Mondlane já está em Moçambique. "Não posso estar protegido quando o povo está a ser massacrado"
Facebook / Venâncio Mondlane

Mondlane já está em Moçambique. "Não posso estar protegido quando o povo está a ser massacrado"

Depois de mais de dois meses no exílio, o candidato presidencial Venâncio Mondlane chegou a Maputo. Acusou o "regime" de levar a cabo "uma espécie de genocídio silencioso" e prometeu "continuar a luta" pelo país "até às últimas consequências".
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O candidato presidencial Venâncio Mondlane já está em Moçambique depois de mais de dois meses no exílio. "Não posso estar protegido quando o próprio povo, que está no suporte da minha candidatura, dos meus valores está a ser massacrado", declarou esta quinta-feira à chegada a Maputo.

"Independentemente de todos os riscos associados, eu quero estar aqui, quero fazer a luta neste país e vou até às últimas consequências para continuar a lutar por este país", assegurou no aeroporto de Maputo, durante uma conferência de imprensa.

Afirmou que o regresso a Moçambique tem como objetivo "quebrar a narrativa de que o diálogo não tinha a participação de Venâncio, porque estava fora do país". "Tinha que quebrar essa narrativa de que estou ausente por vontade própria das iniciativas de diálogo", disse.

"Estou aqui presente, em carne e osso, para dizer que se se querem negociar, dialogar comigo, se quiserem ir à mesa das conversações eu estou aqui", afirmou Mondlane, referindo que o seu regresso a Moçambique é uma "decisão unilateral", que não resulta "de nenhum acordo político".

"Estou aqui em Moçambique porque apercebo-me de que o regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de genocídio silencioso. As pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, as pessoas estão a ser executadas extra-judicialmente nas matas, estão a ser descobertas as valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane", denunciou o líder da oposição.

Venâncio Mondlane disse que regressa ao país também para mostrar que está "disponível" para responder à justiça. "Para defender-me perante a justiça e provar quais são os verdadeiros responsáveis dos crimes hediondos que aconteceram até hoje", referiu.

O líder da oposição de Moçambique garantiu que não vai fazer parte de nenhum executivo que resulte das eleições de 9 de outubro. "Não estou disposto a aceitar resultados eleitorais se forem os mesmos anunciados até este momento. A única função que estou a disponível a assumir é a de defender este povo, é de lutar por este povo, lutar pela verdade, pela justiça. Eu não fiz esta luta toda para ser chefe, para ter benefícios", garantiu.

Mondlane deixou o aeroporto, sob um forte dispositivo de segurança, em direção ao centro da capital moçambicana e a comitiva está a ser acompanhada por centenas de pessoas a pé.

Mais tarde, quando o candidato presidencial falava para os apoiantes, na zona do Mercado Estrela, no centro de Maputo, em que simbolicamente voltou a prestar juramento do que autointitulou tomada de posse, ocorreu uma carga policial que provocou a fuga generalizada. A polícia dispersou a multidão com tiros e gás lacrimogéneo.

"Quando chegámos aqui a polícia veio com rajadas. Mataram um, dois, três. A bala está aqui", afirmou um dos apoiantes, Nélson Fumo, revoltado, ainda no Estrela.

Seguiram-se momentos de caos, com rajadas de tiro e novos lançamentos de gás lacrimogéneo, depois de um cortejo com milhares de pessoas a acompanharem o carro de Venâncio Mondlane do aeroporto até ao centro de Maputo.

"Que nos matem todos, menos o nosso presidente", afirmou Nélson Abrenjare, outro apoiante, logo após a carga policial, acrescentando o objetivo: "Para repormos a verdadeira liberdade, isto não tem nada a ver com liberdade".

Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

*Com Lusa

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As incógnitas do regresso anunciado a Moçambique de Venâncio Mondlane

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