No mesmo dia, Paris foi palco de três iniciativas políticas que acabaram todas por girar em torno da condenação de Marine Le Pen a quatro anos de prisão e cinco anos de inelegibilidade por desvio de fundos públicos. Mas foi ao participar em videoconferência no congresso da Liga, o partido de extrema-direita italiano de Matteo Salvini, que se ouviu a mensagem mais surpreendente. A líder de facto da Reunião Nacional, partido com um passado fértil em casos de racismo e xenofobia, comparou-se ao pastor norte-americano que lutou contra a segregação racial. “Seguiremos o exemplo de Martin Luther King, que defendeu os direitos civis, porque o que está em causa são os direitos civis do povo francês”, afirmou.Num palanque dotado de uma bancada com dezenas de dirigentes do partido por trás e tendo como pano de fundo a catedral onde repousam os restos mortais de Napoleão, Marine Le Pen insistiu na tese de que a condenação do coletivo de juízes, na última segunda-feira, não passou de uma “decisão política” que “não só desrespeitou o Estado de Direito, mas também o Estado de Direito democrático”. .64por cento dos franceses não querem que a pena de inelegibilidade numa condenação em primeira Instância seja suprimida, segundo sondagem Ifop para o Ouest France.. Disse depois não pedir para estar acima da lei, mas também para não estar abaixo. Num piscar de olhos a Donald Trump, que na sexta-feira publicou uma mensagem a pedir a sua “libertação” utilizando uma das expressões que mais repete, “caça às bruxas”, Le Pen repetiu-a e prometeu manter o objetivo de concorrer, pela quarta vez, às eleições presidenciais. “Não desistirei. Esta decisão espezinhou o meu povo, o meu país e a minha honra”, disse perante 7 mil pessoas, segundo a polícia..49Por cento dos franceses gostariam que Le Pen fosse candidata à presidência, segundo sondagem Ifop para a Sud Radio. No entanto, apenas 37% creem que poderá vir a ser candidata.. Num encontro do partido do presidente Emmanuel Macron, Renascimento, o ex-primeiro-ministro Gabriel Attal classificou Marine Le Pen de “groupie do trumpismo” e chamou a atenção para “uma ingerência sem precedentes”, referindo-se aos apoios internacionais que recebeu, de Vladimir Putin a Viktor Orbán. Attal criticou os ataques aos juízes por parte da extrema-direita e garantiu não viabilizar a proposta de Éric Ciotti - ex-líder dos Republicanos e aliado de Le Pen - de alterar a legislação para pôr termo à pena de inelegibilidade imediata. “Se roubas, pagas, sobretudo se fores um responsável político”, disse o líder da bancada parlamentar do partido centrista na Cité du Cinéma, nos subúrbios da capital.. No centro de Paris, na Praça da República, umas 5 mil pessoas juntaram-se numa contramanifestação convocada pela França Insubmissa (LFI) e pelos Ecologistas. “Não basta usar gravata na Assembleia Nacional”, disse o coordenador da LFI Manuel Bompard. “É um partido perigoso para a democracia e perigoso para o Estado de Direito. É um partido violento que chega a ameaçar os juízes quando não gosta das decisões tomadas pelos tribunais”, disse.