A antiga chanceler alemã Angela Merkel criticou esta quinta-feira o seu partido, a CDU, por ter aproveitado no dia anterior o apoio da AfD para conseguir fazer aprovar no Parlamento uma moção que visa limitar as políticas de migração e asilo do país, quebrando assim um cordão sanitário que existia no país até agora em relação à extrema-direita. Em vésperas de legislativas antecipadas, marcadas para 23 de fevereiro, a CDU surge em primeiro nas sondagens, seguida da AfD, com o SPD do chanceler Olaf Scholz em terceiro.Num raro comunicado desde que abandonou a vida política em 2021, Angela Merkel lembrou que o atual líder da CDU, Friedrich Merz, tinha-se comprometido em novembro a impedir que a Alternativa para a Alemanha (AfD) tivesse um papel decisivo nas votações no Parlamento. “Esta proposta e o posicionamento a ela associado foram uma expressão de grande responsabilidade política do Estado, que apoio integralmente”, sublinhou a antiga chanceler, referindo achar “errado [Merz] não se sentir mais vinculado a esta proposta”. E lembra que o quebrar dessa promessa levou a uma primeira “maioria com votos da AfD numa votação no Parlamento alemão”.Na quarta-feira, Merz viu a moção que apresentou para limitar a imigração na Alemanha ser aprovada por três votos, vitória só conseguida graças à AfD. No debate que antecedeu a votação, durante o qual foi criticado pela quebra do tabu em relação à extrema-direita, o líder da CDU garantiu que se as suas moções tivessem o apoio da AfD ficaria “extremamente desconfortável”, mas que “uma decisão correta não se torna errada só porque as pessoas erradas concordam”.Para a editora de política da Deutsche Welle, Michaela Küfner, as críticas feitas por Merkel, que é uma figura política ainda muito respeitada na Alemanha, poderão vir a prejudicar a posição de Merz dentro da CDU e não só. “A sua condenação direta de que ele está ‘errado’ ao aceitar votos do partido de extrema-direita AfD alienará os eleitores literalmente à esquerda, à direita e ao centro”, escreveu no X. “A menos que a sua estratégia seja agora rapidamente validada através de um forte aumento nas sondagens para a sua conservadora CDU/CSU e da queda do apoio à AfD, Merz ficará preso ao rótulo de traidor do centro democrático”, disse ainda Küfner, afirmando que “as próximas semanas serão um momento de verdade para a CDU conservadora e para a Alemanha”.