Milhares de pessoas saíram este sábado à rua em Valência, mas também noutras cidades de Espanha, para mostrar a sua indignação e pedir a demissão imediata do presidente da Generalitat Valenciana, Carlos Mazón, e do seu executivo por “não terem sabido gerir” a tragédia que se abateu na região depois das cheias de final de outubro..No início da manifestação ocorreram incidentes em frente à Câmara Municipal, onde um grupo de jovens atirou lama, o que exigiu a intervenção da tropa de choque. Posteriormente, no final da manifestação, lama, cadeiras e outros objetos foram novamente atirados contra os agentes policiais, que intervieram novamente. Alguns manifestantes tentaram também atear fogo ao edifício da Câmara..O último balanço da DANA, como é chamado o fenómeno meteorológico, aponta para 220 mortos (212 na Comunidade Valenciana, sete em Castela-La Mancha e um na Andaluzia), tendo sido resgatadas 36721 pessoas, 64 entre sexta e sábado. .“Mazón, demissão”, “Nós manchados de lama, vocês manchados de sangue”, “Mazón, o teu povo repudia-te, nem esquecimento, nem perdão” ou “Onde estava Mazón enquanto o povo se afogava?” eram alguns dos slogans que podiam ser lidos nas faixas empunhadas durante a marcha em Valência..“Mostraram ser incompetentes. Não merecem liderar a vida dos valencianos. Não souberam gerir uma catástrofe natural, não souberam alertar-nos a tempo, não souberam organizar a ajuda de limpeza e recolha de material e, claro, que não serão capazes de organizar a reconstrução que necessita o nosso País Valenciano. Portanto, devem ir para casa, já”, declarou uma das porta-vozes da manifestação, citada pela Europa Press..A ideia inicial era que esta manifestação fosse silenciosa, em homenagem às vítimas da tragédia, mas os gritos “Mazón, demissão” acabaram por ecoar nas ruas de Valência - a marcha atravessou o centro da cidade, terminando em frente ao palácio da presidência da Comunidade Valenciana, em cuja fachada alguns manifestantes espalharam lama e fumos negros. Segundo contas do governo regional, eram 130 mil pessoas. .Depois do lançamento de sinalizadores contra o palácio da Generalitat, vários agentes da Polícia Nacional formaram um cordão de segurança à porta do edifício, tendo havido alguns confrontos, segundo o El País. .O ponto final da manifestação ficou marcado ainda pela leitura de um manifesto com críticas a Mazón, mas também ao primeiro-ministro Pedro Sánchez e ao governo espanhol, que “deveria ter pressionado de forma contundente e imediata o Executivo valenciano devido à sua inacção e intervir com todas as suas tropas disponíveis e ajudar os cidadãos a reconstruir as suas vidas”..Este sábado, o presidente da Generalitat Valenciana acusou a ministra da Transição Ecológica, Teresa Ribera, de não “estar interessada na situação” causada pela DANA “até às 20.00 de terça-feira, 29 de outubro”. “Eu perguntaria à ministra: teve de vir o alerta de cheias?” disse Mazón, em resposta a Ribera, que, na sexta-feira, garantiu que só conseguiu falar com ele cerca das 19.30, depois de ligar “quatro vezes” face à preocupação do Centro de Coordenação de Emergências de Valência com a “dificuldade” na tomada de decisões e a “gravidade da situação”. .Mazón é também criticado por nesse dia ter tido um almoço de trabalho, a partir das 15.00, com uma jornalista, e que esse compromisso o teria afastado da tomada de decisões, mas ontem garantiu que durante e depois da refeição esteve “informado da evolução da DANA”.