Os Estados Unidos estarão disponíveis para partilhar informações com os ucranianos sobre ataques a alvos a longa distância e inclusive fornecer os mísseis, ainda que de forma indireta. Este é o resultado do último encontro entre os líderes dos dois países, durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, no dia 23 de setembro. Uma fonte da Casa Branca descreveu a medida ao Financial Times como "uma mudança sísmica de atitude" no círculo de Donald Trump.Depois de o Telegraph e de o Wall Street Journal terem avançado com aquelas notícias, foi o próprio Volodymyr Zelensky quem confirmou o teor de parte da reunião com Donald Trump, na quinta-feira, em Copenhaga. "Vamos ver. Tudo depende da sua decisão", disse o ucraniano sobre o norte-americano à margem da cimeira da Comunidade Política Europeia. Zelensky descreveu a reunião tida no edifício das Nações Unidas como "muito boa". Foi na sua sequência que o norte-americano escreveu uma mensagem surpreendente no Truth Social, na qual quebrou com a sua visão crítica quanto ao papel da Ucrânia e disse que o país sob invasão pode ganhar a guerra e recuperar todo o território. A esse propósito, as relações pessoais de Trump com Zelensky estarão muitos pontos acima da quase rutura a que o mundo assistiu no infame encontro de fevereiro na Casa Branca, do qual o ucraniano saiu humilhado. No entanto, há quem garanta que o responsável por esta mudança se chame Charles Philip Arthur George, conhecido pelos portugueses como Carlos III. .Trump nunca escondeu o quanto gosta da família real inglesa e a visita de Estado, ocorrida na semana anterior à reunião de Trump com Zelensky, inédita por ser o primeiro líder convidado duas vezes, entre a pompa e o galanteio, terá surtido efeito. O monarca é um sólido apoiante da Ucrânia, tendo recebido Zelensky pouco depois do incidente na Casa Branca e de novo em junho. A operação de charme, avançada pelo Politico, foi creditada por Kiev ao sucessor de Isabel II. Quem o disse foi o influente chefe de gabinete da presidência ucraniana Andriy Yermak, em declarações ao Telegraph. .O mesmo diário londrino revelou que, na referida reunião em Nova Iorque, Zelensky pediu a Trump para que esta forneça os mísseis de cruzeiro Tomahawk, tendo argumentado que esta seria a melhor forma para se aproximar do fim da guerra. A mesma notícia citava o secretário de Estado Marco Rubio a afirmar que o presidente dos EUA estava "muito irritado" pelo facto de Vladimir Putin não se deter, ignorando os seus apelos. E que a mudança de tom de Trump quanto ao tema devia ser visto pelos europeus de forma "tão positiva quanto possível".E qual foi a resposta de Trump? Segundo o The Wall Street Journal, nenhuma decisão sobre os mísseis foi tomada, porém está igualmente a ser considerada a transferência de outros sistemas norte-americanos lançados a partir de terra e do ar, com alcances de cerca de 800 quilómetros. Outro míssil em avaliação é o Barracuda, um novo míssil com várias configurações, e cujo modelo de topo tem um alcance de 900 quilómetros. A sua grande vantagem em relação ao Tomahawk é o preço: cerca de 200 mil dólares por unidade, quando a Marinha dos EUA tem comprado cada Tomahawk pelo preço médio de 1,3 milhões de dólares. Mas o Tomahawk, ao serviço desde meados dos anos 80, já provou em teatros de guerra a sua eficácia e o quanto é certeiro. Além disso, tem um alcance de até 2500 quilómetros e transporta uma carga explosiva de 450 quilos, dez vezes mais do que o Barracuda.Não por acaso, quando Zelensky tentou convencer os aliados (e em especial Joe Biden) do seu plano de vitória, os Tomahawks faziam parte dos seus dez pontos. Com este míssil, as forças ucranianas poderiam dar um golpe decisivo nas infraestruturas energéticas russas, já abaladas pelos ataques de drones. Segundo uma contagem do Financial Times, pelo menos 16 das 38 refinarias russas foram atingidas desde agosto, algumas das quais de forma repetida. O regime de Vladimir Putin, que alimenta o esforço de guerra com os proveitos da venda de petróleo e gás, está a sofrer enormes perdas, além de as petrolíferas não conseguirem abastecer o mercado interno de forma regular. Além disso, mísseis de longo alcance permitem atingir alvos militares de forma mais decisiva do que com os drones, pondo em xeque postos de comando, paióis, centros logísticos ou bases aéreas. Esse trabalho foi feito em certa medida pelos mísseis balísticos ATACMS ou pelos mísseis de cruzeiro Storm Shadow/Scalp, mas a sua escassez (e alcance muito menor) impedem o avanço russo como pretendido. A indústria de drones ucraniana desenvolveu-se como nenhuma outra, mas a capacidade de destruição e a eficácia destes aparelhos não é comparável à de um míssil de longo alcance. No entanto, segundo fontes consultadas pela Reuters, a decisão militar norte-americana deverá ser desfavorável, sendo esperado que aleguem a necessidade de manter o stock de um míssil cuja produção anual se fixa na casa das dezenas. Seja Tomahawk, Barracuda ou tipo de míssil, o certo é que os mísseis serão vendidos ao abrigo do novo mecanismo PURL, a sigla em inglês para Lista de Requisitos Prioritários da Ucrânia, esquema através do qual as armas são retiradas dos stocks dos EUA através de fundos de outros países da NATO, os quais por sua vez entregam o material de guerra a Kiev. Em paralelo, os Estados Unidos preparam-se para fornecer informações para apoiar ataques com mísseis, depois de Trump ter dado luz verde ao Pentágono e às agências de serviços secretos para ajudarem Kiev na realização de ataques no território russo. Ao que as fontes disseram ao The Wall Street Journal, esta partilha de informações permitirá à Ucrânia atingir de forma mais eficaz refinarias de petróleo, oleodutos, centrais elétricas e outros alvos. Um serviço que, segundo o Financial Times, já está a ser prestado pelo Reino Unido.Como em cada novo equipamento militar disponibilizado a Kiev surgem sempre as mesmas questões: a escalada do conflito e a potencialidade que traz para virar o tabuleiro. O enviado à Ucrânia Keith Kellogg mostra-se otimista ("É aqui que têm a oportunidade de desafiar os russos de forma muito mais agressiva", "Usem a capacidade de atingir em profundidade. Não existem locais invioláveis"). Do lado russo, o ex-presidente Dmitri Medvedev acenou de pronto com a hipótese de "armas de destruição maciça" virem a ser usadas devido à interferência dos EUA. Já Putin, sem querer uma rutura com Trump, usou outros termos, ao dizer que a entrega de mísseis e a partilha de informações pressupõe "uma nova escalada nas relações com os Estados Unidos», uma vez que é "impossível utilizar os Tomahawk sem que pessoal norte-americano participe diretamente"..Ataque de drones russos faz 30 feridos em estação de comboio na Ucrânia.Aeroporto de Munique retoma operação após voos suspeitos de drones, mas há atrasos