A Moldávia vai hoje às urnas para escolher o novo presidente e responder a um referendo sobre a adesão à União Europeia, dois atos eleitorais que vão definir se o futuro do país passa por uma aproximação a Bruxelas ou a Moscovo. .No que diz respeito às presidenciais, a atual chefe de Estado, a pró-europeia, Maia Sandu, vai tentar conquistar um segundo mandato, mas se nenhum dos 11 candidatos obtiver mais de 50% dos votos, a eleição irá a uma segunda volta a 3 de novembro. .As sondagens mostram que Sandu deverá garantir a vitória já hoje, derrotando os outros dez candidatos, mas uma eventual segunda volta das presidencial poderá trazer surpresas. Neste cenário, o adversário mais provável da atual presidente deverá ser o antigo procurador-geral Alexander Stoianoglo, fortemente apoiado por partidos pró-Rússia..Um resultado mais fraco da chefe de Estado poderá colocar ainda o Partido de Ação e Solidariedade - formação de centro-direita fundada por Sandu em 2016 - numa situação instável e fazê-lo perder a maioria nas legislativas do próximo ano..Hoje realiza-se também um referendo sobre a adesão desta antiga república soviética à União Europeia. Se o “sim” vencer, a entrada no bloco europeu ficará consagrada como objetivo estratégico na Constituição do país. Se o “não” obtiver mais votos, Chisinau ficará mais próxima de Moscovo e mais distante de Bruxelas, representando ainda um golpe na reputação política de Sandu. .Uma sondagem do Centro de Investigações Sociológicas CBS-AXA prevê que 63% dos moldavos apoiem a adesão à União Europeia. Chisinau pediu a adesão à UE em março de 2022, pouco depois da invasão russa da Ucrânia, e recebeu o estatuto de candidato em junho do mesmo ano. O Conselho Europeu decidiu abrir negociações de adesão com a Moldávia em dezembro, ao mesmo tempo da Ucrânia..“O resultado tanto do referendo como das eleições presidenciais será sentido para além das fronteiras da Moldávia. É um teste entre a capacidade do Kremlin de distorcer com sucesso as decisões dos eleitores e os esforços coletivos dos governos ocidentais e das empresas de redes sociais para frustrar essa ameaça”, escreveu o antigo jornalista Mark Scott numa análise do think tank Atlantic Council..De acordo com as autoridades moldavas, a Rússia terá gastado 100 milhões de dólares (cerca de 92 milhões de euros) para operações de influência local, apoio financeiro a políticos pró-Kremlin e ataques cibernéticos. Mark Scott explica na mesma análise que este investimento do Kremlin passa por “canais anónimos do Telegram, em russo, que espalham informações falsas sobre a política moldava; campanhas secretas que enganaram celebridades americanas para que criticassem Sandu; e, mais recentemente, os esforços de Ilan Shor - um oligarca local pró-Rússia sob sanções dos EUA e da UE - para pagar aos moldavos para votarem ‘não’ no referendo” de hoje. Foram ainda divulgados rumores online como a possibilidade de os F-16 ucranianos poderem, em breve, passar a ficar em bases da Moldávia, ou que uma maior aproximação à UE tornaria obrigatória a disciplina de educação sexual nas universidades..A Rússia já ameaçou também várias vezes a Moldávia, dizendo que a situação do país é comparável à da Ucrânia antes da invasão e sugerindo que Chisinau pode ser agredida se mantiver a sua trajetória pró-Ocidente..ana.meireles@dn.pt