónia, assim como quatro presidentes latino-americanos do campo da direita - o argentino Javier Milei, o equatoriano Daniel Noboa, o panamense José Raúl Mulino e o paraguaio Santiago Peña. .María Corina Machado vence Nobel da Paz por manter "chama da democracia acesa no meio da crescente escuridão".A opositora venezuelana foi galardoada com o Nobel da Paz deste ano “pelo seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. Mas a escolha de María Corina Machado, que dedicou o prémio ao presidente dos EUA, Donald Trump, que não escondia o desejo de ser ele o galardoado, não é isenta de polémica. Os críticos lembram que a opositora tem apelado a uma intervenção militar norte-americana para afastar Maduro do poder - inclusive exagerando a sua alegada ameaça para os EUA de forma a convencer Donald Trump a intervir (disse, por exemplo, que o presidente venezuelano interferiu nas eleições de 2020).Maduro está na mira de Trump, que alega estar a lutar contra o narcotráfico - os EUA acusam o venezuelano de liderar um cartel de droga, declarado terrorista. Washington tem levado a cabo vários ataques a lanchas alegadamente cheias de droga que teriam como destino os EUA, causando mais de 80 mortos. Numa entrevista ao site Politico publicada esta terça-feira (9 de dezembro), Trump declarou que Maduro “tem os dias contados”, não descartando uma possível operação militar na Venezuela.