Desejo expansionista de Trump vai do Canal do Panamá à Gronelândia.A ideia de comprar a Gronelândia lançada por Donald Trump há seis anos, durante o seu primeiro mandato, e agora nas vésperas do seu regresso à Casa Branca, pode parecer “absurda”, como foi classificada em 2019 por Mette Frederiksen, a primeira-ministra da Dinamarca, mas a verdade é que o republicano não é o primeiro presidente dos Estados Unidos a tentar fazê-lo. Em 1868, um ano depois de comprar o Alasca à Rússia, Andrew Johnson encomendou um relatório favorável sobre a Gronelândia como investimento, sendo que em 1946, na ressaca da Segunda Guerra Mundial, Harry S. Truman ofereceu 100 milhões de dólares em barras de ouro à Dinamarca pelo seu território autónomo, alegando que era “uma necessidade militar”.Um argumento que não difere muito do apresentado por Donald Trump em finais de dezembro, ao referir que “para efeitos de segurança nacional e liberdade em todo o mundo, os Estados Unidos da América consideram que a propriedade e o controlo da Gronelândia são uma necessidade absoluta”.Comecemos por um conceito básico, a geografia. Embora mais associada à Europa, por ser um território autónomo da Dinamarca, a Gronelândia fica na América do Norte, entre o Ártico e o Canadá, sendo o caminho mais rápido entre os dois continentes, o que é estrategicamente importante para os EUA. O que se comprova com o facto de Washington ter presença militar na maior ilha do mundo desde a Segunda Guerra Mundial, com várias bases - incluindo uma instalação nuclear secreta durante a Guerra Fria -, entretanto abandonadas, só restando a Base Aérea de Thule.Ponto segundo do interesse norte-americano, as riquezas naturais. A Gronelândia faz parte do Ártico, estimando-se que 13% das reservas de petróleo e 30% do gás não descobertos estejam sob esta região gelada. Acredita-se ainda que existam muitos recursos minerais no subsolo do território dinamarquês, incluindo carvão, zinco, cobre e urânio. E depois, o potencial do próprio território: estamos a falar de cerca de 2,1 milhões de quilómetros quadrados onde vivem apenas cerca de 57 mil pessoas. “Essencialmente, é um grande negócio imobiliário. Muitas coisas podem ser feitas”, disse Trump em 2019.Esta terça-feira, o seu filho mais velho, Don Jr., esteve no território, mas sem programa oficial, dizendo que estava apenas a fazer turismo. Mas foi o suficiente para quebrar o atual silêncio de Mette Frederiksen, ainda primeira-ministra da Dinamarca, sobre a nova investida de Trump, garantindo que o território “não está à venda”, mas que “vista através dos olhos do governo dinamarquês, a Gronelândia pertence aos gronelandeses” e “apenas eles podem definir o seu futuro”. ana.meireles@dn.pt