Pelo menos 134 pessoas morreram desde segunda-feira nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique.
Pelo menos 134 pessoas morreram desde segunda-feira nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique.EPA/PAULO JULIAO

Mortes continuam a subir em Moçambique, morgue do hospital de Maputo está cheia

Plataforma Decide diz que a expansão de novos focos de protestos, saques e a agitação em cadeias causaram o aumento do número de óbitos nesta vaga de manifestações pós-eleitorais. Daniel Chapo alerta para o “desemprego e miséria” causado pelo vandalismo.
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Pelo menos 134 pessoas morreram desde segunda-feira nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique, elevando a 261 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 573 baleados, segundo novo balanço feito esta sexta-feira pela plataforma eleitoral Decide. No dia anterior os números relativos a esta semana apontavam para 125 óbitos. Já o Hospital Central de Maputo anunciou que a sua morgue está com a capacidade esgotada. 

De acordo com o mais recente balanço da Decide, com dados até ao final de quinta-feira, só em quatro dias morreram 36 pessoas na cidade de Maputo e 20 na província, no sul do país, além de 34 em Nampula (norte), e 33 em Sofala (centro). Ainda desde segunda-feira, esta ONG contabilizou 228 pessoas baleadas, das quais 62 na cidade de Maputo e 37 na província de Maputo, bem como 43 em Nampula e 65 em Sofala.

Moçambique vive desde segunda-feira em tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais de 9 de outubro, marcados nos dias anteriores por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo. Desde 21 de outubro, quando começou a contestação, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 573 pessoas baleadas em todo o país, além de 261 mortos e seis desaparecidos. Somam-se ainda 4199 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 161 dos quais desde segunda-feira.

“A existência de diversas frentes de manifestações em diversa escala até em locais improváveis, como a cidade da Beira, Dondo e Mafambisse [centro do país] (...) e os episódios registados nos estabelecimentos comerciais, nas cadeias também causaram este número de mortes”, declarou à Lusa o presidente da Decide, Wilker Dias, acrescentando que os casos de óbitos após ferimentos por bala aumentaram, sobretudo em locais onde os protestos foram mais intensos. 

A Polícia da República de Moçambique anunciou que uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas na quarta-feira em resultado de uma rebelião na cadeia regional de Mabalane, na província de Gaza (sul). Um incidente que ocorreu depois de cerca de 20 reclusos incendiarem quatro pavilhões, para tentar fragilizar o sistema de segurança e colocar em liberdade cerca de 300 reclusos para se juntarem aos manifestantes que protestam contra os resultados eleitorais quase por todo o país.

Também na quarta-feira, pelo menos 1534 reclusos evadiram-se da Cadeia Central de Maputo, com o comandante-geral da polícia a dizer que se tratou de uma ação “premeditada” e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais em que morreram 33 pessoas. 

O Hospital Central de Maputo, a maior unidade de saúde do país, anunciou que a sua morgue “esgotou a sua capacidade de corpos”. “Temos uma capacidade de 30 frigoríficos, mas neste caso estamos com 31, o que quer dizer que estamos com um corpo a mais em relação a o que é a nossa capacidade”, disse Dino Lopes, diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, apontando que alguns corpos foram transferidos para uma outra morgue no município visando minimizar a enchente.

O candidato presidencial da Frelimo e declarado vencedor pelo Conselho Constitucional, Daniel Chapo, lamentou as mortes durante confrontos com a polícia em contestação dos resultados eleitorais, alertando para “desemprego e miséria” face ao vandalismo e destruições.

com Lusa

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